Política de Salvação de Hermes da Fonseca

O marechal Hermes da Fonseca foi o terceiro militar a presidir o Brasil
O marechal Hermes da Fonseca foi o terceiro militar a presidir o Brasil

O governo presidencial de Hermes da Fonseca representou os primeiros momentos de crise na estrutura do poder oligárquico durante a República Velha. Hermes da Fonseca era sobrinho de Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil, e representava a volta dos militares ao poder, após a realização de quatro mandatos civis.

Sua condição de militar foi, inclusive, o foco utilizado por seu adversário Rui Barbosa durante a campanha eleitoral de 1910. Hermes da Fonseca foi ainda o primeiro presidente eleito natural de outro Estado, que não São Paulo ou Minas Gerais, após a consolidação da política do café com leite, nos anos finais do século XIX.

Vencedor, Hermes da Fonseca teve que enfrentar já nos primeiros dias de seu mandato a Revolta da Chibata, ação liderada por João Cândido contra as péssimas condições de trabalho na Marinha brasileira. Apesar de ter feito um acordo com os revoltosos para que se rendessem, Hermes da Fonseca não o cumpriu, desencadeando uma repressão aos participantes da revolta.

Na relação do Governo Federal com os governos estaduais, Hermes da Fonseca realizou um processo por ele denominado de Política de Salvações. O argumento para a Política de Salvações era sanear as instituições republicanas e combater a corrupção que existia nas instituições políticas, principalmente dos estados.

O objetivo na realidade era outro. Hermes da Fonseca pretendia retirar do poder as oligarquias estaduais que eram suas oposicionistas ou que apoiavam seus opositores. A Política de Salvações consistia, assim, na retirada dos cargos de presidentes de estado, através de força militar, dos grupos oligárquicos que eram contrários ao governo.

A política salvacionista foi bem-sucedida na Bahia, em Pernambuco e em Alagoas, fracassando na Paraíba, no Piauí e no Rio Grande do Sul. Este estado tinha como senador um dos principais opositores de Hermes da Fonseca, o senador Pinheiro Machado. O senador gaúcho gozava de forte poder junto às oligarquias regionais que tinham pouca expressão, em decorrência da aliança existente entre os latifundiários de São Paulo e Minas Gerais, cristalizada na política do café com leite.

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Inclusive um dos estados em que Pinheiro de Azevedo tinha ligações com a oligarquia que estava no poder, o Ceará, viu estourar uma revolta armada contra a ingerência do poder federal. A Revolução Cearense de 1914 fez com que os oligarcas da família Acioli voltassem ao poder, após uma violenta reação contra a pressão do governo federal que levou Nogueira Acioli a renunciar. Em seu lugar assumiu o candidato derrotado nas eleições de 1912 e próximo a Hermes da Fonseca, Franco Rabelo. A participação de Padre Cícero na instigação da população contra as forças federais foi decisiva para a vitória da família Acioli.

Outro conflito armado que Hermes da Fonseca teve de enfrentar no final de seu mandato foi a Guerra do Contestado. Este conflito que misturava messianismo com a luta por melhores condições sociais foi combatido entre 1913 e 1916 pelas tropas federais, esmagando os grupos revoltosos.

Na área econômica continuou com as políticas de valorização do café e não se enveredou pelos incentivos à industrialização, ligados a uma visão modernizadora da economia brasileira. Porém, em seu governo, Hermes da Fonseca foi obrigado a enfrentar a queda dos preços do café e da borracha, recorrendo ainda a um empréstimo internacional para manter as contas do Estado.

Ao fim de seu mandato, as oligarquias de São Paulo e Minas haviam chegado novamente a um nome de consenso para a disputa do governo federal, elegendo o mineiro Venceslau Brás para presidente.

Por: Tales Pinto

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