Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral foi uma das maiores pintoras e desenhistas da arte Moderna brasileira.

Selo com a tela “Urutu” (1928), de Tarsila do Amaral*
Selo com a tela “Urutu” (1928), de Tarsila do Amaral*

Filha do fazendeiro José Estanislau do Amaral e Lydia Dias de Aguiar do Amaral, Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886, no Município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. De família abastada, Tarsila passou a infância nas fazendas de seu pai, estudou no Colégio Sion, em São Paulo, e, anos mais tarde, em Barcelona, na Espanha. Em 1904, pintou a sua primeira tela, intitulada ‘Sagrado Coração de Jesus’, ainda em Barcelona.

Primeiro casamento e maternidade

Em 1906, assim que retornou da Europa, após a conclusão de seus estudos, Tarsila do Amaral casou-se com o médico André Teixeira Pinto, com quem teve sua única filha, chamada de Dulce do Amaral Pinto, nascida no mesmo ano do casamento.

André Teixeira Pinto era bastante conservador e opunha-se ao desenvolvimento artístico da esposa, pois, para ele e para diversos homens da época, as mulheres deveriam dedicar-se integralmente aos cuidados domésticos e aos filhos. Como a diferença cultural do casal era muito grande, Tarsila pediu não somente o divórcio, mas a anulação do seu matrimônio.

Parcerias

Com a anulação de seu casamento, Tarsila retornou à Europa para estudar artes, como escultura, com o professor Zadig, bem como desenho e pintura, com o professor Pedro Alexandrino, em 1918, ocasião em que conheceu aquela que seria sua grande amiga e parceira artística, a pintora Anita Malfatti.

Dois anos mais tarde, Tarsila do Amaral foi para Paris estudar com Émile Renard, na Académie Julien, onde ficou até o mês de junho de 1922. Com o retorno de Anita Malfatti ao Brasil, Tarsila do Amaral correspondia-se com a amiga por meio de cartas e recebia as notícias sobre a Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, na cidade de São Paulo.

O “grupo dos cinco”

No final de 1922, logo que Tarsila regressou ao Brasil, Anita Malfatti apresentou-a ao grupo de jovens intelectuais com ideologias modernistas, o qual, anos mais tarde, ficou conhecido como “o grupo dos cinco”. O grupo era composto por Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.

O grupo agitou culturalmente a cidade de São Paulo com reuniões, festas, publicações de revistas, textos e diversas exposições artísticas. Durante esse período, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade começaram a namorar.

Em 1923, Tarsila e Oswald conheceram em Paris o poeta Blaise Cendrars, o qual apresentou ao casal os maiores intelectuais e artistas parisienses, como o mestre cubista Fernand Léger. Para Léger, Tarsila mostrou a tela ‘A Negra’, concluída no mesmo ano, e ele ficou bastante entusiasmado a ponto de mostrá-la aos seus alunos. Com essa tela, Tarsila entrou para a história da arte moderna.

Além de Léger, a artista plástica estudou também com outros mestres cubistas e artistas como Lhote e Gleizes, Pablo Picasso, Jean Cocteau, Brancusi, Stravinsky e Eric Satie.

Fase Pau-brasil (1924-1928)

Segundo Tarsila do Amaral, foi em Minas Gerais que ela aprendeu a amar as cores fortes que utilizava em suas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante. Essas cores estão bastante presentes nas obras dessa fase da artista, assim como a temática das paisagens nacionais – rurais e urbanas –, fauna, flora, folclore e o povo brasileiro. Devido ao perfil das cores utilizadas e das temáticas abordadas pela artista em suas telas, essa fase é chamada de “Pau-brasil”, nome relacionado a uma espécie de árvore encontrada em abundância no Brasil no período colonial.

Além dos temas nacionais e das cores fortes, outra marca a ser destacada é a técnica do Cubismo em muitos de seus trabalhos. Muitos críticos e estudiosos afirmam que essa foi a mais produtiva fase da artista, quando criou suas mais renomadas telas: ‘Carnaval em Madureira’ (1924), ‘Morro da Favela’ (1924), ‘O Mamoeiro’ (1925), ‘O Pescador’ (1925), 'A família' (1925), entre outras.

Em 1926, ocorreu a primeira exposição individual de Tarsila em Paris. Alguns meses depois, de volta ao Brasil, ela se casou com Oswald. Após o casamento, o casal passou longas temporadas na fazenda de Tarsila, no interior de São Paulo, onde recebiam os amigos modernistas, intelectuais, entre outras personalidades, como o compositor Heitor Villa Lobos, o pintor Di Cavalcanti, os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado e o aviador Alberto Santos Dumont.

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Fase Antropofágica (1928-1930)

Em janeiro de 1928, Tarsila pintou uma tela como presente de aniversário a seu marido. Oswald ficou impressionado com a tela, considerando-a a melhor que Tarsila já havia feito. Oswald e seu amigo, o escritor Raul Bopp, batizaram-na como 'Abaporu', que significa antropófago, ou seja, homem que come carne humana.

A tela também inspirou a escolha do nome de um Manifesto escrito por Oswald de Andrade (“Manifesto Antropófago”) e de um dos movimentos mais relevantes do Modernismo brasileiro, o “Movimento Antropofágico”, por meio do qual pretendia diminuir as influências das artes europeias e criar obras de valorização da cultura brasileira. Assim como um antropófago alimenta-se de carne humana, o Movimento Antropofágico queria deglutir, engolir a cultura europeia, absorver aquilo que fosse de mais proveitoso artisticamente e transformá-la em arte brasileira.

Embora Tarsila ainda usasse cores fortes em suas telas, a artista modificou o seu foco temático, diferenciando-se da fase Pau-brasil. Seus estudos e contato com artistas europeus, além de sua visão vanguardista sobre as artes, fizeram com que a artista rememorasse a infância e criasse objetos e bichos imaginários com formatos distorcidos, desproporcionais ou outras formas diversas. Esse foi o perfil das obras de Tarsila durante a fase antropofágica.

A primeira exposição da artista no Brasil ocorreu no ano seguinte, em 1929, na cidade do Rio de Janeiro. Nesse período, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York, conhecida como Crise de 1929, Tarsila teve sérios problemas financeiros. A grande depressão nos EUA impactou diretamente a economia brasileira, causando problemas na produção, comercialização e exportação de café. Em virtude da crise do café, Tarsila perdeu suas fazendas localizadas no interior de São Paulo.

Ainda em 1929, o casamento com Oswald de Andrade chegou ao fim após o marido envolver-se com a revolucionária Patrícia Galvão, conhecida como Pagu.

De 1930 a 1973

No ano seguinte, após o fim de seu casamento com o escritor Oswald de Andrade, Tarsila teve um breve relacionamento com o comunista e médico psiquiatra Osório César. No início de 1931, Tarsila fez uma exposição em Moscou, na antiga União Soviética, onde teve a oportunidade de conhecer e de se sensibilizar com as condições de trabalho e de vida da classe operária.

Assim que retornou ao Brasil, Tarsila do Amaral participou de reuniões do Partido Comunista Brasileiro e foi presa durante um mês. Envolvida com a política e com a causa operária, Tarsila dedicou-se a temas mais sociais, com destaque para telas como “Operários” (1933), “Segunda Classe” (1933), “Orfanato” (1935) e “Costureiras” (1936).

Em meados de 1931, após o rompimento com o médico psiquiatra, Tarsila tornou-se companheira do escritor Luiz Martins, vinte anos mais jovem que a artista, com quem viveu até os anos 50.

Nos anos 40, Tarsila expôs suas telas na primeira e na segunda bienal de São Paulo. Em 1960, ganhou uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1963, foi tema da sala especial na Bienal de São Paulo e, no ano seguinte, fez uma exposição na 32ª Bienal de Veneza, na Itália.

Em 1965, Tarsila foi submetida a uma cirurgia na coluna e um erro médico deixou-a paralítica. No ano seguinte, a artista perdeu sua única filha, Dulce, em virtude de uma crise causada pelo Diabetes. Mais voltada à espiritualidade, Tarsila doava parte do dinheiro que arrecadava com a venda de suas obras a uma instituição administrada por Chico Xavier, de quem se tornou amiga.

Tarsila do Amaral faleceu no dia 17 de janeiro de 1973 e está sepultada no Cemitério da Consolação.

Obras de Tarsila do Amaral

Pátio, Com Coração de Jesus, 1921

O Passaporte, 1922

A Negra, 1923

A Espanhola, 1922

Retrato de Mário de Andrade, 1922

Caipirinha, 1923

Chapéu Azul, 1922

Estudo, 1923

Figura Azul, 1923

Margaridas de Mário de Andrade, 1922

Manteau Rouge, 1923

Auto Retrato, 1924

Árvore, 1922

Rio de Janeiro, 1923

Morro da Favela, 1924

O Pescador, 1925

Sagrado Coração de Jesus, 1926

Abaporu, 1928

A Família, 1925

Religião Brasileira, 1927

Cartão Postal, 1928

Palmeiras, 1925

A Boneca, 1928

Antropofagia, 1929

Floresta, 1929

O Casamento, 1940

Criança, 1949

Retrato do Padre Bento, 1931

Procissão, 1941

Costureiras, 1950

Operários, 1933

Terra, 1943

Porto I, 1953

Segunda Classe, 1933

Praia, 1947

Procissão, 1954

A Metrópole, 1958

Porto II, 1966

Religião Brasileira IV, 1970

*Crédito da imagem: neftali / Shutterstock

Por: Luciana Kuchenbecker Araújo

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