Intertextualidade, interdiscursividade e paródia no Enem

A intertextualidade, a interdiscursividade e a paródia se referem à relação entre textos. São conceitos cobrados no Enem, em questões de interpretação textual.

Textos e discursos podem se referir a outros textos e discursos.
Textos e discursos podem se referir a outros textos e discursos.

  Intertextualidade, interdiscursividade e paródia, aparecem, no Enem, principalmente como elementos auxiliares na interpretação de textos. Assim, o(a) candidato(a) precisa saber que intertextualidade tem a ver com a relação entre textos. Já a interdiscursividade é a relação entre os discursos. Por fim, a paródia é um tipo de intertextualidade marcada pela ironia. 

Leia também: Figuras de linguagem: como esse tema é cobrado no Enem?

Tópicos deste artigo

Resumo intertextualidade, interdiscursividade e paródia no Enem

  • Intertextualidade se refere à relação entre os textos.

  • Interdiscursividade está associada à relação entre os discursos.

  • Paródia é um tipo de intertextualidade caracterizada pela subversão.

  • Esses temas são cobrados no Enem, principalmente, como auxiliares na interpretação textual.

Como a intertextualidade, a interdiscursividade e a paródia são cobradas no Enem?

O conhecimento sobre intertextualidade, interdiscursividade e paródia é testado no Enem por meio de questões que, apesar de não tratarem diretamente desses temas, utilizam seus conceitos em uma das alternativas. Portanto, para que o(a) candidato(a) marque a alternativa correta, ele(a) vai precisar ter conhecimento sobre isso, para efeito de eliminação.

As questões também podem apresentar textos de forma comparativa, para que o(a) leitor(a) perceba a relação intertextual ou interdiscursiva entre eles. Ou então elas podem apenas apontar o fenômeno no enunciado da questão, para, em seguida, indicar o seu conceito em uma das alternativas.

Além disso, pode ser solicitada ao(à) candidato(a) a identificação de elementos extralinguísticos que mantêm relação intertextual, interdiscursiva ou paródica com o texto da questão. Além disso, os conceitos de intertextualidade, interdiscursividade e paródia podem simplesmente ser usados como auxiliares na interpretação textual.

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O que é intertextualidade?

A intertextualidade está associada ao diálogo entre textos. Assim, muitas vezes, um texto retoma outro(s). Essa relação pode estar explicitada, com a indicação da fonte. Do contrário, o autor do texto conta apenas com o conhecimento de mundo do receptor.

Veja este trecho da letra de música Flor da idade, de Chico Buarque, composta em 1973:

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo

que amava Juca que amava Dora que amava

Carlos amava Dora

que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava

Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava

a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha

Agora leia o trecho do poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), do livro Alguma poesia, publicado em 1930:

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

[...]

É evidente a relação entre os dois textos, pois a letra da música retoma o poema de Drummond. Percebemos isso por meio de elementos linguísticos, como a semelhança da estrutura sintática.

Veja também: Temas que mais caem em gramática para o Enem

O que é interdiscursividade?

O discurso está relacionado à intenção do enunciador, à sua ideologia e ao contexto sociocultural em que estão inseridos. Nesse sentido, um discurso pode estar apenas reproduzindo outro. Portanto, a interdiscursividade é a relação ou diálogo entre discursos, de forma que o texto é apenas um instrumento de manifestação do discurso.

Por exemplo, o poema Canção do exílio, de Gonçalves Dias (1823-1864), traz um discurso nacionalista, pois defende a superioridade da nação brasileira em relação a outras nações:

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

[...]

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Agora, vejamos este trecho do Hino Nacional Brasileiro:

[...]

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida, no teu seio, mais amores.

[...]

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Perceba que nele há uma retomada linguisticamente explícita do poema romântico de Gonçalves Dias, que configura um processo intertextual. Mas também há interdiscursividade, já que o hino dialoga com o discurso nacionalista do poema.

O que é paródia?

A paródia é um processo intertextual caracterizado pela subversão, crítica e ironia em relação ao texto parodiado. É, portanto, antitética, já que se opõe ideologicamente ao texto imitado, dando-lhe novo sentido, como podemos ver no poema Canção do exílio, de Murilo Mendes (1901-1975):

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Veja também: Como estudar Gramática para o Enem?

Exercícios sobre intertextualidade, interdiscursividade e paródia no ENEM

Questão 1

Cidade grande

Que beleza, Montes Claros.

Como cresceu Montes Claros.

Quanta indústria em Montes Claros.

Montes Claros cresceu tanto,

ficou urbe tão notória,

prima-rica do Rio de Janeiro,

que já tem cinco favelas

por enquanto, e mais promete.

Carlos Drummond de Andrade.

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a

A) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.

B) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.

C) ironia, que consiste em dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.

D) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.

E) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

Resolução

Alternativa C.

Nessa questão, o(a) candidato(o), além de ser capaz de perceber a ironia no texto (a alternativa “c” é a correta), necessita, também, saber identificar elementos intertextuais para excluir a alternativa “b”.

Questão 2

No dia 7 de outubro de 2001, Estados Unidos e Grã-Bretanha declararam guerra ao regime Talibã, no Afeganistão.

Leia trechos das declarações do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e de Osama Bin Laden, líder muçulmano, nessa ocasião:

George Bush:

Um comandante-chefe envia os filhos e filhas dos Estados Unidos à batalha em território estrangeiro somente depois de tomar o maior cuidado e depois de rezar muito. Pedimos-lhes que estejam preparados para o sacrifício das próprias vidas. A partir de 11 de setembro, uma geração inteira de jovens americanos teve uma nova percepção do valor da liberdade, do seu preço, do seu dever e do seu sacrifício. Que Deus continue a abençoar os Estados Unidos.

Osama Bin Laden:

Deus abençoou um grupo de vanguarda de muçulmanos, a linha de frente do Islã, para destruir os Estados Unidos. Um milhão de crianças foram mortas no Iraque, e para eles isso não é uma questão clara. Mas quando pouco mais de dez foram mortos em Nairóbi e Dar-es-Salaam, o Afeganistão e o Iraque foram bombardeados e a hipocrisia ficou atrás da cabeça dos infiéis internacionais. Digo a eles que esses acontecimentos dividiram o mundo em dois campos, o campo dos fiéis e o campo dos infiéis. Que Deus nos proteja deles.

Adaptados de O Estado de S. Paulo, 8/10/2001.

Pode-se afirmar que

A) a justificativa das ações militares encontra sentido apenas nos argumentos de George W. Bush.

B) a justificativa das ações militares encontra sentido apenas nos argumentos de Osama Bin Laden.

C) ambos apoiam-se num discurso de fundo religioso para justificar o sacrifício e reivindicar justiça.

D) ambos tentam associar a noção de justiça a valores de ordem política, dissociando-a de princípios religiosos.

E) ambos tentam separar a noção de justiça das justificativas de ordem religiosa, fundamentando-a numa estratégia militar.

Resolução

Alternativa C.

Essa questão traz textos em que se pode verificar a interdiscursividade, pois ambos apresentam um discurso bélico e religioso. Assim, ao perceber esse discurso em comum, o(a) candidato(a) pode marcar a alternativa correta, isto é, a letra “c”.

Questão 3

Quem não passou pela experiência de ler um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:

I. Quando nasci, um anjo torto

Desses que vivem na sombra

Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964.

II. Quando nasci veio um anjo safado

O chato dum querubim

E decretou que eu tava predestinado

A ser errado assim

Já de saída a minha estrada entortou

Mas vou até o fim.

BUARQUE, Chico. Letra e música. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.

III. Quando nasci um anjo esbelto

Desses que tocam trombeta, anunciou:

Vai carregar bandeira.

Carga muito pesada pra mulher

Esta espécie ainda envergonhada.

PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade em relação a Carlos Drummond de Andrade por

A) reiteração de imagens.

B) oposição de ideias.

C) falta de criatividade.

D) negação dos versos.

E) ausência de recursos.

Resolução

Alternativa A.

É exigido do(a) candidato(a), nessa questão, que ele(a) conheça o conceito de intertextualidade e saiba identificar esse fenômeno nos textos, para, assim, marcar a alternativa “a”.

Questão 4

Anúncio com etiqueta em que se lê “Noites do Terror” pendurada em um pé humano, simulando um necrotério.

Disponível em: www.ccsp.com.br. Acesso em: 26 jul. 2010 (adaptado).

O anúncio publicitário está intimamente ligado ao ideário de consumo quando sua função é vender um produto. No texto apresentado, utilizam-se elementos linguísticos e extralinguísticos para divulgar a atração “Noites do Terror”, de um parque de diversões. O entendimento da propaganda requer do leitor

A) identificação com o público-alvo a que se destina o anúncio.

B) avaliação da imagem como uma sátira às atrações de terror.

C) atenção para a imagem da parte do corpo humano selecionada aleatoriamente.

D) reconhecimento do intertexto entre a publicidade e um dito popular.

E) percepção do sentido literal da expressão “noites do terror”, equivalente à expressão “noites de terror”.

Resolução

Alternativa D.

A paródia “Quem é morto sempre aparece” mantém uma relação de intertextualidade com o dito popular “Quem é vivo sempre aparece”, de forma que a alternativa correta é a letra “d”.

Questão 5

 Charge criticando o trânsito com elementos do painel Guernica.

Jornal Zero Hora, 2 mar. 2006.

Na criação do texto, o chargista Iotti usa criativamente um intertexto: os traços reconstroem uma cena de Guernica, painel de Pablo Picasso que retrata os horrores e a destruição provocados pelo bombardeio a uma pequena cidade da Espanha. Na charge, publicada no período de carnaval, recebe destaque a figura do carro, elemento introduzido por Iotti no intertexto. Além dessa figura, a linguagem verbal contribui para estabelecer um diálogo entre a obra de Picasso e a charge, ao explorar

A) uma referência ao contexto, “trânsito no feriadão”, esclarecendo-se o referente tanto do texto de Iotti quanto da obra de Picasso.

B) uma referência ao tempo presente, com o emprego da forma verbal “é”, evidenciando-se a atualidade do tema abordado tanto pelo pintor espanhol quanto pelo chargista brasileiro.

C) um termo pejorativo, “trânsito”, reforçando-se a imagem negativa de mundo caótico presente tanto em Guernica quanto na charge.

D) uma referência temporal, “sempre”, referindo-se à permanência de tragédias retratadas tanto em Guernica quanto na charge.

E) uma expressão polissêmica, “quadro dramático”, remetendo-se tanto à obra pictórica quanto ao contexto do trânsito brasileiro.

Resolução

Alternativa E.

No balão da charge, o texto verbal “O trânsito no feriadão é sempre um quadro dramático!” apresenta a expressão polissêmica “quadro dramático”, que pode se referir à situação do trânsito ou à obra de Picasso. Assim, a alternativa correta é a letra “e”.

Questão 6

Charge criticando a quantidade de mortes do Brasil imitando um apresentador da previsão de tempo.

Luscar. Cartum.

Nesse cartum, o artista lança mão do recurso da intertextualidade para construir o texto. Esse recurso é constituído pela presença de informações que remetem a outros textos. O emprego desse recurso no cartum revela uma crítica

A) à qualidade da informação prestada pela mídia brasileira.

B) aos altos níveis de violência no país veiculados pela mídia.

C) à imparcialidade dos telejornais na veiculação de informações.

D) à ausência de critérios para divulgação de notícias em telejornais.

E) ao incentivo da mídia a atos violentos na sociedade.

Resolução

Alternativa B.

O texto parodia o gênero previsão do tempo ao falar em “previsão de mortos e feridos”, e, assim, critica os “altos níveis de violência no país veiculados pela mídia”, como aponta a alternativa “b”.   

Por: Warley Souza

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