Eva Perón

Eva Perón, ou Evita, foi atriz, primeira-dama (1946-1952) e política argentina. Morreu jovem, teve papel basal no populismo, e até sua morte gerou histórias e questões.

Retrato oficial de Eva Perón.
Retrato oficial de Eva Perón.

Eva Perón, conhecida como Evita, foi uma atriz e política argentina, mas é mais conhecida por ter sido primeira-dama no primeiro governo de Juan Domingo Perón, que inaugurou o peronismo.

Saiu do interior para tentar o sonho de atuação em Buenos Aires, com apenas 15 anos. Ficou conhecida por radionovelas e já era artista quando conheceu seu futuro marido, em um evento beneficente. Casaram-se em seguida, e ele, que era ministro, logo foi eleito presidente. Eva passou, então, a exercer papel fundamental no governo, já que, além de ter sido secretária do Trabalho, fazia ações sociais e tinha enorme carisma, elemento necessário em regimes populistas como aquele.

Morreu com apenas 33 anos, vítima de um câncer no útero. Seu corpo foi embalsamado, exposto, roubado, enviado para outros dois países e só retornou à Argentina na década de 1970. Até hoje sua vida e morte são alvo de pesquisas e especulações. Inegavelmente, ela deixou seu legado, sobretudo na conquista do voto feminino.

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Resumo sobre Eva Perón

  • Eva Perón, ou Evita, foi uma atriz, política e primeira-dama argentina que exerceu grande papel no peronismo, o modo argentino de populismo.

  • Sua infância foi pobre e rural. Era filha bastarda de um grande proprietário de terras com sua amante costureira. Evita nunca foi assumida pelo pai.

  • Na adolescência, a mãe, com ela e seus irmãos, deixou a cidade natal, Los Toldos, por causa das humilhações pela esposa e pela família oficial do pai. A partir de então, passaram a morar em Junín.

  • Na nova cidade, Eva conheceu o cinema e começou a sonhar em ser atriz. Aos 15 anos, mudou-se para Buenos Aires, indo atrás desse sonho. Fez filmes e radionovelas.

  • Conheceu Perón em um evento para arrecadar fundos depois de um terremoto. Casaram-se no ano seguinte.

  • Quando Juan Domingo foi preso por conspiradores do governo do qual ele mesmo participava, ela organizou, junto dos sindicatos, uma grande manifestação pela sua liberdade. Essa data passou a ser o Dia da Lealdade Peronista, em 17 de outubro.

  • Com o marido eleito presidente, Eva participou como secretária do Trabalho no governo. Também fazia ações sociais e, por isso, foi chamada de “mãe dos pobres”.

  • Morreu aos 33 anos, vítima de um câncer no útero. Seu corpo percorreu uma verdadeira saga, durante décadas, que envolveu até roubo do seu cadáver.

  • Eva Perón tem adoradores até hoje, e seu legado pode ser percebido na conquista do voto feminino, leis trabalhistas e inúmeros monumentos em sua homenagem na Argentina.

Quem foi Eva Perón?

Eva Perón tem como nome de batismo María Eva Duarte. Antes de casar-se com Juan Domingo Perón (presidente da Argentina por três mandatos) e tornar-se primeira-dama e política, foi atriz. Sua participação no peronismo foi fundamental, como veremos a seguir.

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Infância e juventude de Eva Perón

María Eva Duarte, Eva Perón ou simplesmente Evita, como é conhecida até hoje, nasceu em Los Toldos, interior da Argentina. Seu pai era um grande proprietário rural, e sua mãe, costureira. Ela era uma filha bastarda, ou seja, fruto de um caso extraconjugal. Mesmo que depois de um tempo seus irmãos tenham tido sua paternidade reconhecida, tal direito não lhe foi concedido, e nunca se soube o motivo.

Passou a infância em Los Toldos e parte da adolescência em Junín. A migração para a segunda cidade foi uma imposição da esposa de seu pai, que, além das constantes humilhações praticadas contra a mãe de Evita ao longo do tempo, só deixou que a amante e os seis filhos vissem o corpo do pai de Eva após seu falecimento se prometessem deixar a província. E assim a costureira o fez.

Saindo da zona rural e indo para Junín, Eva teve seu primeiro contato com o cinema. Ela sonhava em ser atriz, no entanto, sofria discriminações por ser pobre e bastarda em uma cidade pequena (embora maior que Los Toldos). Desse modo, aos 15 anos, em 1935, foi para a capital, Buenos Aires, em busca de seu sonho.

No início, não encontrou muitas oportunidades, pois tinha baixa escolaridade e era considerada rebelde. Mesmo assim, apenas dois anos depois, em 1937, estreou em seu primeiro filme. Também foi para o rádio, onde trabalhou em radionovelas, e frequentemente estampava capas de revistas.

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Casamento de Juan Domingo Perón e Eva

Eva já havia constituído carreira como atriz quando, em 1944, conheceu Juan Domingo Perón, um coronel que, naquele período, exercia o cargo de ministro da Guerra e que posteriormente foi chefe da Secretaria de Trabalho e Previdência do governo de Edelmiro Julián Farrell.

A Argentina havia passado por um golpe — dado por oficiais conservadores, católicos e alguns simpatizantes do fascismo — no ano anterior, e Perón compunha o governo golpista.

Eva e Juan Domingo se conheceram durante um evento beneficente para arrecadar fundos para ajudar as vítimas de um terremoto acontecido no país. Começaram a se relacionar e, um ano depois, em 1945, passaram a morar juntos.

Naquele mesmo ano, em outubro, Perón foi preso a mando do presidente Edelmiro, que, depois de ter lhe colocado na vice-presidência, passou a conspirar, temendo a notoriedade alcançada pelas medidas adotadas pelo ministro, que favoreciam trabalhadores.

A prisão durou apenas dias, pois Eva organizou uma grande manifestação para defendê-lo, junto dos “descamisados”, como ela mesma chamava as pessoas da classe trabalhadora. Logo que Perón saiu da cadeia, ele e Eva se casaram.

Eva Perón e o marido Juan Domingo Perón.
Eva Perón e o marido, Juan Domingo Perón.

Trajetória política de Eva Perón

Juan Domingo Perón foi eleito presidente da Argentina em 1946. Sua eleição se deu, principalmente, por causa da popularidade do trabalhismo por ele adotado quando era ministro e graças ao forte carisma e apoio de sua esposa.

Eva não foi somente primeira-dama, mas também assumiu o cargo de secretária do Trabalho, no qual, além de seguir as medidas trabalhistas do marido, estendeu direitos de mulheres, idosos e crianças. Esses grupos continuaram sendo seu foco e, por isso, em 1948, ela criou a Fundação Eva Perón.

As mulheres a interessavam tanto, sobretudo em relação ao mercado de trabalho, tanto que, em 1949, ela fundou o Partido Peronista Feminino. Reivindicou também que as mulheres pudessem votar. Outra pauta levantada diz respeito à sua própria história: ela propôs o fim da distinção entre filhos legítimos e ilegítimos.

Eva Perón e o peronismo

Eva Perón em discurso eleitoral, em 1951.
Eva Perón em discurso eleitoral, em 1951.

O peronismo, como ficou conhecido o período em que o marido de Eva, Juan Domingo Perón, presidiu a Argentina, teve duas fases: de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974.

A principal característica de seus governos foi o populismo, qualificado, entre outras coisas, por apelo ao povo, ancorado em figuras carismáticas. Nesse último ponto especificamente, a primeira-dama auxiliava, com sua simpatia, a capacidade de mobilização e ações sociais. Era tarefa dela, ainda, manter relações com as centrais sindicais, controlando-as, enquanto medidas de distribuição de renda eram tomadas por seu marido e a inflação aumentava.

A Fundação Eva Perón teve papel fundamental no período, pois o assistencialismo garantia que não houvesse manifestações contra Perón, que praticou um populismo nacionalista e autoritário. Também no autoritarismo ela foi importante, pois comprou diversas emissoras de rádio e censurou-as.

Eva Perón participou apenas do primeiro governo peronista, porque, em 1951, ela descobriu um câncer no útero, que a matou no ano seguinte.

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Morte de Eva Perón

Evita faleceu em 1952, com apenas 33 anos, de câncer. Seu velório durou 14 dias, e seu corpo foi embalsamado. Durante um tempo, ficou exposto na sede de um sindicato peronista. A adoração era tamanha que beirava um culto religioso.

Quando os militares deram um novo golpe na Argentina, em 1955, tomaram posse do corpo, roubando-o. Após o furto, o destino do corpo foi alvo de dissidências entre pessoas da marinha, que queriam eliminá-lo com ácido; generais do exército, que admitiam o sepultamento; e Carlos Koenig, chefe da Inteligência argentina, que tinha roubado-o e, em seguida, o manteve sob sua propriedade, realizando atos horripilantes.

Os adoradores de Evita tentavam identificar onde estava seu cadáver e ao menor sinal de que tinha sido encontrado, prestavam homenagens. Isso aconteceu durante dois anos, até que, em 1957, os ditadores enviaram-no para fora do país, a fim de evitar tais idolatrias. Porém, ao contrário, ele acabou virando símbolo de resistência à ditadura.

Peronistas pichavam muros e se manifestavam, perguntando pelo corpo. Em 1970, eles contra-atacaram de maneira violenta: o presidente Aramburu foi sequestrado e depois assassinado, pelos guerrilheiros Los Montoneros, por, entre outros motivos, não dar informações sobre o cadáver.

A crise política na ditadura Argentina piorou após esse episódio, e os militares se viram obrigados a responder à frequente pergunta dos muros: “Onde está o corpo de Eva Perón?”. Assim, em 1971, retiraram-no da Itália, para onde tinham o levado ilegalmente, com outro nome, anos antes, e levaram-no para a Espanha, onde o ex-marido de Evita estava exilado. Foram encontrados diversos sinais de violações, como um dedo arrancado e outras fraturas. Há também rumores de que fora alvo de “bruxarias”.

Quando Juan Domingo Perón pôde voltar para a Argentina, em 1973, a ditadura estava abrandada. Assim, concorreu às eleições e ganhou. Uma de suas primeiras ações foi ordenar que o cadáver da ex-mulher também retornasse ao país. Restauradores foram contratados para que o corpo fosse exposto novamente ao público fanático.

Perón morreu em 1974, e a vice era sua então esposa, Isabelita, que continuou preparando não só o corpo, como também um monumento para Evita.

Em 1976, após novo golpe militar, Isabelita foi deposta, mas os restos mortais de Eva já estavam a salvo, pois tinham passado por processo análogo ao que fazem em abrigos nucleares, colocando-os a muitos metros do chão para evitar novos infortúnios, no cemitério La Recoleta, onde, até hoje, adoradores cultuam o mausoléu e turistas fazem visitas.

Turistas visitando túmulo de Eva Perón.
 O túmulo de Eva Peron, no cemitério La Recoleta, Buenos Aires, é destino turístico.

Legado de Eva Perón

A campanha feita por Eva Perón pelo voto feminino é, sem dúvidas, um dos seus mais importantes legados. Ele foi conquistado em 1947. Outra herança política deixada por ela foi a inserção dos direitos dos idosos na Constituição argentina. Também inaugurou escolas e hospitais. Além disso, distribuiu medicamentos e outras benesses à população, por meio de sua fundação.

Pelos peronistas, é sempre lembrada por ter defendido os trabalhadores ou “descamisados”, segundo ela própria. Já foi chamada de “mãe dos pobres”, e isso, para o populismo, foi excelente, afinal esse regime é paternalista. Se a população tinha um “pai” em Juan Domingo, Evita era a “mãe”.

Sua popularidade também foi basal no governo de seu marido, que, por um tempo, chegou a disputar a fama com ela (o que teria causado crise no casamento, pouco antes de sua morte).

A adoração a Eva Perón foi tamanha que, mesmo após sua morte, serviu como forma de controle das massas pelo marido. O fato de ter sido embalsamada demonstra essa intenção de Perón. Posteriormente, seu cadáver representou resistência à ditadura.

Há inúmeros mitos a respeito de Eva Perón. Há quem a chame de “santa”. Várias pessoas têm histórias para contar a seu respeito, emocionadas. Outras opinam que foi uma manipuladora. Em vida, a visão a seu respeito não foi unânime, já que setores da Igreja Católica tinham preconceito por ela ter sido atriz. Em uma das etapas da “saga” de seu corpo, o Vaticano interferiu em favor dos militares. Ainda assim, em 2019, argentinos peronistas pediram sua beatificação junto ao Santo Ofício.

O dia em que ela organizou a manifestação em defesa de Juan Domingo, quando preso, tornou-se o Dia da Lealdade Peronista, celebrado em 17 de outubro.

Eva escreveu um livro, chamado A razão de minha vida, uma autobiografia, publicado em 1951. No cinema, foi vivida pela cantora pop Madonna. A história sobre seu cadáver virou série na plataforma de streaming Star.

Sua vida e morte ainda rendem estudos, como o artigo publicado na revista World Neurosurgery, em 2011, sugerindo que a primeira-dama passou por uma lobotomia para aliviar as dores do câncer e a ansiedade nos últimos meses de vida|1|.

Evita foi, indubitavelmente, uma figura que, em tão pouco tempo de vida, deixou sua marca na história, sobretudo a argentina.

Notas:

|1| Disponível em: http://glo.bo/vBjajP

Crédito de imagem

[1] Shutterstock / elbud

Por: Mariana de Oliveira Lopes Barbosa

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