Destino Manifesto

O Destino Manifesto foi uma doutrina que guiou os Estados Unidos da América durante a Marcha para o Oeste e tem influência até hoje.

Pintura “Progresso americano”, 1872, de John Gast, que representa a doutrina do chamado Destino Manifesto.
Pintura “Progresso americano”, 1872, de John Gast, que representa a doutrina do chamado Destino Manifesto.

O Destino Manifesto foi uma doutrina essencial para o processo de expansionismo norte-americano e chega a justificar, ainda hoje, suas dinâmicas imperialistas. Tem bases religiosas de que Deus havia predestinado os EUA a conquistarem o oeste, levarem a civilização, a tecnologia e o progresso aos povos desses lugares. Isso justificou o aprisionamento de povos nativos e exploração de riquezas naturais.

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Resumo sobre Destino Manifesto

  • O Destino Manifesto é uma doutrina, ou melhor, um conjunto de ideias com base religiosa difundido nos EUA sob a “crença” de que os estadunidenses tinham a missão divina de expandir seu território e propagar seus modos de vida.

  • Esteve intimamente ligado à expansão norte-americana ao oeste.

  • A Marcha para o Oeste foi a expansão territorial norte-americana para os territórios a oeste das 13 colônias iniciais.

  • Essa doutrina é fundamental, até hoje, para o processo de expansão de fronteiras norte-americanas.

Videoaula sobre Destino Manifesto

O que foi o Destino Manifesto?

O Destino Manifesto foi uma doutrina, um conjunto de ideias com base religiosa, difundida nos EUA na metade do século XIX. Foi na publicação de agosto de 1845 da Democratic Review que essa expressão apareceu pela primeira vez em um artigo do jornalista, escritor e membro influente do Partido Democrata John Louis O’Sullivan, em que defendia abertamente a anexação da então República do Texas. Essa proposição foi alvo de extensos debates e contestações no Congresso, por isso, O’Sullivan, a fim de convencer parlamentares, publicou em seu ensaio que:

[...] é pelo direito de nosso destino manifesto de se espalhar e possuir todo o continente que a Providência nos deu para o desenvolvimento do grande experimento de liberdade e autogoverno federado que nos foi confiado.|1|

Ele continuou publicando sobre o assunto em outros jornais e revistas, sempre usando esse termo, que se popularizou, justamente, no período em que os EUA estavam expandindo seu território, especialmente sobre o México.

A doutrina do Destino Manifesto nada mais é que a crença de que os estadunidenses têm a missão divina de expandirem seu território e levarem seus modos de vida para os outros, formando uma grande nação.

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Contexto histórico do Destino Manifesto

A confecção do Destino Manifesto esteve intimamente ligada à expansão norte-americana ao oeste. Após sua independência, em 1776, os EUA eram formados apenas pelas 13 colônias, a leste.

Em 1803, a França, que realizava suas guerras de conquista territorial com Napoleão Bonaparte, possuía territórios nas Américas, a oeste das colônias. Em um acordo financeiro, a fim de financiar essas batalhas, Napoleão ofereceu ao recém-formado Estado americano as terras que, mais tarde, se tornariam o estado da Louisiana.

No ano seguinte, a compra foi realizada e foram necessários mecanismos para a apropriação dessas terras e outras mais que se encontravam a oeste. Dessa forma, com o início da ocupação, foram forjados diversos meios para fundamentar e realizar a expansão para esses territórios, como foi o caso do Destino Manifesto.

Leia também: As mudanças ocorridas nos Estados Unidos durante o século XIX

Expansão para o oeste

A chamada Marcha para o Oeste dos EUA aconteceu ao longo de todo o século XIX, mas pode-se dizer que o país já havia começado sua expansão logo depois de se tornar independente, em 1776. Poucos anos depois, começou a comprar territórios até então pertencentes à França, Rússia e Espanha (os estados de Luisiana, Alasca e Flórida respectivamente). Além disso, os ingleses, vencidos na guerra, também assinaram tratados, renunciando a suas terras nas 13 colônias.

Em 1862, o presidente Abraham Lincoln decretou a Lei do Povoamento (Homestead Act), estimulando que a população fosse rumo às terras a oeste dos EUA, povoando-as e cultivando-as por, no mínimo, cinco anos. Muitas dessas pessoas foram para as fronteiras do Texas, até então pertencente ao México, que cedeu porções de terra para que esses americanos pudessem se estabelecer. Porém, ao se instalarem, eles não se submeteram às leis mexicanas, gerando os primeiros conflitos EUA-México, que se estenderam por anos.

Primeiramente, em 1836, o governo mexicano conseguiu conter o conflito, porém, na sequência, a retaliação dos EUA veio com o envio de um enorme contingente do exército. O México perdeu a batalha e o Texas passou a ser território estadunidense.

Dez anos depois, entre 1846 e 1848, foi a vez do mesmo acontecer na Califórnia, e, de novo, o México teve de abrir mão de seus territórios diante do poderio bélico norte-americano.

Todo esse poder de guerra — que muitas vezes era cruel, sobretudo com as populações indígenas, que tiveram suas terras tomadas, sua população violentada e cultura devastada — era “justificado” com base no Destino Manifesto, que, muito mais do que a autorização, simbolizava a missão divina de fazer todo o necessário pela expansão.

A população dos EUA dobrou durante o século XIX. Isso porque, além das anexações de territórios, houve incentivos à vinda de imigrantes europeus. A Europa naquele momento passava por um boom demográfico, que logo se tornaria uma queda, devido ao alto índice de migrações. Países como a Irlanda, por exemplo, passaram por períodos de fome — conhecida, nesse país, como a “fome da batata”, entre 1845 e 1848 —, fazendo com que muitos migrassem para as Américas em busca de melhores condições de vida. Assim, a expansão dos EUA se deu também pelo aumento considerável do número de habitantes e com a participação de imigrantes europeus.

Foram, posteriormente, construídas ferrovias que conectavam o país; o setor agrícola foi enxertado, bem como a oferta de matérias-primas para a indústria. Criou-se um mercado consumidor para os produtos industrializados em ascensão. Essa Marcha para o Oeste é, até hoje, vangloriada pelos americanos e motivo de orgulho. Para saber mais sobre a Marcha para o Oeste, clique aqui.

Qual foi a importância do Destino Manifesto?

A importância dessa doutrina foi fundamental para o processo de expansão de fronteiras norte-americanas, bem como para a criação de uma identidade norte-americana, com ares de uma superioridade expansionista.

Seu modo de vida, o famoso american way of life, sua religião e sua “ética protestante”, como diria o sociólogo Max Weber, também foram difundidos, sempre com a “democracia”, já presente no Destino Manifesto, como base para todo o movimento. Não foram as mesmas doutrinas ao longo do tempo; outras foram formuladas em sua história, mas sempre justificando o expansionismo e, depois, o próprio imperialismo.

O século XIX, não só nos EUA, foi marcado por formulações para a formação de Estados em países recentemente independentes ou que tinham passado por processos de expansão. Unificações de línguas, culturas, territórios, defesas militares, estruturas jurídicas, moedas, entre outros pontos, foram fundamentais para desenvolver na população o sentimento de pertencimento.

Nesse sentido, a doutrina do Destino Manifesto foi pioneira ao despertar essa sensação na população estadunidense, não só para expandir, mas, depois, para unificar, causando, como vimos, um forte senso de orgulho nela.

Nota

|1| MARQUES DOS SANTOS, S. Um povo eleito em uma terra prometida: o mito do destino manifesto e as raízes do nacionalismo. Revista Aedos, [S. l.], v. 14, n. 32, 2023. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/121392. Acesso em: 28 fev. 2023.

Por: Mariana de Oliveira Lopes Barbosa

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