Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões, escritor português do século XVI, construiu, aos moldes clássicos, uma vasta obra, abrangendo os gêneros épico, lírico e dramático, sendo a mais famosa a epopeia Os Lusíadas, na qual, no plano literário, recuperou a história portuguesa e exaltou os feitos dos navegadores que desbravaram novos horizontes, como o caminho para a Índia. É tido como o mais importante escritor do classicismo e da língua portuguesa.

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Biografia de Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões, considerado o mais importante poeta da língua portuguesa, nasceu em Lisboa, em 1524, e morreu em 1580. Frequentou a Universidade de Coimbra e foi soldado, ocasião em que perdeu um olho em Marrocos. No período em que foi soldado, morou na Índia, em Macau, em Moçambique e na Arábia, o que compreendeu os anos de 1553 a 1570.

Cego de um olho, Luís Vaz de Camões compôs a mais importante obra feita em língua portuguesa: “Os Lusíadas”.

Camões, apesar de ser soldado, tinha um temperamento instável, tendendo a envolver-se em brigas e confusões, além de ser inclinado à boemia. Em razão desse temperamento explosivo, foi preso, em Lisboa, por agressão e, mais tarde, em Goa, por dívidas não pagas.

Em 1572 publicou o poema épico Os Lusíadas, obra em verso que exalta os feitos dos navegantes portugueses, fato que motivou a Coroa portuguesa a pagar uma pensão a Camões. Apesar do prestígio advindo dessa obra e do reconhecimento da monarquia, morreu pobre, sendo enterrado em uma vala comum.

Um fato curioso costuma ser narrado quando se trata da biografia de Camões: ao sofrer um naufrágio quando estava a caminho de Goa, o autor conseguiu salvar não só sua vida como também o manuscrito de Os Lusíadas, sua grande obra-prima. Nessa viagem que terminou em naufrágio, também estava presente sua amada Dinamene. Especula-se que Camões, ao ter que decidir quem salvaria, o manuscrito de sua epopeia ou sua amada, teria preferido o primeiro, deixando, portanto, Dinamene morrer afogada. Esse fato, não comprovado pela história, é mais um elemento folclórico em torno da vida desse gênio da língua portuguesa.

Características literárias de Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões é o principal representante do classicismo, movimento artístico, literário e científico que vigorou no século XVI. Nesse sentido, sua literatura expressa características caras a esse movimento, como:

Conteúdo:

  • Retomada de elementos da cultura greco-latina;

  • Afastamento de elementos da cultura medieval;

  • Valorização do pensamento antropocêntrico em contraponto ao teocentrismo;

  • Valorização da racionalidade;

  • Presença de um tom nacionalista;

  • Idealização da mulher amada;

  • Temas ligados à transitoriedade da vida;

  • Conflito entre o amor carnal e o espiritual.

Forma:

  • Valorização do rigor formal, com a composição de poemas com versos metrificados e rimados;

  • Uso da medida nova, caracterizada pela composição de sonetos com 10 sílabas poéticas;

  • Uso da medida velha, caracterizada pela composição de redondilhas, poemas com cinco ou sete sílabas poéticas.

Veja também: Breve percurso pela literatura portuguesa

Obras de Luís Vaz de Camões

Teatro

Camões escreveu três peças teatrais em forma de autos:

  • El-rei Seleuco (escrito em 1545 e impresso pela primeira vez em 1616)

  • Filodemo (1587)

  • Anfitriões (1587)

Poesia lírica

Camões escreveu poemas em medida velha (redondilhas) e poemas em medida nova (decassílabos). As formas líricas compostas por ele foram o soneto, as éclogas, as odes, as oitavas e as elegias. Em relação ao tema, seus poemas tendem a expressar o neoplatonismo amoroso e reflexões filosóficas.

Soneto 101

Ah! minha Dinamene! Assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que inda tenho por pouco o viver triste?

Nesse soneto, publicado entre 1685 e 1688, Camões expressa a dor da ausência de Dinamene, sua amada que morreu afogada no naufrágio pelo qual passaram. Em relação aos aspectos formais, observa-se o esquema de rima ABBA, ABBA, nos dois quartetos, e CDC, CDC, nos dois tercetos, aos moldes dos sonetos clássicos italianos.

A Morte, que da vida o nó desata,
os nós, que dá o Amor, cortar quisera
na Ausência, que é contr' ele espada fera,
e co Tempo, que tudo desbarata.

Duas contrárias, que uma a outra mata,
a Morte contra o Amor ajunta e altera:
uma é Razão contra a Fortuna austera,
outra, contra a Razão, Fortuna ingrata.

Mas mostre a sua imperial potência
a Morte em apartar dum corpo a alma,
duas num corpo o Amor ajunte e una;

porque assi leve triunfante a palma,
Amor da Morte, apesar da Ausência,
do Tempo, da Razão e da Fortuna.

Nesse soneto, Camões expressou uma característica importante do classicismo: a oposição entre a realização do amor carnal e a dimensão espiritual da morte. Além disso, questões filosóficas, que também fizeram parte das reflexões levantadas por ele em seus poemas, como a Razão e o Tempo, perpassam o conteúdo do soneto.

Acesse também: Poemas da literatura portuguesa

Os Lusíadas

Capa da primeira edição deOs Lusíadas”, clássico da língua portuguesa.

Os Lusíadas (o termo lusíadas significa “lusitanos”, ou seja, o próprio povo português) é um extenso poema publicado em 1572 que narra os feitos heroicos dos portugueses, os quais, sob a liderança de Vasco da Gama, comandante da expedição que descobriu o caminho para as Índias, lançaram-se, em 1498, ao mar em busca de expansão comercial e territorial.

A obra é estruturada em 8.816 versos, compostos em oitava rima, distribuídos em 10 cantos. É organizada em cinco partes: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.

1. Proposição: compreende as estrofes 1, 2 e 3, nas quais o poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, os feitos heroicos dos barões de Portugal.

Estrofe 1

As armas e os Barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram.

2. Invocação: compreende as estrofes 4 e 5 do Canto I, em que o poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedindo a elas inspiração para fazer o poema. A presença desse elemento mitológico é uma importante característica do classicismo, movimento do qual Camões é o principal representante.

Estrofe 4

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.

3. Dedicatória ou oferecimento: compreende as estrofes 6 a 18, em que o poeta dedica seu poema a Dom Sebastião, rei de Portugal:

Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo rei, se de tal gente.

4. Narração: compreende as estrofes 19 do Canto I até a estrofe 144 do Canto X. Nesse trecho, descreve-se a viagem dos portugueses ao Oriente, mais precisamente à Índia.

Canto I: abrange a proposição, a invocação e a dedicatória ou o oferecimento.

Cantos II: nessa parte, narra-se a chegada dos portugueses à África, após passarem por algumas dificuldades em alto-mar. No continente africano, são recebidos pelo rei de Melinde, cidade na costa índica do continente africano, que pede a Vasco da Gama, capitão da tripulação, que conte sobre a história de Portugal.

Canto III: ainda em solo africano, Vasco da Gama narra ao rei de Melinde a história da primeira dinastia portuguesa, desde a formação do Estado independente até a Revolução de Avis. Nesse canto, ao tratar do governo de Dom Pedro, o narrador comenta sobre Inês de Castro, amante do príncipe Dom Pedro e assassinada a mando do rei Dom Afonso IV. Observe a estrofe 120:

“Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruito¹,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna ² não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego³,
De teus fermosos; olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervilhas
O nome que no peito escrito tinhas.”

Glossário:

1. fruito: fruto.

2. fortuna: sorte, destino.

3. Mondego: rio que banha a cidade de Coimbra, às margens do qual Inês foi enterrada logo após ser assassinada.

Monumento a Camões, situado em Lisboa. [1]

Escola literária de Luís de Camões

Luís Vaz de Camões foi filiado ao classicismo, movimento artístico, literário e científico que propunha o cultivo, no século XVI, de uma produção inspirada na cultura greco-latina como contraponto ao pensamento medieval que havia vigorado por tanto tempo na Europa.

O classicismo, em um contexto histórico marcado por profundas transformações sociais, econômicas, culturais e religiosas, defendeu a substituição da fé medieval pelo culto à racionalidade, do cristianismo pela mitologia greco-latina, e propôs a elevação do homem à centralidade do mundo por meio da valorização do antropocentrismo em detrimento do teocentrismo.

Veja mais: Fernando Pessoa – considerado maior poeta da literatura portuguesa moderna

Frases de Luís Vaz de Camões

  • “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.”

  • “Não se pode ter paciência com quem quer que lhe faça o que não faz.”

  • “Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las.”

  • “Amor é fogo que arde sem se ver.”

  • “Um fraco Rei faz fraca a forte gente.”

  • “Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê.”

  • “A verdadeira afeição na longa ausência se prova.”

  • “É covardia ser leão entre ovelhas.”

  • “Basta um frade ruim para dar que falar a um convento.”

  • “Da tensão danada nasce o medo.”

Crédito da imagem

[1] Pe3k / Shutterstock   

Por: Leandro Guimarães

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