Karl Marx

Karl Marx foi um filósofo e revolucionário alemão. Dedicou sua vida a realizar uma análise econômica da história, que gerou métodos, teses e conceitos para analisar o capitalismo que ainda hoje mantêm significativa capacidade explicativa. Marx é o fundador do socialismo científico e, além de teórico, era militante socialista. Sua obra e seu ativismo tiveram profundo impacto político no mundo e profundo impacto intelectual nas diversas disciplinas das Ciências Humanas.

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Biografia de Karl Marx

Karl Heinrich Marx nasceu em 5 de maio de 1818, em Trier, Renânia, província da Prússia, reino da Alemanha. Era o terceiro de nove filhos do casal Herschel Marx e Henriette Pressburg, família de classe média e origem judaica. Seu pai era advogado e conselheiro da Justiça, perseguido por Guilherme III, governante absolutista, por ser de família judia.

Por conta das restrições a judeus no serviço público, Herschel Marx converteu-se ao cristianismo luterano. Karl Marx estudou no Liceu Friedrich Wilhelm e ingressou no curso de Direito da Universidade de Bonn. Ali participou de lutas estudantis e já demonstrou uma leitura crítica da realidade.

Em 1836 transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde estudou Filosofia. Marx, como seus contemporâneos, foi influenciado por Hegel, filósofo e idealista alemão. Marx tinha afinidades com o grupo de hegelianos de esquerda denominado ‘Jovens Hegelianos’, inclinado às questões sociais da Alemanha. Em 1841, aos 23 anos de idade, Marx doutorou-se em Filosofia com a tese “A diferença entre a filosofia da natureza de Demócrito e a de Epicuro”, na Universidade de Jena. Porém, as fortes críticas que fazia ao governo lhe fecharam as portas para lecionar nas universidades. Passou a escrever artigos para os Anais Alemães, todavia foi censurado.

Karl Marx tornou-se doutor em Filosofia aos 23 anos de idade.
Karl Marx tornou-se doutor em Filosofia aos 23 anos de idade.

Em 1842 mudou-se para Colônia e assumiu a direção do jornal Gazeta Renana. Nesse período conheceu aquele que viria a ser seu grande colaborador, Friedrich Engels. Não demorou muito, a Gazeta foi fechada pelo governo.

Em 1843, Marx casou-se com Jenny von Westphalen e mudou-se com sua família para Paris. Nessa cidade, fundou, com seu amigo Arnold Ruge, a revista Anais Franco-Alemães, onde publicou “Introdução à crítica da filosofia do Direito de Hegel”, “Sobre a questão judaica” e também artigos de Engels. Em 1844, Marx e Engels começaram a escrever para a publicação de pequena circulação Vornaerts, porém suas opiniões desagradaram o imperador da Prússia, Frederico Guilherme V, que pressionou o governo francês a expulsá-los. Em 1845 tiveram que sair da França e foram para Bruxelas, na Bélgica.

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Marx manteve contato com o movimento operário europeu. Fundou a Sociedade dos Trabalhadores Alemães e integrou a Liga dos Justos, entidade secreta do operariado alemão que mais tarde se chamaria Liga dos Comunistas. Em parceria com Engels, adquiriu um semanário e aprofundou as suas teses sobre o socialismo.

No segundo congresso da Liga dos Justos, Marx e Engels foram convidados a redigir um manifesto. Baseado no trabalho “Os princípios do comunismo”, de Engels, Marx escreveu em 1848 “O Manifesto Comunista”, no qual reuniu suas principais ideias, fez duras críticas ao capitalismo, sintetizou a história do movimento operário e convocou trabalhadores do mundo a se unirem. Algum tempo depois, ele e sua esposa foram presos e expulsos da Bélgica. Então, sua família estabeleceu-se em Londres. Karl e Jenny tiveram sete filhos, todavia somente três sobreviveram e chegaram à idade adulta, por causa das más condições em que viviam, já que Marx era rejeitado em muitos empregos e perseguido por governos por conta das críticas ferozes que escrevia.

Em 1864, Marx participou da criação da “Associação Internacional dos Trabalhadores”, que ficaria conhecida como Primeira Internacional Socialista. Com a colaboração de seu grande amigo, Engels, Marx publicou em 1867 o primeiro volume de O Capital, sua principal obra. Os outros dois volumes de O Capital foram organizados e publicados por Engels após a morte do autor.

Marx perdeu a esposa em 1881 e, deprimido, teve seu quadro de saúde agravado. Faleceu em 1883 de problemas respiratórios e foi enterrado em Londres, na condição de apátrida.

Veja também: Movimentos sociais – manifestações que visam à representação política em um governo

Teoria de Karl Marx

Karl Marx foi um ferrenho crítico do modo de produção capitalista. Seu método de análise é o materialismo histórico dialético, caracterizado pelo estudo da história a partir da luta de classes. O materialismo dialético avalia as relações e processos sociais a partir de forças opostas que se tensionam até gerar uma nova organização social.

  • Luta de classes: burguesia X classe operária

Para Marx, toda a história humana se desenvolveu assim: uma luta entre dominantes e dominados, que é a força impulsionadora da mudança. O antagonismo de comerciantes burgueses e a aristocracia feudal gerou um novo modelo econômico-social: o capitalismo. E este também seria removido e substituído por outro modelo por meio da oposição entre a burguesia, que agora assumira o posto dominante, e o grupo de dominados, formado pelos trabalhadores operários por ela explorados.

A luta de classes no capitalismo se dá entre duas classes sociais identificadas por Marx como burguesia, que é a detentora dos meios de produzir riqueza, e a classe operária, formada pelo numeroso grupo de trabalhadores que não possuem meios próprios de subsistência e, por isso, vendem sua força de trabalho. Nesse modelo econômico, em que uns poucos são donos dos meios de produção, sejam eles industriais, fundiários, sejam comerciais ou financeiros, e a grande maioria vende a sua disposição de trabalhar, isto é, seu tempo e suas habilidades, ocorre um rompimento no ciclo de identificação entre produtor e produto, denominado por Marx como alienação.

  • Mais-valia e ideologia

A produção é fragmentada e mecanizada, de modo que o trabalhador assalariado não reconhece a sua contribuição no resultado final. Além disso, o valor agregado ao trabalho por sua intervenção não retorna para ele em forma de participação nos lucros, pois seu salário é pré-fixado, e a riqueza gerada fica concentrada nas mãos do capitalista que o contratou. A esse processo Marx chamou de mais-valia. O trabalhador não recebe um valor equivalente ao seu esforço e à importância de sua participação na geração daquela riqueza.

E como uma situação de exploração tão evidente é legitimada? Aqui entra o conceito marxista de ideologia. Para Marx, a ideologia é a falsa consciência. Ela é um falseamento da realidade produzido pela burguesia para enganar o proletariado, sendo amplamente disseminada pelos meios de educação e informação de modo que a ideologia dominante pareça ser a única opção. Para Marx, as instituições burguesas são aliadas de peso nesse processo, principalmente o Estado, que para ele é um gestor das demandas da burguesia e um guardião da propriedade privada.

  • Infraestrutura X superestrutura

A estrutura social da sociedade capitalista, para Marx, é dividida em superestrutura e infraestrutura. A infraestrutura é composta pelas forças produtivas, é a base econômica onde ocorrem as relações de trabalho. A superestrutura é a base jurídico-política e a base de produção e disseminação da ideologia burguesa, composta pelo Estado, religião, meios de comunicação, cultura.

  • Consciência de classe

Marx, ao contrário de outros filósofos de seu tempo, tinha como cerne de sua filosofia a ação. Ele buscava unir teoria e prática numa ação consciente que modificasse a realidade: a práxis. Portanto, para ele, a superação das perversidades de miséria, exploração e pobreza geradas pelo capitalismo seria realizada quando os trabalhadores se organizassem politicamente para mudar esse estado de coisas. Para que isso ocorresse, era necessário que eles desenvolvessem uma consciência de classe, que não viesse de fora, pois assim seria adulterada pela burguesia, mas que fosse produzida por eles, uma consciência de si em que as dificuldades comuns fossem identificadas e os interesses comuns fossem delineados. Assim, sabendo sua própria condição e idealizando o modelo social que os satisfaria, poderiam se organizar e tornar realidade o seu desejo de mudança.

Marx delimitou o seu modelo ideal de organização econômica e social: o comunismo, uma sociedade sem classes e sem Estado na qual pessoas livres pudessem realizar várias atividades sem se prender a nenhuma delas. O caminho por ele proposto para construir essa sociedade seria a revolução do proletariado, que, a partir da tomada de consciência de classe, organização e reivindicação, tomaria o poder político e instituiria o socialismo, isto é, a socialização dos meios de produção mediada pelo Estado como um período de transição até que a produção e distribuição econômica estivessem equitativas o suficiente a ponto de o próprio Estado não ser mais necessário. Então se consolidaria o comunismo, em que a sociedade regularia a produção sem impor uma atividade fixa a ninguém e cada trabalhador usufruiria do seu trabalho sem desapossar a outrem ou limitar a si mesmo.

Nas palavras de Marx, o homem livre poderia|1|:

“Caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite e fazer crítica depois da refeição (...) sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico”.

Para Marx, o modelo capitalista possuía contradições inerentes que acabariam por derrubá-lo. As relações sociais desenvolvidas no capitalismo teriam como resultado a revolução socialista.

Acesse também: O que é socialismo utópico?

Karl Marx e a Sociologia

Karl Marx é um dos três principais autores da Sociologia Clássica. Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber são considerados “os três porquinhos” da Sociologia. Esses autores, bem como Auguste Comte, considerado o fundador dessa ciência social, vivenciaram alguns dos acontecimentos que criaram condições para o seu surgimento.

A Europa do século XIX foi palco das chamadas revoluções burguesas, que já vinham dos séculos anteriores. Acontecimentos como a Revolução Francesa, Revolução Industrial e a formação dos Estados Nacionais modernos desencadearam amplas e profundas mudanças sociais que conformaram as sociedades modernas, industriais, complexas, marcadas pela racionalização e burocratização das relações políticas, das relações de trabalho e de troca. Cada um desses autores vivenciou essas mudanças em países diferentes e sob pontos de vista específicos, condicionados por sua própria vivência e formação.

Karl Marx é um dos maiores autores da Sociologia Clássica.
Karl Marx é um dos maiores autores da Sociologia Clássica.

Marx acompanhou o protagonismo da burguesia como agente de poder e o surgimento de um novo tipo de trabalhador: o operário. Ao contrário de seu contemporâneo Comte, que via o capitalismo com olhos otimistas, como um aprimoramento racional e ordenado da organização econômica e social, Marx identificava iniquidades no modo de produção capitalista e a ele se opunha de modo contundente tanto pela elaboração intelectual quanto pela militância política.

A teoria marxista emergiu como uma confrontação radical ao sistema econômico, social e político que se estruturava naquele período. Embora inicialmente sua influência tenha sido maior em movimentos operários, partidos social-democratas e outras correntes políticas de esquerda, as chaves conceituais e a leitura social realizadas por Marx intensificaram sua preponderância nos círculos acadêmicos no século XX, especialmente na chamada teoria crítica e nos estudos culturais. A teoria marxista tem profunda relevância não só na produção sociológica, mas em todas as áreas das Ciências Humanas.

Obras de Karl Marx

Karl Marx produziu uma densa e extensa bibliografia, abordando temas como:

  • funcionamento do capitalismo e suas contradições;

  • movimento operário;

  • socialismo científico;

  • comunismo.

Também fez críticas a Hegel, que tinha uma visão abstrata da filosofia que não propunha ação e mudança na realidade, e aos socialistas utópicos, que pretendiam reformar o capitalismo em vez de substitui-lo por outro modelo econômico.

Marx analisou a conjuntura política de diversos países, inclusive antevendo acontecimentos que depois se confirmariam. Alguns dos países que ele estudou política e economicamente foram a França, Rússia, Alemanha, Espanha, Polônia, Birmânia, China e Índia. Abaixo, os livros de Marx traduzidos para o português.

  • Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1843)

  • Sobre a Questão Judaica (1843)

  • Manuscritos Econômico-Filosóficos (1844)

  • Teses sobre Feuerbach (1845)

  • A Sagrada Família (1845) - Marx e Engels

  • A ideologia alemã (1846)

  • Sobre o Suicídio (1846)

  • Lutas de Classes na Alemanha – Marx e Engels (1843-1848)

  • Miséria da Filosofia (1847)

  • O Manifesto Comunista (1848) - Marx e Engels

  • Trabalho Assalariado e Capital (1849)

  • As Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 (1850)

  • O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852)

  • Grundrisse (1857-1858)

  • Contribuição à Crítica da Economia Política (1859)

  • Salário, Preço e Lucro (1865)

  • O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 1: O Processo de Produção do Capital (1867)

  • A Guerra Civil na França (1871)

  • Crítica do Programa de Gotha (1875)

  • Lutas de Classes na Rússia – Marx e Engels (1875 -1894)

  • O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 2: O Processo de Circulação do Capital (1885).

  • O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 3: O Processo Global da Produção Capitalista (1885)

Engels foi grande amigo e parceiro intelectual de Marx. Seus escritos influenciaram muitos governos e movimentos políticos e partidários no mundo. [1]
Engels foi grande amigo e parceiro intelectual de Marx. Seus escritos influenciaram muitos governos e movimentos políticos e partidários no mundo. [1]

Frases de Karl Marx

  • “A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas”.

  • “A história se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa”.

  • “As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força intelectual dominante”.

  • “Não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas, ao contrário, seu ser social que determina sua consciência”.

  • “Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça”.

  • “Se o dinheiro é o vínculo que me liga à vida humana, vinculando a sociedade a mim, conectando-me com a natureza e o homem, não é o dinheiro o laço de todos os laços? Não pode dissolver e ligar todos os laços? Não é, portanto, também o agente universal da separação”?

  • “O que distingue uma época econômica de outra, é menos o que se produziu do que a forma de o produzir”.

  • “O Governo do Estado moderno não é se não um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa”.

  • “Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo”.

  • “A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”.

  • “Em proporção, portanto, à medida que a repulsa do trabalho aumenta, o salário diminui”.

  • “Na manufatura e no artesanato, o trabalhador utiliza a ferramenta; na fábrica, ele é um servo da máquina”.

  • “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”.

Nota

|1| MARX e ENGELS. A ideologia alemã.

Crédito da imagem

[1] Nast Egle / Shutterstock

Por: Milka de Oliveira Rezende

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