O racismo é um problema que afeta o Brasil desde a sua formação. Passamos entre os séculos XVI e XIX por mais de 300 anos de escravização de africanos e seus descendentes que nasceram aqui. Mesmo com o fim da escravidão em nosso país, não podemos dizer que houve, alguma vez, a verdadeira igualdade racial no Brasil.
Além desse fator que gera o chamado racismo estrutural, também temos o racismo explícito, caracterizado pelo preconceito expresso, seja por meio verbal, seja pela violência física.
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O que é racismo?
O racismo é a discriminação racial. Ele é originado pelo preconceito que tem motivação gerada por questões étnico-raciais, geralmente fundamentado na ideia falsa de que existem diferenças entre as raças que colocam os brancos de origem europeia como pessoas superiores e as outras raças que habitam outros continentes como inferiores.
O racismo se mostra de diversas maneiras. Podemos falar, por exemplo, de:
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racismo estrutural;
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racismo explícito;
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racismo institucional.
O racismo explícito é aquele que se mostra, que é evidente, é aquele que o agressor racista se assume enquanto racista. O racismo estrutural é aquele que está na estrutura da sociedade. Vivemos em uma sociedade extremamente racista, e mesmo que não haja um racismo explícito em todos os lugares, existe uma estrutura racista que mantém pessoas brancas em posições privilegiadas em relação a pessoas negras e indígenas. O racismo institucional é o que ocorre quando uma instituição adota uma posição racista em suas atitudes.
Racismo no Brasil
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Origem do racismo no Brasil
O racismo está impregnado na formação do Brasil. Nosso país, assim como todos os países da América Latina, toda a África e grande parte da Ásia, foi explorado por países europeus por meio de um movimento colonizador.
Para explorar as riquezas que o nosso país detinha, os colonizadores portugueses precisavam de uma força de trabalho. A partir de 1540, aproximadamente, chegaram os primeiros africanos escravizados em nosso território. A lógica que permitia a colonização e a escravização de pessoas era a lógica racial: o branco europeu se considerava superior às pessoas de outras etnias e de outros lugares. O homem branco europeu considerava a sua cultura superior e achava que isso advinha da raça. Inclusive, essa ideia moveu a pseudociência eugenista que amparou o início da antropologia enquanto uma ciência nascente.
A mesma lógica que inferiorizava o negro e o indígena, permitindo a exploração, é a lógica que se manteve e sustenta o racismo em nosso país. Se pegarmos o meio científico do século XIX, podemos achar diversos teóricos que defendiam teorias racistas de superioridade branca. Esses teóricos também defendiam uma eugenia de “limpeza étnica” no país como forma de promover o avanço de nossa sociedade. A lógica dessas teorias era trazer mais branco europeu para cá e desestimular o crescimento da população preta, achando que, com mais brancos, o Brasil teria melhor progresso. É horrível pensar que essa visão perdurou no país como algo aceitável de se pensar até meados do século XX.
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Democracia racial
Um sociólogo brasileiro foi extremamente importante para desmistificar essa pseudociência racista, no entanto ele também deixou um legado que dificulta o combate ao racismo: a ideia de uma suposta democracia racial que teria existido no Brasil no período colonial. Esse pensador foi Gilberto Freyre, autor dos clássicos Casa-Grande e Senzala e Sobrados e Mucambos.
Freyre era contra a ideia de que os negros e os mestiços eram a fonte dos problemas morais brasileiros, no entanto ele acreditava que o Brasil foi na contramão do que aconteceu em outros países em relação à escravidão. O sociólogo comparou a sociedade escravista brasileira com a sociedade escravista estadunidense e chegou à conclusão de que a miscigenação brasileira evidenciava uma espécie de relação cordial entre senhores e escravos. Essa visão simplista é negativa por deixar uma marca difícil de apagar na luta contra o racismo no Brasil: a visão de que não há racismo aqui porque ele não é tão escancarado como nos Estados Unidos.
Essa visão errônea perdurou, impedindo o avanço da luta contra esse grave problema social no Brasil. A miscigenação entre negros e brancos no Brasil escravista ocorreu por meio do estupro de negras escravizadas por parte de seus senhores e de outros homens brancos que viviam na casa-grande.
Racismo estrutural
O racismo não é a simples discriminação que acontece escancarada e não se resume ao xingamento embasado na raça (isso é a injúria racial). O racismo pode ser velado e, pior ainda, pode estar enraizado nas estruturas sociais mais profundas. Isso dificulta a identificação do racismo e impede que consigamos acabar de vez com ele.
O racismo estrutural pode se mostrar de diversas maneiras. Ele pode se evidenciar no racismo institucional da polícia, que muitas vezes escancara uma verdadeira perseguição a pessoas negras, mas também ser identificado em cenários e situações cotidianas diversas. Imagine uma grande empresa e pense no quadro de trabalhadores dela. No quadro do setor operacional, quantos são negros e quantos são brancos? Quando a medida passa para o quadro executivo, quantos ali são negros e quantos são brancos? Em geral, a maior parte do quadro operacional é negra e a maior parte do quadro executivo é branca. Isso é um reflexo do racismo estrutural de nossa sociedade. Esse mesmo racismo estrutural se evidencia pela renda média expressivamente menor de negros em relação a brancos, pelo tempo médio de estudo menor de negros em relação a brancos, etc.
O que foi apontado acima são efeitos de um racismo que está na formação cultural de nosso país. É por isso que é tão difícil erradicá-lo.