Coesão textual na redação do Enem

A coesão é importante na construção do texto, e na redação do Enem não é diferente, pois essa ferramenta estabelece o correto emprego dos recursos de que dispõe a língua, com o objetivo de relacionar termos ou segmentos na construção do texto. Coesão e coerência são configurações distintas em relação ao texto, mas ambas dizem respeito à tecitura textual.

Leia também: Dicas de Redação para o Enem 

Tópicos deste artigo

O que é coesão textual?

Coesão textual é a relação semântica entre um elemento do texto e algum outro elemento determinante para sua interpretação. Em outras palavras, a coesão estabelece-se na capacidade de demonstrar o uso adequado dos recursos de que dispõe a língua portuguesa para relacionar termos ou segmentos na construção de um texto. Veja o exemplo:

“Algoritmos e robôs vasculham informações pessoais e preferências da população na internet. Eles manipulam o comportamento das pessoas como se tangessem gado.”

Perceba que o pronome pessoalEles” exerce mecanismo de retomada dos sujeitos da primeira oração: “Algoritmos e robôs”. Percebe-se, então, a relação semântica exercida pelo pronome, ou seja, temos um período com adequada aplicação coesiva.

A coesão textual ocorre em dois sentidos: gramatical e semântico.

  • Coesão por nível gramatical: visa à conexão dos elementos linguísticos, obedecendo às regras das relações sintáticas possíveis dentro de um texto.
  • Coesão por nível semântico: visa à articulação dos elementos linguísticos que fazem referência a um determinado campo semântico.
A coesão estabelece-se na capacidade de demonstrar o uso adequado dos recursos de que dispõe a língua portuguesa.
A coesão estabelece-se na capacidade de demonstrar o uso adequado dos recursos de que dispõe a língua portuguesa.

Principais mecanismos da coesão gramatical

  • Coesão por substituição

A coesão por substituição ocorre na colocação de um item no lugar de outro elemento do texto ou até de uma oração inteira. Trata-se de uma relação de nível interno ao texto.

Exemplo:

Ana participou da maratona e Ricardo também.

Note que o termo “também” substitui a estrutura “…participou da maratona”. Nesse caso, o sentido da frase fica bem estabelecido por conta do contexto.

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A coesão por substituição pode ocorrer pelo uso dos:

Veja os exemplos:

Coesão por substituição por pronome pessoal:

Exemplo:

Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena Eles são maduros e úmidos e inquietos.

Vinicius de Moraes

O pronome “Eles refere-se ao termo “os lábios da mulher morena”.

→ Coesão por substituição por pronomes possessivos:

Exemplo:

A professora pegou o jornal com seus diferentes temas e cadernos e aproximou o aluno da sua realidade.

→ Coesão por substituição por pronomes relativos:

Exemplo:

Regressando de Goiânia, visitei a chácara de minha tia, a qual me deixou encantado.

Note que o pronome relativo “a qual” substitui o termo “chácara”.

→ Coesão por substituição por pronomes demonstrativos

Exemplo:

A torcida que mais comemorou o balanço das redes foi a do Sport. Este fez mais de 40 gols.

Note que o pronome demonstrativo “Este” substitui o termo “Sport” presente na primeira oração.

Coesão por substituição por pronomes indefinidos

Exemplo:

Os alunos gostaram do evento, apesar de nenhum ter enviado elogios.

→ Coesão por substituição por advérbio

Exemplo:

O parque não hospeda animais. Uma boa dica é a Fazenda Pet, a menos de 15 km dali.

Dali é a contração da preposição “de” mais o advérbio “ali”. Esse termo dá a ideia de localização no espaço a que se refere o termo “parque”.

Veja também: Como fazer uma redação nota 1000 no Enem 

  • Coesão por conexão

A coesão por conexão é estabelecida pelas conjunções e preposições, ou seja, por meio dos conectivos. As conjunções assim como as preposições não desempenham função sintática, fato que destaca ainda mais as funções dos conectivos.

Veja, no exemplo, o uso de conectivos:

A artista plástica Sylvia Martins sempre quis viver em um barco. Contudo, enquanto o sonho não se realiza, a gaúcha de 48 anos vive debruçada sobre o azul do Arpoador, em um loft contemporâneo que conta até com cozinha em forma de proa, de frente para o mar.

Disponível em: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/casa/ Acesso em 26 de outubro de 2020 às 13:00h.

Observe o uso de conectivos a nível de preposição (em, de, sobre, do, com) e o uso da conjunção (contudo).

  • Coesão por omissão

A coesão por omissão consiste na supressão de um termo identificado, facilmente, pelos elementos gramaticais presentes na oração ou pelo próprio contexto. No âmbito das figuras de linguagem, essa supressão é conhecida como elipse.

Veja o exemplo:

Jorge fez o almoço e ao mesmo tempo (Jorge) conversava com sua esposa.

Note que o sujeito do verbo conversar foi omitido por ser facilmente identificável na oração.

Principais mecanismos de coesão semântica

  • Coesão semântica por repetição lexical

A coesão semântica por repetição lexical parte da reiteração de um ou mais termos pertencentes a uma mesma família lexical. Veja o exemplo:

Ecologia é uma ciência e ambientalismo é um movimento. É errado referir-se ao ambientalista como ecologista.

Perceba que as palavras “ecologia” e “ambientalismo” pertencem à mesma família lexical, pois estão vinculadas a uma mesma família etimológica, ou seja, são palavras que possuem a mesma origem.

  • Coesão semântica por sinonímia

A coesão semântica por sinonímia parte da substituição de um termo por outro equivalente em sentido.

Exemplo:

Um avião caiu próximo ao Estádio Federal. A aeronave apresentava problemas técnicos antes da decolagem.

  • Coesão semântica por hiperonímia ou hiponímia

Parte da ideia de um campo de sentido genérico (hiperonímia) e de um campo de sentido específico, isolado (hiponímia).

Exemplo:

Os instrumentos de sopro e de cordas serão vendidos a preço de banana.

Note que o termo “instrumentos” é genérico, pois engloba o conjunto de instrumentos, ou seja, temos um hiperônimo. Já os termos “de sopro” e “de cordas” são específicos, limitam a ideia de instrumento, ou seja, temos dois hipônimos.

Dicas para manter a coesão na redação do Enem

A Competência IV da Matriz de Referência do Enem estabelece que o uso de elementos coesivos no texto é determinante para a qualidade da escrita. Sendo assim, algumas estratégias de coesão podem, facilmente, enriquecer e articular seu texto. Veja, a seguir, algumas dicas para aplicar melhor os recursos coesivos no desenvolvimento textual.

Quando um texto não possui coesão ou termos coesivos não são devidamente colocados, podem ocorrer divergências de sentido, como ambiguidade.
Quando um texto não possui coesão ou termos coesivos não são devidamente colocados, podem ocorrer divergências de sentido, como ambiguidade.

1. Saiba exatamente o que está fazendo

Essa dica é a primeira, pois muitos estudantes não entendem o valor semântico dos elementos coesivos, configurados também por meio dos operadores argumentativos. Por isso, é importante que você tenha algumas expressões internalizadas para que você saiba exatamente como as inserir. Não se preocupe em decorar todas as variantes possíveis de coesão em um texto.

Veja alguns operadores argumentativos:

Somar argumentos a favor da mesma conclusão

também, ainda, nem, não só... mas também, tanto... como, além de, além disso (...)

Indicar argumento mais forte em uma escala a favor da mesma conclusão

inclusive, até mesmo, nem, nem mesmo (...)

Introduzir uma conclusão com relação a argumentos apresentados em enunciados anteriores

logo, portanto, pois, por isso, por conseguinte, em decorrência, resumindo, concluindo (...)

Introduzir uma justificativa ou explicação relativa ao enunciado anterior

porque, porquanto, pois, visto que, já que, para que, para, a fim de (...)

2. Coesão semântica

A coesão semântica é uma excelente estratégia para você não fugir do tema e desviar-se do foco temático. Por isso, é importante que você elenque as palavras-chaves de sua redação e privilegie-as ao longo do texto.

3. Atenção à conexão de frases, orações e parágrafos

A redação do Enem é, antes de tudo, uma “tecitura”, ou seja, todos os elementos precisam estar harmoniosamente conectados. Por isso, preste bastante atenção na conexão de frases, orações e parágrafos, para não utilizar conectivos que não condizem com o valor semântico expresso pelo texto. Veja o exemplo:

A relação entre pais e filhos melhoraria se os pais dessem mais importância aos filhos, onde estes pudessem opinar mais.

Veja a ocorrência de inadequação do uso do pronome relativo “onde” quando não há referência de lugar. Para deixar o período adequado, o pronome relativo “onde” pode ser substituído pela expressão “em que”. Por meio desse exemplo, fica clara a importância de saber-se exatamente a função semântica dos elementos que estabelecerão conexão entre frases, orações e parágrafos.

Acesse também: Proposta de intervenção do Enem 

Como é avaliada a coesão na redação do Enem?

A redação do Enem prevê a avaliação dos aspectos coesivos do texto na Competência IV. Dessa forma, a coesão, na redação do Enem, é valorizada quando diz respeito ao funcionamento da tipologia dissertativo-argumentativa, por meio dos operadores argumentativos. Assim sendo, o texto do candidato é enquadrado em um nível específico de coesão, pois um texto pode possuir vários elementos coesivos, mas pouco articulados.

Em síntese, a Competência IV avaliará a diversidade do uso de palavras presentes no texto que estabelecem coesão e se elas foram usadas adequadamente. Veja, a seguir, os níveis estabelecidos pela competência IV:

A Competência IV avaliará o conjunto de repertórios coesivos presentes no texto e se foram usados adequadamente. [1]
A Competência IV avaliará o conjunto de repertórios coesivos presentes no texto e se foram usados adequadamente. [1]

Competência IV

Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação

Nível 5

Articula bem as partes do texto e apresenta repertório diversificado de recursos
coesivos.

Nível 4

Articula as partes do texto com poucas inadequações e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.

Nível 3

Articula as partes do texto, de forma mediana, com inadequações, e apresenta repertório pouco diversificado de recursos coesivos.

Nível 2

Articula as partes do texto, de forma insuficiente, com muitas inadequações e apresenta
repertório limitado de recursos coesivos.

Nível 1

Articula as partes do texto de forma precária.

Nível 0

Não articula as informações.

A Competência IV apresenta níveis de articulação de recursos coesivos no texto. Para alcançar 200 pontos nessa competência, o candidato precisa fazer uso de diversas palavras que estabeleçam conexão eficaz dentro do texto.

Importância da coesão

A coesão é um elemento determinante para a eficácia do texto, pois ela estabelece o correto emprego dos recursos de que dispõe a língua, com o objetivo de relacionar termos ou segmentos na construção do texto. Quando um texto não possui coesão ou termos coesivos não são devidamente colocados, podem ocorrer divergências de sentido. Portanto, a importância da coesão faz-se na perspectiva de um texto que emite, de forma clara e objetiva, a mensagem pressuposta.

Veja também: Coerência textual na redação do Enem

Coesão e coerência

Coesão e coerência são configurações distintas em relação ao texto. A coesão é caracterizada pelas relações lógico-semânticas que se manifestam na superfície do texto, verificadas por meio dos mecanismos coesivos. A coerência envolve o sentido do texto, e baseia-se na relação: emissor (aquele que emite a mensagem) - receptor (aquele que recebe a mensagem) - contexto (situações que motivam a produção do texto).

Crédito da imagem

[1] Gabriel_Ramos / Shutterstock

Por: Marcelo Sartel

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