Urbanização e mudanças sociais no Império

As melhorias urbanas e o surgimento de novos serviços nesses espaços contribuíram para as mudanças sociais no Império, alterando a estrutura da população brasileira.

Rua Direita, no Rio de Janeiro, em pintura de Félix Taunay (1795-1881)
Rua Direita, no Rio de Janeiro, em pintura de Félix Taunay (1795-1881)

O Segundo Reinado no Brasil Império foi um período marcado por uma crescente contradição entre a modernização de parte da sociedade brasileira e a permanência dos traços socioeconômicos e culturais dos séculos anteriores de colonização.

Após a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, a cidade do Rio de Janeiro passou por profundas mudanças, sendo que na segunda metade do século XIX o mesmo aconteceria com a cidade de São Paulo. As duas cidades sobressaíam-se sobre as demais em decorrência de a primeira ser a capital do Império, e a segunda em razão do crescimento da economia cafeeira. Essas mudanças no cenário urbano iriam também alterar a composição social, modificando a estrutura de classes da sociedade.

No Rio de Janeiro, a iluminação pública a gás foi instalada em 1854 e, em São Paulo, em 1872. Serviços de transporte foram criados, surgindo as carruagens e os bondes puxados por tração animal nas ruas das cidades para viabilizar a locomoção de parte da população. Um incipiente sistema de coleta de esgoto foi instalado na capital, a partir da década de 1860, para substituir o serviço realizado por escravos, conhecidos como tigres, que transportavam os dejetos domésticos em grandes tonéis para despejá-los no mar.

Teatros e outras formas de entretenimento, como saraus e festas em casas de pessoas ilustres, foram se constituindo para atender às demandas da população que crescia. Em 1883, cerca de 400 mil pessoas habitavam a cidade do Rio de Janeiro, contra as 79 mil que existiam em 1821.

Essa nova dinâmica urbana, diferente da do período colonial, criou ainda a necessidade de novos serviços a serem prestados à população que habitava as cidades. Serviços como os de carregador, vendedor ambulante, barbeiros, artesãos, domésticos, aguadeiro, cocheiro, ama de leite, entre outros, passaram a ser procurados. Inicialmente eram realizados pelos escravos de ganho que ocupavam as ruas das cidades. Essa função proporcionava em muitos casos um acúmulo de dinheiro que garantia a liberdade deles.

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Porém, depois da segunda metade do século XIX, a proibição do tráfico de africanos escravizados fez com que os serviços fossem realizados por homens livres, principalmente imigrantes portugueses. A liberação de capitais que eram utilizados na compra dos escravos fez com que outros setores econômicos fossem beneficiados. Surgiram indústrias, bancos, casas comerciais, companhias de seguros, navegação, transporte urbano e gás.

Para exercer as funções, apareceram operários, artesãos, trabalhadores das casas comerciais e bancárias, comerciantes, pequenos proprietários e uma grande quantidade de funcionários públicos que preenchiam as estruturas da burocracia estatal. Em São Paulo, por exemplo, a burguesia do café passava a morar na capital, retirando seus filhos das fazendas e levando-os para a cidade, principalmente com o objetivo de educá-los.

Na estrutura social escravocrata do Império, onde na camada superior se encontravam os fazendeiros latifundiários e, na inferior, os africanos escravizados, esses grupos sociais dariam origem ao que alguns especialistas chamam de camadas médias urbanas, ou classe média. A adoção de hábitos distintos da sociedade escravista rural, principalmente em virtude da influência da cultura europeia, iria alterar o cenário urbano e a composição social da população de parte do Império, criando as bases materiais de questionamento da estrutura socioeconômica vigente, que somadas às lutas escravas pela liberdade e à Guerra do Paraguai, poriam fim ao regime político iniciado com a Independência do Brasil.

Por: Tales Pinto

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