A Revolta da Chibata, ocorrida em 1910, marcou uma das principais manifestações de parte da população explorada brasileira contra as duras condições de trabalho e vida impostas pelo governo e Forças Armadas brasileiras.
Comandada pelo gaúcho João Cândido Felisberto, um marujo negro e analfabeto, a Revolta da Chibata tinha por objetivos:
- diminuir a jornada de trabalho;
- aumentar os baixos salários;
- pôr fim aos castigos corporais que sofriam na Marinha brasileira os marinheiros de baixa patente.
É dito aqui principalmente pelo fim dos castigos corporais, pois foi essa atitude dos oficiais da Marinha contra os marujos o estopim para a Revolta da Chibata.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Causas da Revolta da Chibata
- 2 - Como ocorreu a Revolta da Chibata?
- 3 - Fim da Revolta da Chibata
- 4 - Homenagens a João Cândido, o Almirante Negro.
Causas da Revolta da Chibata
A aplicação de castigos corporais na ocorrência até de pequenos atos de indisciplina era comum na Marinha, utilizando para isso do chicote e da palmatória. Esses castigos incidiam sobre os marinheiros de baixa patente, formados principalmente por negros e mestiços, geralmente recrutados à força. Era a manutenção dos castigos infligidos aos africanos escravizados que vieram para o Brasil, no principal bastião das correntes monárquicas, dentro das Forças Armadas brasileiras.
A penalização com o uso do chicote havia sido proibida no Brasil desde a Proclamação da República, em 1889, mas ainda era prática comum na Marinha até 1910. A pena brutal de 250 chibatadas infligida a Marcelino Rodrigues, a bordo do encouraçado Minas Gerais, e a convocação dos marinheiros para assistir a sua execução levaram à sublevação contra essas condições de trabalho.
![O encouraçado Minas Gerais foi de fundamental importância para a Revolta da Chibata.](https://static.preparaenem.com/2020/11/encouracado-de-minas-gerais.jpg)
Como ocorreu a Revolta da Chibata?
Em 22 de novembro de 1910, os marinheiros, sob comando de João Cândido, aproveitaram que o comandante do Minas Gerais, Batista Neves, havia saído do encouraçado para jantar e se apoderaram da embarcação. Quando voltava ao navio, o comandante foi impedido pela fuzilaria, que alvejou sua pequena embarcação. Na tentativa de conter a revolta, acabou morrendo.
O encouraçado São Paulo também foi tomado e os revoltosos enviaram um telegrama ao presidente Hermes da Fonseca, ameaçando bombardear a cidade do Rio de Janeiro, caso o governo não atendesse suas reivindicações.
![João Cândido Felisberto (à direita) liderou a Revolta da Chibata.](https://static.preparaenem.com/2020/11/felisberto.jpg)
Fim da Revolta da Chibata
Após intensas negociações o Senado aprovou o fim dos castigos corporais na Marinha e concedeu anistia aos revoltosos, caso eles depusessem as armas. Os revoltosos aceitaram as condições.
Porém, o decreto não foi cumprido. Outra revolta eclodiu no navio Rio Grande do Sul e no Batalhão de Fuzileiros Navais, localizado na Ilha das Cobras, em 9 de dezembro. O governo ordenou ao exército que atacasse a ilha dando início a uma repressão e perseguição também aos participantes da Revolta da Chibata, tornando, na prática, nulo o decreto. Vários marinheiros foram mortos e outros presos. Os poucos sobreviventes foram enviados ao Acre para trabalhos forçados nos seringais.
João Cândido, o Almirante Negro, sobreviveu e foi encaminhado a um hospital psiquiátrico. Foi julgado em 1912 e considerado inocente. Entretanto, em vida, não foi anistiado e não recebeu nenhuma indenização ou pensão por parte da Marinha. Morreu em 1969.
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Homenagens a João Cândido, o Almirante Negro.
Em 2008, o então presidente Lula sancionou uma lei concedendo anistia a João Cândido, mas houve veto à sua reincorporação à Marinha, o que daria direito a indenizações à família. Também não foi reconhecida a João Cândido a patente de almirante.
![João Cândido Felisberto recebeu diversas homenagens durante sua vida assim como homenagens póstumas.](https://static.preparaenem.com/2020/11/joao-candido-felisberto.jpg)
Lula ainda inaugurou uma estátua em homenagem ao Almirante Negro, colocada na Praça XV de Novembro, no centro do Rio de Janeiro. Um petroleiro da Petrobrás também leva o nome do revoltoso de 1910. Mas a homenagem mais conhecida é a música “O mestre-sala dos mares”, de João Bosco e Aldir Blanc, composta em 1974:
O Mestre-sala dos Mares.
João Bosco/Aldir Blanc
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu.
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala.
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas.
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então:
Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias.
Glória à farofa
à cachaça, às baleias.
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais.
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais.
Mas salve.
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais.
Mas faz muito tempo.
A música foi censurada pela ditadura civil-militar, que, por exemplo, trocou as palavras:
- marinheiro por feiticeiro,
- almirante por navegante,
- bloco de fragatas por alegria das regatas.