A literatura de informação

Quadro que retrata A Primeira missa no Brasil, um dos assuntos da carta de Caminha
Quadro que retrata A Primeira missa no Brasil, um dos assuntos da carta de Caminha

A princípio, para aquela época, o elemento que caracteriza o termo “literatura” parece soar como algo ainda não oficial. Constatação esta extremamente plausível, pois enquanto na Europa acontecia o Renascimento (séc. XVI), o Brasil acabava de ser descoberto; visto, portanto, como um projeto de riquezas e conquistas a serem exploradas pelos que aqui chegavam, no caso, os portugueses.

Sendo assim, as manifestações literárias inerentes ao Brasil-Colônia constituem um conjunto de obras produzidas por esses personagens (os portugueses), representados pelos viajantes, cujo intuito era o de relatar acerca das descobertas terrestres e marítimas, tendo em vista as consequências econômicas, políticas e morais desses eventos para a sociedade portuguesa.

Tais eventos eram vistos com expressiva notoriedade pelo fato de que antes das Grandes Navegações, os europeus, acreditando estarem no centro do mundo, preenchiam as partes desconhecidas dos continentes e do oceano com elementos fantásticos, por vezes representados pelos deuses. Com o início das expedições portuguesas e espanholas, tal visão foi profundamente abalada, fazendo com que então passassem a ter necessidade de informações relativas e elementos concretos – tão bem revelados pelos relatos anteriormente citados.

Temos notícia desses registros, que nos são revelados da seguinte forma:

* Carta, de Pero Vaz de Caminha, uma vez dirigida ao rei D. Manuel e que relatava o descobrimento e as primeiras impressões da terra então descoberta; 

* Diário de navegação, sob a autoria de Pero Lopes e Souza;

* Tratado da terra do Brasil e história da província de Santa Cruz (1576), de Pero de Magalhães de Gândavo.

* Narrativa epistolar (1583) e Tratados da terra e da gente do Brasil, de Fernão de Cardim;

* Tratado descritivo do Brasil (1857), de Gabriel Soares de Souza;

* Duas viagens ao Brasil (1557), de Hans Staden;

* História da conversão dos gentios, de Pe. Manuel de Nóbrega;

* História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador.

No intuito de conhecermos um pouco mais sobre o assunto, analisemos alguns trechos da Carta de achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, datada de 1º de maio 1500:

Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra-nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!

Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.

E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:

E digo quê:

A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.

Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser!

Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais!

E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.

Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!

Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura a terra, indo os navios pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.

E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.

Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram.

E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

[...]

Fonte: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.htm

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Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

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