Oswald de Andrade

Oswald de Andrade foi uma das mentes mais brilhantes do modernismo brasileiro. Contrário aos padrões literários e artísticos do romantismo e do parnasianismo, ele compôs uma obra irônica, humorística, com extrema liberdade formal, que revisita o passado histórico do Brasil sem o idealismo de antes.

A defesa desse estilo foi sistematizada em duas importantes obras teóricas de sua autoria, as quais estabeleciam novos padrões estéticos para a literatura e serviram de base para a consolidação do modernismo brasileiro:

  • o Manifesto da poesia pau-brasil (1924) e
  • o Manifesto antropofágico (1928).

Leia também: Mário de Andrade – outro grande nome da primeira fase modernista no Brasil

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Biografia de Oswald de Andrade

Oswald de Andrade, cujo nome completo era José Oswald de Sousa de Andrade, nasceu na cidade de São Paulo, em 11 de janeiro de 1890. Foi um dos fundadores do modernismo brasileiro, tendo sido um dos principais organizadores da Semana de Arte Moderna, que ocorreu em 1922, na cidade de São Paulo, marco inicial desse movimento.

Filho único de um rico casal de ascendência portuguesa, formou-se em Direito no Largo São Francisco, em 1919, mas destacou-se mesmo como poeta, escritor, ensaísta e dramaturgo.

Antes de formar-se, já tinha uma vida intelectual agitada: em 1909, por exemplo, iniciou carreira no jornalismo como redator e crítico teatral do Diário Popular. Em 1910 montou um ateliê de artes com o pintor Oswaldo Pinheiro, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.

Em 1912, viajou à Europa, onde visitou vários países, como Itália, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, França e Espanha. Na França conheceu uma estudante, Henriette Denise Boufflers, com quem regressou ao Brasil e com quem teve um filho. 

Em 1914, tornou-se bacharel em Ciências e Letras, pelo Colégio São Bento, e fez um curso de Filosofia no Mosteiro de São Bento, São Paulo. Colaborou na revista Contemporânea, entre 1915 e 1926, e foi autor dos dois mais importantes manifestos modernistas brasileiros, os quais estabeleceram os principais princípios estéticos desse movimento: o Manifesto da poesia pau-brasil (1924) e o Manifesto antropófago (1928).

Além dessas publicações teóricas, é de autoria de Oswald de Andrade o livro de poemas intitulado Pau-brasil, publicado em 1925, considerado um dos marcos de ruptura entre a estética romântica e a estética modernista da poesia.

De 1926 a 1929, foi casado com Tarsila do Amaral. O famoso quadro Abaporu, uma das mais importantes obras brasileiras, foi feito por ela e dado a Oswald de Andrade como presente de aniversário.

De 1930 a 1935, foi marido da escritora Pagu, com quem se casou em uma cerimônia pouco convencional no Cemitério da Consolação, em São Paulo, e com quem teve um filho. Depois de separar-se de Pagu, casou-se, em 1944, com Maria Antonieta D'Alkmin, com quem teve um casal de filhos.

Oswald de Andrade faleceu aos 64 anos, em 22 de outubro de 1954, vítima de um infarto

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Características das obras de Oswald de Andrade

  • Valorização da linguagem próxima à oralidade do português do Brasil por meio da subversão de algumas regras da gramática normativa;
  • Revisitação do passado histórico nacional de forma crítica e humorística;
  • Uso do verso livre nos poemas;
  • Composição de poemas-piadas, caracterizados pela concisão e pelo tom de humor;
  • Busca pela construção de uma identidade brasileira, mas sem o nacionalismo exagerado do romantismo;
  • Valorização de elementos das vanguardas europeias, incorporando-as na realidade nacional;
  • Oposição às características do romantismo e do parnasianismo.

Veja também: Manuel Bandeira – poeta que partiu do simbolismo ao modernismo

Obras de Oswald de Andrade

→ Poesia

  • Pau-brasil (1925)
  • Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927)
  • Cântico dos cânticos para flauta e violão (1942)
  • O escaravelho de ouro (1946)
  •  O cavalo azul (1947)
  •  Manhã (1947)
  • O santeiro do mangue (1950)

→ Romance

  • Os condenados (trilogia) (1922-1934)
  • Memórias sentimentais de João Miramar (1924)
  • Serafim Ponte Grande (1933)
  • Marco zero I - a revolução melancólica (1943)
  • Marco zero II - chão (1945)

     → Teatro

  • 1916: Mon coeur balance - leur âme - histoire de la fille du roi (parceria com Guilherme de Almeida) (1916)
  • O homem e o cavalo (1934)
  • A morta pelo homem (1937)
  • O rei da vela (1937)

Poemas de Oswald de Andrade

Erro de português

Quando o português chegou

debaixo duma bruta chuva

vestiu o índio

que pena!

fosse uma manhã de sol

o índio tinha despido o português.

No poema “Erro de português”, Oswald de Andrade explora uma importante característica do modernismo: a revisitação do passado histórico brasileiro. No entanto, essa volta ao passado dá-se de forma crítica, já que o período rememorado, o colonial, é apresentado sem idealismo. A voz poética conduz o leitor à reflexão sobre o equívoco do colonizador em impor sua cultura e seus hábitos aos habitantes originários do território.

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas

E quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas

Eu quero tudo de lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo

Sem que veja a Rua 15

E o progresso de São Paulo.

No poema “Canto de regresso à pátria”, é nítida a intertextualidade com um dos mais famosos poemas do romantismo brasileiro: a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias. Nesse poema romântico, publicado na obra Primeiros cantos, de 1857, há a apresentação de uma voz lírica que, distante de sua terra natal, expressa a saudade de sua pátria natal pela evocação da lembrança da fauna e da flora típicas do Brasil.

No poema de Oswald de Andrade, a voz lírica também expressa saudade de sua terra, entretanto, de modo menos idealizador, já que, por exemplo, os elementos naturais, muito valorizados pelos artistas românticos, como as “rosas” e os “passarinhos”, são mencionados ao lado de elementos materiais característicos do século XX (época em que o poema de Oswald foi publicado), como a menção ao “progresso de São Paulo”, o qual se torna um elemento a compor a identidade de um país que se industrializava.

Além disso, merece destaque a substituição da palavra “palmeira”, presente no poema de Gonçalves Dias, por “palmares” no poema modernista. A substituição desse vocábulo não foi aleatória, já que “palmares” refere-se ao local de resistência em que os negros escravizados refugiavam-se, liderados por Zumbi dos Palmares. Nesse sentido, há, no poema de Oswald, a menção a algo ignorado pela poesia de Gonçalves Dias: o período escravocrata, que marca a identidade nacional.

Outro elemento digno de nota, e referente aos aspectos linguísticos, diz respeito ao uso da forma reduzida da preposição “para” no antepenúltimo verso do poema: “Sem que volte pra São Paulo”.

Essa forma reduzida, muito comum na oralidade, destoa do que estabelecem as regras da gramática normativa, movimento comum aos escritores modernistas, os quais, muitas vezes, subvertiam os padrões gramaticais com o intuito de aproximar a literatura da oralidade do português brasileiro.

3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos

Que poesia é a descoberta

Das coisas que eu nunca vi 

No poema “3 de maio”, observa-se uma característica da poesia de Oswald de Andrade e da estética modernista: a construção de poemas concisos, escritos com extrema objetividade e quase sempre com um sentido anedótico, ou seja, humorístico, o que se convencionou chamar de poema-piada.

No poema em questão, que tem a metalinguagem como recurso expressivo preponderante, reflete-se sobre o possível conceito de poesia com base no que teria dito o “filho de dez anos” do eu lírico, ao afirmar que a poesia é uma descoberta de coisas ainda não vistas.

Esse poema expressa, portanto, uma concepção de poesia valorizada pelos poetas modernistas, despida de qualquer aura academicista ou formalista, já que a conceitualiza segundo a ótica de uma criança. 

Por: Leandro Guimarães

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