Sociologia

A sociologia estuda as interações entre o indivíduo e a sociedade para permitir uma ação mais consciente. Abrange temas como estratificação, cultura e problemas sociais.

Vista aérea de pessoas caminhando sobre faixa de pedestres, em texto sobre sociologia.
A sociologia é o estudo da vida e do comportamento social.

A sociologia é o estudo daquilo que nasce da inter-relação entre os indivíduos e destes com os diversos tipos de sistemas sociais. Esse ramo do conhecimento busca compreender a organização, as estruturas e as dinâmicas das sociedades humanas, analisando as interações sociais, as instituições e os fenômenos culturais.

A origem da sociologia é frequentemente atribuída a pensadores como Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920), que estabeleceram as bases teóricas e metodológicas para o estudo sistemático das sociedades. A sociologia foi concebida como um conhecimento voltado para a ação. A sua importância no contexto contemporâneo reside na sua capacidade de fornecer ferramentas analíticas para entender e agir sobre as transformações profundas que caracterizam a era atual.

A presença do ensino de sociologia no Brasil está prestes a completar cem anos. Esse ensino evoluiu de uma introdução pioneira nos currículos escolares para uma disciplina consolidada, embora ainda enfrentando desafios, como a mais recente reforma do ensino médio, que reduziu a carga horária e terminou com a obrigatoriedade da sociologia na última etapa da escolarização dos adolescentes.

Leia também: Cultura de massa — conceito associado ao fenômeno da industrialização da sociedade

Tópicos deste artigo

Resumo sobre sociologia

  • A sociologia é uma disciplina que investiga a dinâmica contínua entre sistemas e as pessoas que deles participam, abrangendo o mundo inteiro e suas novidades.

  • Abrange temas como estrutura social, estratificação, cultura, mudança social, instituições sociais e problemas sociais.

  • Sociologia da família, da educação, do trabalho, da política, da economia e da saúde são algumas das várias áreas dentro da sociologia.

  • Sua origem está ligada às transformações das sociedades ocidentais no século XIX, com fundadores como Émile Durkheim e Max Weber.

  • No Brasil, ela começou a ser ensinada em 1925, foi proibida pela Ditadura Militar e regulamentada como profissão em 1980, pela lei nº 6.888.

  • A lei nº 11.684, de junho de 2008, incluiu sociologia e filosofia como matérias obrigatórias no ensino médio, mas a reforma do Novo Ensino Médio trouxe mudanças significativas para o currículo escolar.

  • A sociologia é cobrada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Brasil.

O que é sociologia?

A sociologia é o estudo da vida e do comportamento social, sobretudo em relação a sistemas sociais, como eles funcionam, como mudam, as consequências que produzem e sua relação complexa com a vida de indivíduos. O termo sociologia foi usado pela primeira vez pelo francês Auguste Comte, um dos fundadores da corrente positivista, que propôs uma transformação na sociedade orientada por uma espécie de “física do social”.

Desde aquele tempo, a sociologia sempre foi uma disciplina de identidade em movimento, tendo recebido muitas definições ao longo da história. Seja qual for a definição adotada, é fundamental para o ponto de vista sociológico o fato de que você e eu participamos sempre de algo maior do que cada um de nós isoladamente.

A vida social, então, é aquilo que brota da inter-relação das pessoas e de todos os tipos de sistemas sociais. Por um lado, o indivíduo é aquele que faz os sistemas sociais acontecerem. Ele percebe e interpreta o mundo, posicionando-se em relação a ele, e decide de uma hora para outra o que dizer e fazer.

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Por outro lado, os sistemas sociais fornecem os termos da vida social, os símbolos e ideias culturais e a estrutura das relações sociais. Estas, por sua vez, modelam o que o indivíduo escolhe fazer, fornecendo um molde para as suas ações. O que escolhemos fazer, dizer ou pensar, portanto, é uma escolha feita com base nas alternativas que temos diante de nós. O leque de alternativas em função das quais escolhemos diz respeito, antes de tudo, a como os sistemas agrupam os indivíduos que deles participam.

Nesse sentido, a sociologia é a disciplina que investiga a vida e os comportamentos sociais, duas coisas que “acontecem” como o resultado de uma dinâmica contínua entre os sistemas e as pessoas que deles participam. Se é difícil definir qual é o objeto de estudo da sociologia, é porque, cada vez mais, o “algo maior” de que as pessoas participam abrange o mundo inteiro e muitas novidades.

ois pés calçados sobre asfalto, com três setas indicando caminhos distintos, em alusão à sociologia.
Sociologia é um campo de estudo voltado para a compreensão da condição humana e o caminho das nossas ações.

Enfim, o princípio básico do pensamento sociológico significa a ideia de que o todo é maior do que a soma de suas partes, pois o todo inclui também as relações que ligam entre si as partes, o que, em geral, não pode ser obtido apenas pelo conhecimento das partes isoladas. E os sistemas sociais são um conjunto de arranjos nos quais as pessoas participam de forma ativa, criativa e imprevisível.

Veja também: Materialismo histórico — uma das linhas teóricas que explicam as mudanças sociais

O que se estuda na sociologia?

A sociologia é uma disciplina acadêmica que se dedica ao estudo sistemático da sociedade e seus sistemas sociais, das interações humanas e das estruturas sociais nas quais elas acontecem. O campo de estudos da sociologia é vasto e abrange uma variedade de temas que são essenciais para entender tanto as dinâmicas cotidianas quanto as complexidades estruturais das sociedades.

O estudo da estrutura e estratificação social é um dos pilares da sociologia, buscando desvendar como as sociedades são organizadas em castas, camadas ou classes sociais. Isso compreende o estudo da distribuição de recursos, poder e status, o que afeta as oportunidades e as relações sociais dos indivíduos. A estratificação pode ser baseada em critérios como classe, raça, gênero, idade e mais.

A sociologia também estuda como as culturas são formadas, mantidas e transformadas. Isso inclui a análise de símbolos, linguagem, normas e valores que definem diferentes grupos, sistemas e comportamentos sociais. A identidade (nacional, étnica, de gênero ou sexual) também é um tema crucial, explorando como os indivíduos, ou grupos, percebem a si mesmos e aos outros.

Parte superior de uma pessoa usando colar com símbolos de gêneros, em texto sobre sociologia.
A sociologia estuda a interação dos indivíduos com os símbolos da cultura e a sua identidade.

Os sociólogos investigam a mudança e o desenvolvimento na sociedade, isto é, as forças que promovem as transformações ou as desestimulam, as mudanças na sociedade, incluindo tecnologia, inovação, conflitos, movimentos sociais e políticas públicas. O estudo do desenvolvimento social aborda questões de progresso, desigualdade e os impactos da globalização nas sociedades locais e globais.

Outro foco importante do pensamento sociológico é o estudo das instituições sociais, como a família, a educação, a religião, o governo e o mercado de trabalho. Essas instituições desempenham papéis fundamentais na socialização dos indivíduos e na organização da vida social.

A sociologia também se interessa pelo estudo das interações cotidianas entre indivíduos e grupos. Isso inclui o estudo de como as pessoas se comportam em diferentes contextos sociais e como as normas sociais e os status influenciam essas interações. A sociologia frequentemente estuda os chamados “problemas sociais”, questões como pobreza, crime, desemprego, saúde pública e crises ambientais.

Mas qual tema de estudo da sociologia não é um problema social, não é mesmo? O objetivo é sempre entender as causas desses problemas e contribuir para soluções por meio de pesquisa empírica e teoria sociológica. Esses temas são apenas uma amostra dos vastos e variados interesses da sociologia, que continua a evoluir e responder às mudanças nas sociedades contemporâneas.

Quais são as áreas da sociologia?

A sociologia é uma ciência muito ampla que se divide em várias subáreas, cada uma focada em diferentes aspectos das sociedades e das interações humanas. Algumas das principais áreas de estudo da sociologia compreendem:

  • sociologia da família;

  • sociologia da educação;

  • sociologia do trabalho;

  • sociologia política;

  • sociologia econômica;

  • sociologia da saúde;

  • sociologia do gênero;

  • sociologia da religião;

  • sociologia ambiental;

  • sociologia urbana e rural;

  • sociologia do intelectual.

Cada uma dessas áreas permite aos sociólogos examinarem e entenderem as complexidades das sociedades e contribuírem para soluções de problemas sociais contemporâneos. A diversidade de áreas, no entanto, não pode ser limitada a uma lista. A sociologia é dinâmica e está viva. E isso também reflete a relevância da área para uma ampla gama de questões sociais, econômicas e culturais contemporâneas.

Importância da sociologia

A importância da sociologia, como campo de estudo, está cada vez maior para a compreensão das complexidades da sociedade contemporânea. No contexto contemporâneo, sua importância reside na sua capacidade de fornecer ferramentas analíticas para entender e agir sobre as transformações profundas que caracterizam a era atual.

As teorias de Ulrich Beck, Anthony Giddens e François Dubet são particularmente relevantes para entender as transformações sociais, políticas e econômicas que caracterizam a Modernidade tardia e a sociedade de risco, pois elas ajudam a mapear os contornos de uma sociedade globalizada, interconectada e repleta de riscos, onde os velhos paradigmas são constantemente desafiados e redefinidos.

Teorias de Beck, Giddens e Dubet

Esses teóricos caracterizam nossas sociedades pela autonomia do indivíduo — que é chamado a construir o seu itinerário e sua identidade num quadro social que não está predefinido — e pela reflexividade que o indivíduo exerce permanentemente sobre si mesmo.

  • Teoria de Giddens

Anthony Giddens introduziu o conceito de “modernização reflexiva”, que se refere ao processo pelo qual as sociedades modernas são constantemente transformadas por uma reflexão crítica sobre suas práticas institucionais e pessoais.

Giddens argumenta que, na Modernidade tardia, os indivíduos são confrontados com uma série de escolhas e incertezas desconhecidas em épocas anteriores. Isso requer uma constante renegociação de identidades e relacionamentos, um processo que ele descreve como “individualização reflexiva”.

  • Teoria de Beck

Ulrich Beck, por sua vez, é amplamente conhecido por sua teoria da “sociedade de risco”, na qual argumenta que a Modernidade avançada é definida pela produção de riscos globais que não podem ser contidos dentro das fronteiras nacionais ou categorias tradicionais de risco. Beck sugere que a modernização reflexiva leva a uma nova era, em que os riscos, como desastres ambientais e tecnológicos, tornam-se centrais.

Esses riscos são produto das próprias inovações que definiram o progresso industrial e tecnológico. A teoria de Beck é crucial para entender como as sociedades lidam com a incerteza e como as políticas públicas e as práticas individuais são moldadas pela conscientização e gestão desses riscos.

  • Teoria de Dubet

François Dubet oferece uma perspectiva complementar com sua análise das experiências sociais e da desintegração das instituições tradicionais que anteriormente estruturavam a vida social. Ele examina como as mudanças nas esferas do trabalho, educação e família afetam a coesão social e a identidade individual.

Dubet destaca a fragmentação das experiências coletivas e a emergência de uma sociedade na qual os indivíduos são chamados a criar seus próprios sistemas de valores e significados em um mundo cada vez mais diversificado e complexo.

Casas alagadas em texto sobre sociologia.
As “sociedades do risco” estão sendo cobradas por catástrofes ambientais, cada vez mais frequentes, provocadas pelas mudanças climáticas.

Ao aplicar essas teorias, podemos melhor compreender os processos de mudança social e as novas formas de vulnerabilidade e agência que definem o mundo moderno.

Sociologia no Brasil

A sociologia no Brasil foi ensinada como uma disciplina, pela primeira vez, no Colégio Pedro II em 1925. Outro marco importante da sociologia no Brasil foram as criações, em São Paulo, da Escola de Sociologia e Política e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em 1933 e 1934 respectivamente. Ainda na década de 1930, livros notáveis de Caio Prado Jr., Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda lançaram as bases de um pensamento social brasileiro.

Durante a Ditadura Militar no Brasil, que se estendeu de 1964 a 1985, o ensino de sociologia enfrentou severas restrições e censuras. Com a instauração do regime militar, houve uma supressão significativa dos direitos constitucionais e uma repressão intensa a intelectuais, artistas e qualquer pessoa que se opusesse ao regime, o que incluía professores e acadêmicos das ciências sociais.

Em 1971, a reforma educacional implementada pelo regime militar baniu as disciplinas de sociologia e filosofia do currículo escolar brasileiro. Essa exclusão foi parte de uma estratégia mais ampla para controlar o pensamento crítico e evitar a formação de uma consciência política entre os estudantes. Em lugar dessas disciplinas, foi introduzida a “educação moral e cívica”, que promovia uma doutrina voltada para o patriotismo e alinhada aos interesses do regime.

Sociologia como profissão

A sociologia no Brasil foi regulamentada como profissão em 1980, quando a lei nº 6.888 estabeleceu a necessidade de formação acadêmica na área de ciências sociais para o exercício da profissão, bem como as atividades que são de competência específica dos sociólogos: o ensino de sociologia e a elaboração, coordenação e avaliação de estudos e projetos pertinentes à realidade social.

No Brasil, hoje em dia, os sociólogos são representados por várias associações e sindicatos que desempenham um papel importante na promoção da disciplina e na defesa dos interesses profissionais dos sociólogos. A Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), fundada em 1937, é uma das mais tradicionais associações que congregam sociólogos e promovem a sociologia no Brasil. Além de publicar a Revista Brasileira de Sociologia, a SBS reconhece o trabalho de sociólogos concedendo o Prêmio Florestan Fernandes.

Atualmente, merece destaque a atuação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs). Fundada em 1977, a Anpocs reúne mais de uma centena de centros de pós-graduação e de pesquisa em antropologia, ciência política, relações internacionais e sociologia de todo o Brasil.

A Anpocs concede prêmios, divulga pesquisas e coordena a Revista Brasileira de Ciências Sociais e outras publicações, além de organizar o seu Encontro Anual, que reúne milhares de participantes.

Sociologia na educação básica hoje

A vitória mais recente da sociologia no Brasil foi a aprovação da lei nº 11.684, em junho de 2008, que inclui a sociologia e a filosofia como matérias obrigatórias no ensino médio da educação básica. Mais recentemente, a reforma do Novo Ensino Médio, instituída pela lei nº 13.415/2017, trouxe significativas mudanças para o currículo escolar, afetando diretamente o ensino de sociologia.

Essa tentativa de mudança curricular alterou a organização curricular, de modo que disciplinas como sociologia, filosofia, artes e educação física deixaram de ser obrigatórias em todo o ensino médio, passando a integrar a parte diversificada do currículo.

O Novo Ensino Médio está sendo muito criticado, no sentido de representar uma ameaça à formação de jovens em termos de formação crítica, consolidação da democracia, dos Direitos Humanos e sociais, e da promoção da cidadania, aspectos fundamentais do ensino de sociologia.

Ao longo de quase um século, a sociologia no Brasil evoluiu de uma introdução pioneira nos currículos escolares para uma disciplina consolidada, embora ainda enfrentando desafios. A produção acadêmica em sociologia reflete uma rica tradição de pesquisa e ensino, contribuindo para o entendimento da sociedade brasileira e global.

A trajetória da sociologia no Brasil é um testemunho das mudanças na percepção da importância das ciências sociais na educação e na sociedade, bem como das lutas contínuas para manter a disciplina relevante e acessível a todos os estudantes.

Sociologia e filosofia

A sociologia e a filosofia são disciplinas fundamentais para a compreensão da sociedade e do indivíduo, cada uma com suas especificidades, métodos e objetos de estudo. A principal diferença entre sociologia e filosofia reside em seus métodos e abordagens. A sociologia é uma ciência social que utiliza métodos empíricos para estudar e analisar a vida social. O seu método se baseia em pesquisas, estudos de caso e análises estatísticas para compreender os fenômenos sociais.

Por outro lado, a filosofia adota uma abordagem mais reflexiva e especulativa, criando conceitos e argumentos lógicos para explorar questões existenciais, éticas, políticas, estéticas e epistemológicas. Apesar de suas diferenças, ambas se complementam ao oferecerem uma visão mais ampla e profunda da condição humana e da sociedade contemporâneas.

Além disso, sociologia e filosofia contribuem significativamente para o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de análise dos estudantes, sendo essenciais para a formação cidadã. As disciplinas de sociologia e filosofia continuam a ser cobradas no Enem, mas enfrentam desafios significativos para se firmarem no currículo brasileiro.

A implementação do Novo Ensino Médio, por exemplo, tem gerado preocupações quanto à redução da carga horária dessas disciplinas, o que pode comprometer a formação integral dos estudantes. A reforma educacional propõe uma flexibilização curricular que, embora possa oferecer oportunidades para a personalização da aprendizagem, também pode resultar na marginalização de conteúdos fundamentais para a formação crítica dos jovens.

Sociologia e psicologia

A sociologia e a psicologia apresentam uma distinção fundamental, estabelecida por Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia. Ele argumentava, sobre os fatos sociais e os fatos psicológicos, que cada um deles deveria ser estudado por disciplinas distintas devido às suas naturezas intrinsecamente diferentes. Essa diferenciação é crucial para entender como Durkheim concebeu a sociologia como uma ciência autônoma, com seu próprio objeto de estudo e métodos específicos.

Durkheim definiu fatos sociais como maneiras de agir, pensar e sentir que são externas ao indivíduo e têm um poder de coerção pelo qual se impõem a ele. Esses fatos são caracterizados por sua generalidade dentro de uma sociedade e sua independência em relação às manifestações individuais. Por exemplo, as leis, os costumes e as normas linguísticas são sociais que transcendem o indivíduo e são coletivamente impostos.

Para estudar os fatos sociais, Durkheim propôs o uso de métodos que permitissem a observação objetiva e a classificação desses fenômenos, como estatísticas, documentos históricos e estudos institucionais. Ele enfatizou a importância de tratar os fatos sociais “como coisas”, isto é, como entidades objetivas que podem ser isoladas e analisadas cientificamente.

Em contraste, os fatos psicológicos referem-se a fenômenos que ocorrem dentro do indivíduo, como emoções, motivações e pensamentos pessoais. Estes são subjetivos e variam significativamente entre os indivíduos. A abordagem sociológica, portanto, contrasta com os métodos mais introspectivos e subjetivos, típicos da psicologia.

Origem da sociologia

A origem da sociologia situa-se em meio às tormentas das sociedades ocidentais do século XIX. Os primeiros fundadores da sociologia se defrontaram com os grandes problemas do seu tempo. Eles apresentaram abordagens bastante diversas, algumas insistindo na regularidade e no peso das determinações, outras na racionalidade dos indivíduos ou na experiência comum da vida social.

O esforço de fundar uma nova disciplina e evidenciar a necessidade de uma sociologia foi do francês Émile Durkheim (1858-1917), que a definiu como a ciência rigorosa dos fatos sociais. A sua principal contribuição foi ter demonstrado, indo de encontro às ideias dominantes do seu tempo, que esses fatos sociais — a linguagem, as normas, a religião — têm uma natureza própria e distinta dos fatos psicológicos.

Portanto, defendendo que fatos sociais consistem em maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude da qual se impõem a esse indivíduo, Durkheim cria um domínio de pesquisa que, como os fatos da natureza, pode e deve ser submetido à investigação científica.

Durkheim estudou o processo de divisão do trabalho social, concluindo que ele, ao mesmo tempo, liberta o indivíduo, sob risco de anomia, mas também o torna mais dependente da sociedade. O sociólogo francês também buscou estudar quais eram os fundamentos sociais do fenômeno religioso.

Na Alemanha, o mais célebre fundador da sociologia foi Max Weber (1864-1920), que se apresentou como um economista, mas propôs uma definição da sociologia orientada para a compreensão do sentido que o indivíduo atribui a sua ação. Em sua obra, Max Weber buscou determinar a especificidade da Modernidade, encontrando-a na racionalização da vida social, que geraria o desencantamento do mundo.

De maneira geral, o conhecimento sociológico tem origem como um conhecimento para a ação. Trata-se de ajudar a sociedade a fazer as reformas necessárias para resolver os problemas que lhe são apresentados pelas revoluções industriais e burguesas, que mudaram completamente a face da sociedade.

Videoaula sobre a origem da sociologia

Sociologia no Enem

A sociologia, como disciplina no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Brasil, tem sido cobrada de maneira a avaliar a capacidade dos estudantes de compreender e aplicar conceitos sociológicos para analisar a realidade social. A abordagem das questões de sociologia no Enem reflete a importância de entender as estruturas sociais, os processos e as mudanças na sociedade.

Os temas recorrentes são questões relacionadas a:

  • teorias sociológicas clássicas, representadas por Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx;

  • estratificação, desigualdade social e movimentos sociais;

  • globalização e suas consequências para as mudanças sociais.

As questões de sociologia no Enem, muitas vezes, são formuladas de maneira interdisciplinar, combinando conhecimentos de história, filosofia, geografia e atualidades. Isso reflete a natureza interdisciplinar da sociologia, que se entrelaça com várias outras áreas do conhecimento para fornecer uma compreensão mais completa dos fenômenos sociais.

Muitas questões são contextualizadas com a realidade social, política e econômica do Brasil, exigindo que os estudantes apliquem conceitos sociológicos para analisar questões específicas do país.

Frequentemente, as questões de sociologia são acompanhadas de textos, trechos de livros, gráficos ou imagens que os estudantes devem interpretar usando conceitos sociológicos. Isso testa a capacidade de análise crítica e de aplicação de teorias à análise de material empírico.

A cobrança da sociologia no Enem até o ano passado demonstra um esforço contínuo para integrar essa disciplina de forma significativa no currículo do ensino médio, preparando os estudantes para uma compreensão crítica das dinâmicas sociais.

As questões de sociologia no exame desafiam os alunos a pensar criticamente sobre a sociedade e a aplicar teorias sociológicas para entender e resolver problemas sociais, refletindo a relevância contínua dessa ciência na educação brasileira.

Saiba mais: Como estudar sociologia para o Enem — sugestão de cronograma de estudos e outras dicas

Exercícios resolvidos sobre sociologia

1. O surgimento da sociologia foi propiciado pela necessidade de

a) manter a interpretação mágica da realidade, como patrimônio de um restrito círculo sacerdotal.

b) manter uma estrutura de pensamento mítica para a explicação do mundo.

c) condicionar o indivíduo, por meio dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos deuses.

d) considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de forças transcendentais.

e) observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, por meio da razão, interferir e controlar os fenômenos sociais.

Resposta: E

A sociologia surge como uma forma de análise e interpretação racional e científica dos fenômenos sociais. Para tanto, ela se utiliza de um método adequado e de conceitos que lhe permitam tal análise. Vale ressaltar que, enquanto análise científica, ela se opõe a qualquer interpretação mágica ou transcendental da realidade.

2. Leia o texto a seguir:

Enquanto resposta intelectual à “crise social” de seu tempo, os primeiros sociólogos irão revalorizar determinadas instituições que, segundo eles, desempenham papéis fundamentais na integração e na coesão da vida social. A jovem ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social e destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade.

MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 30.

Com base no trecho, o surgimento da sociologia foi motivado pelas transformações das relações sociais ocorridas na sociedade europeia, nos séculos XVIII e XIX, contribuindo para

a) o aumento da desorganização social, estabelecida pela Revolução Industrial.

b) a organização de vários movimentos sociais, controlados por pensadores como Saint-Simon e Comte.

c) a elaboração de um conceito de sociologia, incluindo os fenômenos mentais como tema de reflexão e investigação.

d) a criação da corrente positivista, que propôs uma transformação da sociedade com base na reforma intelectual plena do ser humano.

e) o surgimento de uma “física social”, preocupada com a construção de uma teoria social separada das ideias de ordem e desenvolvimento como chave para o conhecimento da realidade.

Resposta: D

O surgimento da sociologia esteve relacionado ao desenvolvimento de uma física social de ordem positivista, calcada em ideais como o cientificismo, a ordem e o progresso.

Fontes

ARENDT, H. s origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia de Bolso, 1952.

BARBOSA, M. L. de O.; RIVERO, P.; QUINTANEIRO, T. Conhecimento e imaginação: Sociologia para o Ensino Médio. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

FREYRE, G. Casa-Grande e Senzala. São Paulo: Global Editora, 1995.

GIDDENS, A. Sociologia. São Paulo: Editora Pensamento, 2011.

KUPPER, A. Coleção Sociologia Ensino Médio (5 volumes). São Paulo: Editora Café com Sociologia, 2023.

MARX, K. O Capital. São Paulo: Boitempo, 1867.

RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. São Paulo: Global Editora, 1995.

ROCHA DA COSTA, R. C.; OLIVEIRA, L. F. de. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008.

Por: Rafael Pereira da Silva Mendes

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