Crise de 1929: a Grande Depressão

A Crise de 1929, conhecida como Grande Depressão, teve início com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e foi causada pela superprodução e pela especulação financeira.

Foto tirada em 1936: Florence Owens Thompson, desempregada, cuidava sozinha de sete filhos *
Foto tirada em 1936: Florence Owens Thompson, desempregada, cuidava sozinha de sete filhos *

A Crise de 1929, também conhecida como Grande Depressão, foi uma forte crise econômica que atingiu o capitalismo no final da década de 1920. Essa crise é entendida pelos historiadores como a maior recessão econômica da história do capitalismo e marcou a decadência do liberalismo econômico naquele contexto. Trata-se de uma crise causada pela superprodução de mercadorias e pela especulação do mercado financeiro do país.

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Os antecedentes: a euforia da economia dos Estados Unidos

No período anterior à Grande Depressão, os Estados Unidos possuíam a maior economia do mundo. Diferentemente do que costuma ser difundido, a economia estadunidense já era a maior do mundo mesmo antes da Primeira Guerra Mundial. O conflito só possibilitou que a supremacia em relação a outras nações fosse acentuada. Esse dado é comprovado por Hobsbawm ao afirmar que, em 1913, os EUA já eram responsáveis por 1/3 da produção industrial do mundo |1|.

O domínio da economia americana aumentou profundamente depois que a guerra acabou, em 1918, e a década de 1920 foi marcada por ser um período de grande euforia. Os índices evidenciavam a euforia e o boom da economia do país: os Estados Unidos eram responsáveis por 42% de toda a produção de mercadorias do mundo |2|.

Além disso, os Estados Unidos haviam se transformado no maior credor do mundo, emprestando dinheiro principalmente para as nações europeias que lutaram na Primeira Guerra Mundial e estavam em processo de reconstrução. Também eram responsáveis por comprar 40% de todas as matérias-primas revendidas pelas quinze nações mais comerciais do mundo |3|.

Todo esse crescimento da economia norte-americana refletiu no sentimento da população, com a rápida prosperidade econômica que se estruturou no país. Durante esse período de euforia, foi consolidado o american way of life, termo utilizado para definir o estilo de vida americano, baseado principalmente na aquisição de bens de consumo duráveis, como carros e eletrodomésticos em geral.

Outros dados que comprovam esse boom da economia americana são os seguintes: durante a década de 1920, a taxa média de desemprego esteve na casa dos 4% |4|; a produção de automóveis aumentou 33%; o número de indústrias no país saltou de 184 mil para cerca de 206 mil e o faturamento do comércio quintuplicou. Todos esses dados mostram o crescimento econômico no período entre 1923 e 1929 |5|.

Toda essa expansão da economia, da produção e do consumo foi acompanhada por uma expansão no crédito, isto é, pela disponibilização de empréstimos para o financiamento das atividades econômicas – processo que teve pouca regulação estatal.

Por fim, outro aspecto marcante no período foi a especulação monetária. A bolha de prosperidade da economia era tamanha que os investimentos nas ações das companhias americanas na Bolsa de Valores de Nova Iorque contaram com amplos saltos ao longo da década de 1920.

A quebra da Bolsa de Nova Iorque

A prosperidade da economia americana na década de 1920 foi estabelecida em bases extremamente frágeis. A euforia pelos rápidos lucros obtidos pela especulação monetária escondiam o colapso que estava por vir. Quando a crise chegou, os efeitos foram drásticos. A quebra da Bolsa de Nova Iorque aconteceu em 24 de outubro de 1929. O historiador Eric Hobsbawm explica a crise de 1929 da seguinte maneira:

O que acontecia, como muitas vezes acontece nos booms de mercados livres, era que, com os salários ficando para trás, os lucros cresceram desproporcionalmente, e os prósperos obtiveram uma fatia maior do bolo nacional. Mas como a demanda da massa não podia acompanhar a produtividade em rápido crescimento do sistema industrial nos grandes dias de Henry Ford, o resultado foi superprodução e especulação. Isso, por sua vez, provocou o colapso |6|.

A questão salarial evocada por Hobsbawm na citação acima se refere ao fato de que o período próspero da década de 1920 não foi acompanhado de ganhos salariais para a classe trabalhadora. Essa estagnação salarial fez com que o mercado interno americano não conseguisse expandir a sua capacidade de absorção de mercadorias na mesma velocidade em que elas eram produzidas.

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Com o mercado se estagnando, a esperança dos altos lucros nas ações da Bolsa de Valores ficou estremecida, levando milhares de pessoas a vender suas ações. Esse pânico aconteceu no que ficou conhecido na época como Quinta-feira Negra. No dia 24 de outubro de 1929, mais de 12 milhões de ações foram colocadas à venda, e a demanda por compras era baixíssima |7|.

Essa situação prosseguiu até a segunda-feira, dia 28, quando mais de 33 milhões de ações foram colocadas à venda. Isso fez com que as ações de mercado das empresas americanas caíssem drasticamente de valor – bilhões de dólares simplesmente desapareceram. A economia americana havia quebrado |8|.

Consequências da Crise de 1929

Desempregados em uma fila para receber alimento gratuito
Desempregados em uma fila para receber alimento gratuito

As consequências da Crise de 1929 foram imediatas. Inúmeros investidores foram à falência, já que investiram todo o seu dinheiro em ações que, após a quebra da Bolsa, não valiam mais nada. Isso foi acompanhado pela falência de milhares de empresas em todo o país.

Os impactos da Crise de 1929 na economia dos Estados Unidos podem ser resumidos com base nos seguintes dados:

  1. O desemprego alcançou 27% (antes da crise, era 4% em média);

  2. As importações caíram 70%;

  3. As exportações caíram 50%;

  4. A produção de automóveis foi reduzida em 50%;

  5. O salário médio na indústria caiu 50%;

  6. Milhares de empresas e bancos foram à falência.

Os efeitos da Crise de 1929 se espalharam pelo mundo. Dezenas de países tiveram impactos duros em suas economias, uma vez que o maior comprador – os Estados Unidos – haviam deixado de consumir as mercadorias desses países. O reflexo imediato da crise foi que a economia mundial como um todo retraiu cerca de 1/3. Além disso, a crise econômica causou transformações políticas profundas e abriu caminho para que os regimes fascistas ganhassem força mundo afora.

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Consequências da Crise de 1929 no Brasil

A Crise de 1929 também impactou a economia do Brasil e teve efeito sobre o principal produto do nosso país: o café. Nesse período, o Brasil era responsável por aproximadamente 70% de todo o café comercializado no mundo. O principal comprador dessa mercadoria eram os Estados Unidos, que reduziram drasticamente a compra do produto brasileiro por causa da crise.

Com o café brasileiro estagnado, o valor da mercadoria no mercado internacional caiu sensivelmente e o impacto sobre os cafeicultores foi duríssimo. No auge dessa crise, um golpe aconteceu no país: a chamada Revolução de 1930. Com isso, Getúlio Vargas assumiu provisoriamente o governo e logo tomou medidas para conter os impactos da crise no café brasileiro.

Veja também: Governo Provisório de Vargas

A medida escolhida foi impor uma política que promovesse a valorização do café brasileiro. Assim, o governo optou por realizar a compra das sacas de café para, em seguida, incendiá-las, conseguindo então controlar as oscilações do preço do produto.

|1| HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 101.
|2| Idem, p. 101.
|3| Idem, p. 102.
|4| Idem, p. 95
|5| ROSSINI, Gabriel Almeida Antunes. Crise de 1929. Para acessar, clique aqui.
|6| HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 104.
|7| Idem, nota 5.
|8| Idem, nota 5.

* Crédito da primeira imagem: wantanddo/Shutterstock

Aproveite para conferir a nossa videoaula sobre o assunto:

Por: Daniel Neves Silva

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