Escolas literárias no Enem

As escolas literárias no Enem são cobradas por meio da leitura e interpretação de textos. Por isso, o(a) candidato(a) deve conhecer cada uma delas. Assim, você precisa localizar características de estilo no texto lido, principalmente para ter um melhor entendimento dele e eliminar alternativas falsas.

As escolas literárias são movimentos artísticos associados a períodos históricos específicos, os quais você precisa conhecer. Entretanto, há uma tendência, no exame, de apresentar-se textos literários modernistas e contemporâneos. Apesar disso, é importante estudar os outros estilos também.

Leia também: Como estudar Literatura para o Enem

Tópicos deste artigo

Como as escolas literárias são cobradas no Enem?

O conhecimento leva à resposta certa.
O conhecimento leva à resposta certa.

Para fazer as questões de literatura do Enem, é importante saber as características de cada estilo de época, pois será exigido que você identifique elementos que situem cada texto lido em determinada escola literária. Esse conhecimento deve ser usado, também, para eliminar-se alternativas que possam, eventualmente, apontar elementos destoantes do estilo em questão.

No mais, o estudo das escolas literárias é um indispensável auxiliar para o entendimento de um texto literário, pois conhecer as características de estilo ajudam a leitora e o leitor na contextualização do texto. Por exemplo, ao lermos um texto romântico, se sabemos que existe uma idealização amorosa, podemos ter um olhar mais crítico em vez de, simplesmente, aceitar aquele amor como verdadeiro.

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O(a) candidato(a) deve conhecer cada uma das escolas literárias, pois, obviamente, não há como prever quais serão cobradas. No entanto, é possível observar uma preferência dos organizadores por textos do modernismo e da literatura contemporânea (isto é, da década de 1970 até os dias atuais). De qualquer forma, o principal objetivo das questões de literatura é comprovar que você é capaz de ler e compreender um texto literário.

O que são escolas literárias?

Os estilos de época não são exclusividades da literatura. A obra O homem desesperado, de Gustave Courbet, é um exemplo do realismo nas artes visuais.
Os estilos de época não são exclusividades da literatura. A obra O homem desesperado, de Gustave Courbet, é um exemplo do realismo nas artes visuais.

As obras literárias são classificadas de acordo com a época de sua produção e os elementos que elas apresentam. Assim, em cada período histórico, as obras possuem características específicas, decorrentes do contexto de produção. Portanto, as escolas literárias, ou estilos de época, são movimentos literários relacionados a determinado contexto histórico. Desse modo, temos:

Veja também: Gêneros literários no Enem: como esse tema é cobrado?

Questões sobre escolas literárias no Enem

Questão 1 – (Enem) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

A) […] o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas [...]

B) […] era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça [...]

C) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno [...]

D) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos [...]

E) […] o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

Resolução

Alternativa A. O(a) candidato(a) precisa saber que o romantismo é uma escola literária que se caracteriza, também, pela idealização da figura feminina, isto é, seus autores não mostram a mulher com características reais, mas sim fantasiosas. Dessa maneira, quando o narrador diz que “o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas”, ele está fazendo uma crítica ao caráter idealizador das obras românticas, em que o escritor falseia a realidade e não mostra imperfeições como sardas e espinhas.

Questão 2 – (Enem)

Texto 1

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

[...]

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o Sabiá.

DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998.

Texto 2

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo

ANDRADE, O. Cadernos de poesia do aluno Oswald. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.

Os textos 1 e 2, escritos em contextos históricos e culturais diversos, enfocam o mesmo motivo poético: a paisagem brasileira entrevista à distância. Analisando-os, conclui-se que

A) o ufanismo, atitude de quem se orgulha excessivamente do país em que nasceu, é o tom de que se revestem os dois textos.

B) a exaltação da natureza é a principal característica do texto 2, que valoriza a paisagem tropical realçada no texto 1.

C) o texto 2 aborda o tema da nação, como o texto 1, mas sem perder a visão crítica da realidade brasileira.

D) o texto 1, em oposição ao texto 2, revela distanciamento geográfico do poeta em relação à pátria.

E) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem brasileira.

Resolução

Alternativa C. Essa questão apresenta textos de duas escolas literárias. O primeiro faz parte do romantismo, e o segundo, do modernismo. Assim, o(a) candidato(a) precisa conhecer as características desses dois estilos, conhecimento que será de grande auxílio para o entendimento dos textos. Dessa forma, é possível perceber que o ufanismo (característica da primeira geração romântica) está presente no Texto 1, mas ausente no Texto 2, que apresenta um nacionalismo crítico. Já a exaltação da natureza é a principal característica do Texto 1 e não do Texto 2, no qual se sobressai a crítica.

Tanto o Texto 1 quanto o Texto 2 revelam o distanciamento geográfico do poeta em relação à pátria, portanto, nesse caso, eles não se opõem. O Texto 2 é irônico (por exemplo, nos versos: “Minha terra tem palmares”, “E quase tem mais amores” ou “Sem que eu veja a rua 15”), já o Texto 1 não apresenta ironia, mas a exaltação cega da pátria. Por fim, ambos os textos abordam o tema da nação, mas o Texto 2 mantém uma visão crítica da realidade brasileira ao mencionar “palmares” ou “quase tem mais amores”, por exemplo.

Questão 3 – (Enem)

Soneto

Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!

AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é

A) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.

B) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.

C) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.

D) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.

E) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.

Resolução

Alternativa B. Nessa questão, o(a) candidato(a), além de conhecer detalhes da segunda geração romântica, precisa mostrar ser um(a) leitor(a) atento(a). O enunciado afirma que o soneto apresenta um lirismo, isto é, um caráter poético, que o projeta para além de seu tempo de produção. Isso quer dizer que o texto pode ser compreendido também em outras épocas. Assim, você precisa entender o que o poema diz para saber que ele não fala da “irreversibilidade da morte”, como afirma a alternativa A.

É sabido que um dos principais temas da segunda geração romântica é a morte. No entanto, ao ler o poema, observamos que ele não fala da morte real do eu lírico, mas de uma sensação de morte causada pelo abandono, pois é possível perceber que o eu lírico está sofrendo por ter sido abandonado pela pessoa amada. Em nenhum momento, é possível apontar “descontrole das emoções” (alternativa C), “desejo de morrer” (alternativa D) ou “gosto pela escuridão” (alternativa E).

O que se percebe é a tristeza, a melancolia do eu lírico, o que impede a sua reação diante da perda da pessoa amada. Desse modo, nos dois últimos versos do soneto (“Volve ao amante os olhos por piedade,/ Olhos por quem viveu quem já não vive!”), o eu lírico implora a atenção do ser amado, e quando afirma que ele, o eu lírico, “já não vive”, usa uma metáfora, pois não está afirmando que está morto, mas que o desprezo do ser amado provoca-lhe uma sensação de morte.

Questão 4 – (Enem)

LXXVIII (Camões, 1525?-1580)

Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;

Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;

Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:

Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.

CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.

SANZIO, R. (1483-1520). A mulher com o unicórnio. Roma, Galleria Borghese. Disponível em: www.arquipelagos.pt. Acesso em: 29 fev. 2012.

A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos

A) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.

B) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do poema.

C) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.

D) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos usados no poema.

E) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.

Resolução

Alternativa C. A escola literária cobrada nessa questão é o classicismo, estilo de época a que pertencem tanto o poema quanto a pintura. Assim, a alternativa A pode ser eliminada por considerar que o unicórnio da pintura e os adjetivos do poema são realistas. Afinal, unicórnios não existem, e os adjetivos fazem parte de uma idealização característica do estilo, portanto, distante da realidade. Além disso, o classicismo é contrário a qualquer excesso, pois busca o equilíbrio, o que torna a alternativa B falsa.

Já a alternativa D é falsa porque afirma que as obras desprezam a idealização da mulher, quando ocorre o contrário. A alternativa E mostra-se incorreta porque afirma que o retrato ideal mostrado é marcado pela emotividade e pelo conflito interior, o que destoa do classicismo, que valoriza a razão e a harmonia. Dito isso, é possível afirmar que a alternativa correta é C, pois ambas as obras apresentam uma mulher idealizada, retratada com equilíbrio e sobriedade.

Questão 5 – (Enem)

Texto I

Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. [...] Andavam todos tão bem dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.

CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

Texto II

PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm. Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013.

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que

A) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.

B) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, e sua grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.

C) a carta, como testemunho histórico político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.

D) as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —, cumprem a mesma função social e artística.

E) a pintura e a carta são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momento histórico, retratando a colonização.

Resolução

Alternativa C. O Texto I é um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, a principal obra da literatura de viagem do quinhentismo. Já a tela de Portinari é pertencente ao modernismo brasileiro. Além disso, a carta não é uma manifestação artística, mas um documento histórico. Já a tela de Portinari, por pertencer ao modernismo, é caracterizada também pela oposição à arte acadêmica, pois é possível perceber nela traços cubistas.

Assim, a função da carta é informar, já a pintura possui função artística. No mais, as obras foram produzidas em momentos históricos distintos: a carta, no ano de 1500, e a pintura, no século XX. Dessa maneira, a carta mostra o olhar do colonizador, enquanto a pintura demonstra a inquietação dos nativos.

Questão 6 – (Enem)

Camelôs

Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que

engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa

alguma.

Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
— “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai

buscar um
pedaço de banana para eu acender o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...”

Outros, coitados, têm a língua atada.

Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino
ingênuo de
demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da
meninice...
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes

uma lição de infância.

BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

Uma das diretrizes do modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque
A) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.

B) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.

C) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.

D) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.

E) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.

Resolução

Alternativa C. O enunciado dessa questão já informa ao(à) candidato(a) que o texto pertence ao modernismo. Além disso, aponta o cotidiano como característica dessa escola literária, e busca comprovar se você consegue identificar o caráter poético dos elementos do cotidiano presentes na poesia.

Assim, realizar-se um inventário, uma reflexão, uma interlocução ou uma constatação não é o que faz do cotidiano algo lírico, mas sim mostrar-se um mosaico, ou seja, uma combinação de elementos corriqueiros, por meio de uma linguagem lírica, isto é, poética, como a personificação no verso “Alegria das calçadas”.

Questão 7 – (Enem)

Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário do meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que tinha razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneira, tinha inimigos que chegaram a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação de avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de janeiro: Aguilar, 1992.

Obra que inaugura o realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao

A) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.

B) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos.

C) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara.

D) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades.

E) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com o retrato a óleo.

Resolução

Alternativa B. Nessa questão, você deve ser capaz de identificar ironias no texto, já que essa é uma característica realista de Machado de Assis. Portanto, quando o narrador atribui ao “efeito de relações sociais” a forma com que o personagem Cotrim prendia e torturava os escravos, ele está ironizando, isto é, afirmando o oposto do que quer expressar, já que tortura não pode ser considerada como parte das relações sociais. Assim, a ironia é uma forma sutil de mostrar a realidade como ela é, sem retoques ou idealizações.

Por: Warley Souza

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