Surrealismo

O surrealismo é um dos movimentos de vanguarda surgidos no início do século XX, na Europa. É caracterizado por imagens de um universo onírico associado ao inconsciente.

Esse selo de 1991, em comemoração ao centenário de Marx Ernst, reproduz sua pintura After us motherhood (1927). |1|
Esse selo de 1991, em comemoração ao centenário de Marx Ernst, reproduz sua pintura After us motherhood (1927). |1|

O surrealismo é um dos movimentos de vanguarda europeus do início do século XX. Ele surgiu em 1919, com as experiências de “escrita automática” realizadas por autores como André Breton, cujos textos, assim produzidos, foram publicados na revista francesa Littératur. Consolidou-se em 1924, com a publicação do Manifesto surrealista, quando, inclusive, recebeu a adesão de artistas provenientes do dadaísmo.

Associado às teorias científicas de Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo, fortemente vinculado às artes visuais, reproduz um universo onírico, relacionado aos desejos e impulsos do inconsciente, de forma a apresentar imagens ilógicas, em oposição, portanto, à arte tradicional. Assim, possui nomes como: René Magritte, Salvador Dalí, Antonin Artaud e Luis Buñuel, na Europa, além de Ismael Nery, Tarsila do Amaral e Murilo Mendes, no Brasil.

Leia também: Tarsila do Amaral – um dos expoentes do modernismo no Brasil

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Origem do surrealismo

O surrealismo, movimento pertencente às vanguardas europeias, teve uma fase de gestação que compreendeu os anos de 1919 a 1924. Esse período foi marcado por experimentações artísticas, realizadas, principalmente, por André Breton (1896-1966), como a “escrita automática”, fruto do automatismo psíquico por ele defendido. Os textos produzidos por esse processo foram publicados na revista Littérature, inaugurada em 1919, da qual Breton é um dos fundadores, e reunidos, posteriormente, no livro Os campos magnéticos, de 1920.

Desejo de amor (1932), obra de Ismael Nery.
Desejo de amor (1932), obra de Ismael Nery.

Já o termo “surrealismo”, criado por André Breton, foi inspirado pelo escritor Guillaume Apollinaire (1880-1918), a partir de seu conceito de “estado de fantasia supernaturalista”. Assim, as bases do movimento foram definidas por Breton, seu criador, em manifesto de 1924, de forma a valorizar a realidade onírica, a irracionalidade e o inconsciente, portanto em sintonia com as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud. Além disso, também integraram o movimento artistas anteriormente pertencentes ao dadaísmo.

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Características do Surrealismo

  • Marcadamente vinculado às artes visuais.

  • Seus artistas buscam um maior entendimento do ser humano.

  • Valorização da fantasia e do universo onírico.

  • Fascínio de seus artistas pelo inconsciente e pela loucura.

  • Simpatia dos seus integrantes pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud.

  • Valorização de desejos e impulsos.

  • Ilogismo e irracionalidade.

  • Antitradicionalismo e subversão.

  • Reprodução de uma suprarrealidade.

  • Liberação de impulsos primitivos.

  • Colagens e assemblagens (colagens com objetos tridimensionais).

  • Justaposição de objetos sem conexão aparente.

Leia também: Arte gótica — expressão artística atuante na Europa entre os séculos XII e XV

Artistas do surrealismo

Artes visuais

  • René Magritte (1898-1967) — belga.

  • Joan Miró (1893-1983) — espanhol.

  • Max Ernst (1891-1976) — alemão.

  • Salvador Dalí (1904-1989) — espanhol.

  • Dorothea Tanning (1910-2012) — americana.

  • Yves Tanguy (1900-1955) — francês.

  • Dora Maar (1907-1997) — francesa.

Literatura:

  • André Breton (1896-1966) — francês.

  • Louis Aragon (1897-1982) — francês.

  • Philippe Soupault (1897-1990) — francês.

  • Michel Leiris (1901-1990) — francês.

  • Antonin Artaud (1896-1948) — francês.

Cinema:

  • Man Ray (1890-1976) — americano.

  • Luis Buñuel (1900-1983) — espanhol.

Escultura:

  • Alberto Giacometti (1901-1966) — suíço.

  • Paul Delvaux (1897-1994) — belga.

  • Victor Brauner (1903-1966) — romeno.

Veja também: Como o cinema surgiu?

Obras do surrealismo

Artes visuais:

  • Tentando o impossível (1928), de René Magritte.

  • Carnaval do Arlequim (1925), de Joan Miró.

  • Os homens não sabem nada (1923), de Max Ernest.

  • A persistência da memória (1931), de Salvador Dalí.

  • Aniversário (1942), de Dorothea Tanning.

  • A tempestade (1926), de Yves Tanguy.

  • Retrato duplo (1930), de Dora Maar.

Literatura:

  • Manifesto surrealista (1924), de André Breton.

  • O camponês de Paris (1926), de Louis Aragon.

  • Aurora (1946), de Michel Leiris.

  • O jato de sangue (1925), de Antonin Artaud.

Cinema:

  • A estrela-do-mar (1928), de Man Ray.

  • Um cão andaluz (1928), de Luis Buñuel.

Escultura:

  • Mulher-colher (1927), de Alberto Giacometti.

  • Sinal (O vento) (1942), de Victor Brauner.

Surrealismo no Brasil

Composição surrealista (1929), obra de Ismael Nery.
Composição surrealista (1929), obra de Ismael Nery.

O surrealismo, assim como os outros movimentos de vanguarda surgidos na Europa no início do século XX, exerceu sua influência sobre alguns artistas do modernismo brasileiro, de forma que é possível identificar traços surrealistas nas obras dos seguintes artistas:

  • Ismael Nery (1900-1934) — pintor.

  • Cícero Dias (1907-2003) — pintor.

  • Tarsila do Amaral (1886-1973) — pintora.

  • Maria Martins (1894-1973) — escultora.

  • Murilo Mendes (1901-1975) — escritor.

Como exemplo de texto surrealista, vamos ler, a seguir, o poema “O pastor pianista”, do livro As metamorfoses (1944), de Murilo Mendes, em que pianos são tratados como se fossem gado:

Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.

Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem

Que reclamando a contemplação,
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.

Leia também: Semana de Arte Moderna — o marco oficial do modernismo brasileiro

Exercícios resolvidos

Questão 01 (Enem)

MAGRITTE, R. A reprodução proibida. Óleo sobre tela, 81,3 x 65 cm. Museum Boijmans van Buningen, Holanda, 1937.

O Surrealismo configurou-se como uma das vanguardas artísticas europeias do início do século XX. René Magritte, pintor belga, apresenta elementos dessa vanguarda em suas produções. Um traço do Surrealismo presente nessa pintura é o(a)

a) justaposição de elementos díspares, observada na imagem do homem no espelho.

b) crítica ao passadismo, exposta na dupla imagem do homem olhando sempre para frente.

c) construção de perspectiva, apresentada na sobreposição de planos visuais.

d) processo de automatismo, indicado na repetição da imagem do homem.

e) procedimento de colagem, identificado no reflexo do livro no espelho.

Resolução:

Alternativa “a”.

A característica surreal da pintura é o fato de o reflexo no espelho mostrar as costas do homem, e não o seu rosto, como deveria ocorrer, segundo as leis naturais. Portanto, há uma justaposição de elementos díspares.

Questão 02 (Enem)

“Todas as manhãs quando acordo, experimento um prazer supremo: o de ser Salvador Dalí.”

NÉRET, G. Salvador Dalí. Taschen, 1996.

Assim escreveu o pintor dos “relógios moles” e das “girafas em chamas” em 1931. Esse artista excêntrico deu apoio ao general Franco durante a Guerra Civil Espanhola e, por esse motivo, foi afastado do movimento surrealista por seu líder, André Breton. Dessa forma, Dalí criou seu próprio estilo, baseado na interpretação dos sonhos e estudos de Sigmund Freud, denominado “método de interpretação paranoico”. Esse método era constituído por textos visuais que demonstram imagens

a) do fantástico, impregnado de civismo pelo governo espanhol, em que a busca pela emoção e pela dramaticidade desenvolveram um estilo incomparável.

b) do onírico, que misturava sonho com realidade e interagia refletindo a unidade entre o consciente e o inconsciente como um universo único ou pessoal.

c) da linha inflexível da razão, dando vazão a uma forma de produção despojada no traço, na temática e nas formas vinculadas ao real.

d) do reflexo que, apesar do termo “paranoico”, possui sobriedade e elegância advindas de uma técnica de cores discretas e desenhos precisos.

e) da expressão e intensidade entre o consciente e a liberdade, declarando o amor pela forma de conduzir o enredo histórico dos personagens retratados.

Resolução:

Alternativa “b”.

O surrealismo está associado a imagens oníricas, isto é, relacionadas a sonhos.

Questão 03 (Enem)

No programa do balé Parade, apresentado em 18 de maio de 1917, foi empregada publicamente, pela primeira vez, a palavra surrealisme. Pablo Picasso desenhou o cenário e a indumentária, cujo efeito foi tão surpreendente que se sobrepôs à coreografia. A música de Erik Satie era uma mistura de jazz, música popular e sons reais tais como tiros de pistola, combinados com as imagens do balé de Charlie Chaplin, caubóis e vilões, mágica chinesa e Ragtime. Os tempos não eram propícios para receber a nova mensagem cênica demasiado provocativa devido ao repicar da máquina de escrever, aos zumbidos de sirene e dínamo e aos rumores de aeroplano previstos por Cocteau para a partitura de Satie. Já a ação coreográfica confirmava a tendência marcadamente teatral da gestualidade cênica, dada pela justaposição, colagem de ações isoladas seguindo um estímulo musical.

SILVA, S. M. O surrealismo e a dança. GUINSBURG, J.; LEIRNER (Org.). O surrealismo. São Paulo: Perspectiva, 2008 (adaptado).

As manifestações corporais na história das artes da cena muitas vezes demonstram as condições cotidianas de um determinado grupo social, como se pode observar na descrição acima do balé Parade, o qual reflete

a) a falta de diversidade cultural na sua proposta estética.

b) a alienação dos artistas em relação às tensões da Segunda Guerra Mundial.

c) uma disputa cênica entre as linguagens das artes visuais, do figurino e da música.

d) as inovações tecnológicas nas partes cênicas, musicais, coreográficas e de figurino.

e) uma narrativa com encadeamentos claramente lógicos e lineares.

Resolução:

Alternativa “d”.

O balé Parade demonstra as inovações tecnológicas nas partes cênicas, musicais, coreográficas e de figurino; isto é, as novas técnicas usadas, como a música de Erik Satie, que “era uma mistura de jazz, música popular e sons reais tais como tiros de pistola”.

Crédito da imagem

|1| Sergey Goryachev / Shutterstock.com  

Por: Warley Souza

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