A carnificina paraguaia

Foto do século XIX de duas crianças que participaram da Guerra do Paraguai.
Foto do século XIX de duas crianças que participaram da Guerra do Paraguai.
A Guerra do Paraguai marcou a história militar brasileira como sendo a maior empreitada já feita por nossas tropas. Contudo, a grandiosidade desse feito também foi marcada por tensões e escolhas que não deixam de conferir lamentáveis aspectos a esse momento da história nacional. Apesar das motivações evidentes para a participação brasileira no conflito, a condução do mesmo ganhou um desfecho que rouba o possível brilhantismo da ação.

Indubitavelmente, o tom agressivo da política expansionista do ditador paraguaio, Solano Lopez, dificultava a criação de qualquer outro tipo de solução que escapasse ao confronto direto. A própria maneira abrupta com que as forças paraguaias se indispuseram com o Estado brasileiro e as antigas rixas perpetuadas junto aos argentinos mostravam os grandes empecilhos criados. Por mais simples e coerente, a proposta tupiniquim de livre navegação na bacia platina se tornou uma mera utopia.

Em certo sentido, a inserção dos brasileiros na guerra teve uma relativa importância na construção de um sentimento de nacionalidade. O reconhecimento de um inimigo comum, a rotina de celebrações patrióticas e a participação de indivíduos de classes sociais diferentes, permitiram uma experiência comunitária nunca antes observada. Além disso, as instituições militares foram prestigiadas sendo, após a guerra, celebradas como mantenedoras de nossa soberania.

Para alguns historiadores, o grande erro que transformou a Guerra do Paraguai em uma lastimável experiência tem a ver com a teimosia do imperador Dom Pedro II e de seu genro, Conde D’Eu. No início de 1869, as forças da Tríplice Aliança já não tinham nenhum batalhão que pudesse ameaçar sua visível superioridade bélica. Nessa mesma época, as forças aliadas já haviam conseguido tomar a capital Assunção e o ditador paraguaio havia se afugentado na região das cordilheiras.

Teoricamente esse teria sido o momento ideal para que aquela desgastante guerra de quatro anos chegasse ao seu fim. O ressentimento causado por aquela guerra fez com que as autoridades brasileiras se mostrassem favoráveis à captura do refugiado Solano Lopez. Durante mais um ano, os exércitos do país tiveram que dar continuidade àquela luta que passava a perder completamente o sentido. De justificável, a guerra se tornava um prato cheio para todos aqueles que se opunham politicamente ao governo imperial.

Sem contar com mais nenhum tipo de contingente minimamente preparado, Lopez realizou a convocação obrigatória de mulheres, crianças e idosos que estavam ao seu alcance. A morte desses indefesos acabou dando o fim trágico que o conflito sul-americano poderia de diversas formas ter evitado. Até que Solano fosse finamente morto, em março de 1870, um grande número de vidas foi brutalmente ceifado pela sandice de nossas autoridades.

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Por: Rainer Sousa

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