Parnasianismo no Brasil

O parnasianismo no Brasil surgiu quando o país se despedia da monarquia para dar lugar à república. Era um período em que se valorizava mais a ciência e a razão do que a tradição. Contudo, Olavo Bilac, o principal nome do parnasianismo brasileiro, preferiu ignorar a objetividade do parnasianismo europeu e deixou transparecer o sentimento em suas poesias.

Originalmente, o parnasianismo apresenta objetividade, antirromantismo, descritivismo e rigor formal. Esse último elemento — o rigor formal — foi o principal caracterizador da poesia parnasiana no Brasil. Assim, os versos metrificados e, muitas vezes, sentimentais de Olavo Bilac dividiam espaço com a poesia de outros autores, como Francisca Júlia, Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho e Raimundo Correia.

Leia também: Escolas literárias no Enem

Tópicos deste artigo

Contexto histórico do parnasianismo no Brasil

“A República” (1896), obra de Manuel Lopes Rodrigues (1860-1917).
“A República” (1896), obra de Manuel Lopes Rodrigues (1860-1917).

No final do século XIX, a monarquia brasileira estava em decadência. Essa forma tradicional de governo se mostrava ineficaz em um país endividado e dependente do capital estrangeiro. Nesse contexto, os movimentos abolicionistas e republicanos rivalizavam com a parcela conservadora da sociedade brasileira, que apoiava a monarquia e a escravidão.

O país tomou um novo rumo quando, em 1888, ocorreu a abolição da escravatura e, no ano seguinte, a proclamação da república. Entretanto, a nova república era governada por militares, e o país se viu refém do ditador Floriano Peixoto (1839-1895). Assim, o parnasianismo surgiu, nos últimos anos de disputa entre monarquistas e republicanos, como uma alternativa para o romantismo, que vigorou na maior parte do Brasil Império (1822-1889).

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Características do parnasianismo no Brasil

A poesia parnasiana brasileira, assim como a europeia, apresenta as seguintes características:

  • Descritivismo

  • Rigor formal

  • Uso de polissíndeto

  • Visão antirromântica

  • Realismo lírico

  • Ausência de crítica social

  • Afastamento do eu lírico

  • Defesa da arte pela arte

  • Valorização da Antiguidade clássica

Veja também: Naturalismo – escola literária que se embasou em diversas teorias científicas

Subjetividade de Olavo Bilac

Entretanto, a objetividade parnasiana, no Brasil, acabou não sendo seguida ao pé da letra pelos poetas brasileiros. Especialmente Olavo Bilac, o principal autor dessa escola no país, já que o poeta, muitas vezes, deixa transparecer a subjetividade em seus textos. Portanto, a principal característica definidora do parnasianismo brasileiro é o rigor formal, isto é, versos cuidadosamente metrificados, além da presença de rimas.

Isso pode ser observado no texto a seguir, parte da coleção de sonetos Via-Láctea. Esse poema é composto por versos decassílabos (10 sílabas poéticas) e rimas, portanto, possui rigor formal. Contudo, apresenta marcas de subjetividade, como o excesso de adjetivos: “iluminada”, “trêmulas”, “infinita”, “cintilante”, “límpido”, “mudo”, “sereno”, “doirada”, “ressoante”, “sagrada”, “formosas”, “vaporosas”, “calma”, “bela” e “celeste”.

Além disso, a subjetividade está também no uso de exclamações e reticências, e na presença do eu lírico no poema, isto é, não ocorre o distanciamento do “eu”, exigido para os poemas parnasianos. Desse modo, o eu lírico se mostra em: “quando a vi”, “Mas via”, “E eu olhava-a”, “ó, meu amor!”, “Sonhos meus!”, “eu te buscava”, “Vi que no alto surgias” e “para o meu baixando”:

Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
Que, aos raios do luar iluminada,
Entre as estrelas trêmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.

E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
Ressoante de súplicas feria...

Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
Ilusões! Sonhos meus! Íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.

E, ó meu amor! eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...

Parnasianismo no Brasil

Capa do livro “Poesias”, de Olavo Bilac, publicado pela editora Martin Claret.[1]
Capa do livro “Poesias”, de Olavo Bilac, publicado pela editora Martin Claret.[1]

O parnasianismo teve início no Brasil com a publicação do livro Fanfarras, de Teófilo Dias (1854-1889), em 1882. Teoricamente, durou até o surgimento do simbolismo, em 1893, mas, na prática, após essa data, alguns poetas continuaram a fazer versos nesse estilo.

Principais autores do parnasianismo brasileiro:

  • Alberto de Oliveira (1857-1937)

  • Raimundo Correia (1859-1911)

  • Olavo Bilac (1865-1918)

  • Vicente de Carvalho (1866-1924)

  • Francisca Júlia (1871-1920)

Principais obras do parnasianismo brasileiro:

  • Sonetos e poemas (1885), de Alberto de Oliveira

  • Ardentias (1885), de Vicente de Carvalho

  • Versos e versões (1887), de Raimundo Correia

  • Poesias (1888), de Olavo Bilac

  • Mármores (1895), de Francisca Júlia

Parnasianismo na Europa

O parnasianismo surgiu, na Europa, com a publicação da coleção de poemas intitulada O parnaso contemporâneo, em 1866, na França, país cujos poetas parnasianos mais importantes foram:

  • Théophile Gautier (1811-1872)

  • Leconte de Lisle (1818-1894)

  • José María de Heredia (1842-1905)

Assim, o estilo tomou conta de toda a Europa e chegou a Portugal, que contou com os seguintes autores dessa escola:

  • João Penha (1838-1919)

  • Gonçalves Crespo (1846-1883)

  • Cesário Verde (1855-1886)

  • António Feijó (1859-1917)

Acesse também: Cinco melhores poemas de Florbela Espanca

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (Enem)

Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,

Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se além da serrania
Os vértices de chamas aureolados,

E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.

Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa avulta e cresce

A sombra à proporção que a luz recua.

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua

Surge trêmula, trêmula... Anoitece.

CORREIA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017.

Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo particularmente ajustado à poesia parnasiana. No poema de Raimundo Correia, remete(m) a essa estética

A) as metáforas inspiradas na visão da natureza.

B) a ausência de emotividade pelo eu lírico.

C) a retórica ornamental desvinculada da realidade.

D) o uso da descrição como meio de expressividade.

E) o vínculo a temas comuns à Antiguidade clássica.

Resolução

Alternativa D. O descritivismo é uma característica marcante da estética parnasiana, e está presente no soneto de Raimundo Correia, quando o eu lírico descreve o pôr do sol, isto é, o anoitecer.

Questão 2 – (UENP) Leia o texto a seguir.

A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,

Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,

É a força e a graça na simplicidade.

BILAC, O. Poesias. 15. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1931. p. 339.

Com base nesse poema e nos conhecimentos sobre o parnasianismo, considere as afirmativas a seguir.

I. O eu lírico defende que o sofrimento do poeta na feitura do poema fique explícito para o leitor atento.

II. O último verso ironiza a escola parnasiana por conta de seus excessos formais e exageros metalinguísticos.

III. O poema retoma certos valores preconizados pela tradição clássica, como a forma soneto, por exemplo.

IV. O poema é uma espécie de receita de como se fazer poesia, o que fica sugerido já em seu título.

Assinale a alternativa correta.

A) Somente as afirmativas I e II são corretas.

B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Resolução

Alternativa C. No poema de Bilac, ao utilizar o soneto, o poeta demonstra a sua preferência por uma forma fixa clássica, bastante utilizada durante o renascimento. Além disso, o poema é metalinguístico, ou seja, fala de poesia. Assim, o eu lírico ensina a um poeta como fazer um poema parnasiano.

Questão 3 – (UENP) Sobre o parnasianismo brasileiro, assinale a alternativa correta.

A) É uma continuação do movimento romântico do ponto de vista temático.

B) É uma retomada dos valores árcades, de transformação social.

C) Nega o preceito da “arte pela arte”, pois explora o Carpe diem.

D) Surge como equivalente formal e temático do realismo.

E) Surge como uma reação ao subjetivismo do movimento romântico.

Resolução

Alternativa D. O parnasianismo é equivalente ao realismo, portanto, o estilo de época realismo se refere à prosa, e o parnasianismo, à poesia. Isso porque ambos os estilos são realistas, já que são objetivos e privilegiam a razão. No caso da poesia parnasiana brasileira, a objetividade está na presença do rigor formal. Além disso, apesar de o parnasianismo reagir contra o subjetivismo romântico (como afirma a alternativa “e”), o parnasianismo brasileiro (mencionado no enunciado) não cumpre esse papel, pois permite a subjetividade, contrariando o parnasianismo europeu.

Crédito da imagem

[1] Martin Claret (reprodução)

Por: Warley Souza

Artigos relacionados

Escolas literárias

Do Quinhentismo às tendências contemporâneas: Clique e conheça as diferentes escolas literárias brasileiras!

Escolas literárias no Enem

Veja como as escolas literárias são cobradas no Enem. Saiba o que são as escolas literárias. Leia nossos comentários sobre algumas questões.

Francisca Júlia

Clique aqui, conheça a poetisa brasileira Francisca Júlia e descubra quais são as principais características de suas obras.

Naturalismo

Aprenda o que é o naturalismo. Entenda o contexto histórico e as principais características desse estilo. Saiba quais são as diferenças entre realismo e naturalismo.

O Naturalismo no Brasil

Constate a forma pela qual se desenvolveu tal estética literária!

Olavo Bilac

Clique aqui e descubra quem foi o escritor brasileiro Olavo Bilac. Saiba quais são as principais características de suas obras. Conheça um pouco de sua poesia.

Parnasianismo

Clique aqui, saiba quais são as características do parnasianismo e conheça os principais autores e obras desse estilo de época.

Pré-modernismo

Conheça as características do pré-modernismo. Saiba quais são os principais autores desse período literário. Entenda em que contexto histórico ele está inserido.

Quinhentismo

Saiba quais são as características do quinhentismo. Conheça seus principais autores. Veja qual é a diferença entre literatura informativa e de formação.

Realismo

Saiba quais são as características do realismo, conheça os principais autores e obras desse estilo de época e entenda a diferença entre realismo e naturalismo.