O Naturalismo no Brasil

Aluísio de Azevedo - autor de O Mulato, obra que demarca o início da era em questão

Torna-se importante enfatizarmos que o Naturalismo e o Realismo representaram duas estéticas literárias contemporâneas às da Europa. Tal contemporaneidade se deve ao fato de que a civilização europeia passava pela Segunda Revolução Industrial, demarcada por duas classes sociais, sendo uma representada pela burguesia (detentora dos meios de produção) e outra pelo proletariado (representada pela massa de trabalhadores que vendiam sua força de trabalho). Em meio a esses dois extremos havia a classe média, integrada pelos funcionários públicos, profissionais liberais e comerciantes. 

Dessa forma, um pouco distante dessa realidade, o Brasil assistia também à formação de uma classe proletária, ocorrida em virtude da extinção do tráfico negreiro e da chegada dos imigrantes para fomentar ainda mais o ciclo econômico do sudeste do país, sobretudo com o avanço das grandes lavouras de café de Minas e São Paulo. Era, portanto, cedo demais para se falar em classe média no Brasil.

Mediante tais pressupostos, torna-se correto afirmar que o Naturalismo foi “importado” da Europa e aqui “tropicalizado” (adaptado às condições sociais existentes), afirmativa essa proferida por Antônio Cândido, um renomado crítico literário. 

Tem-se assim que o marco inicial da era em questão data de 1881, com a publicação de O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Ao enfatizarmos sobre ele, torna-se mister reafirmarmos que o Naturalismo, fortemente influenciado pelas correntes cientificistas da época, trabalha a questão do homem como produto de forças naturais e instintivas, e seu comportamento é determinado conforme o meio, a raça e o momento em que vive. 

Assim sendo, pautados por tais ideologias, os autores naturalistas criaram narradores oniscientes, os quais podem ver tudo sob diferentes ângulos, as descrições são retratadas de forma minuciosa e fidelíssimas aos aspectos exteriores. Partindo-se desse pressuposto, podemos dizer que não há mais um aprofundamento psicológico dos personagens, tal como se fazia na estética realista. O que realmente interessa são suas ações exteriores, uma vez que são observadas de fora para dentro, denotando casos a serem analisados, compreendidos.

Sob forte influência darwiniana, a literatura naturalista aborda temas como a visão biológica da vida e do ser humano, bem como a teoria comportamentalista, respaldada na filosofia de Taine, dando ênfase ao coletivo e obtendo como consequência os desvios psicopatológicos. Razão pela qual ela ganhou uma leva de adeptos, tais como: Inglês de Souza, autor de O Missionário; Adolfo Caminha, com suas obras, Bom crioulo e a Normalista; Domingos Olímpio, autor de Luzia-homem; Manuel de Oliveira Paiva, criador de Guidinha do poço; Júlio Ribeiro, com sua obra A carne; além de Aluísio de Azevedo, com suas magistrais criações: O mulato, Casa de pensão e O cortiço. 

A título de constatação, observemos, pois, alguns fragmentos de o Cortiço, para que, oportunamente, detectemos algumas características mencionadas:

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[…].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.


                                                                             AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.


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Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

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