Caio Fernando Abreu

Por meio de uma linguagem híbrida e pouco convencional para os padrões literários, Caio Fernando Abreu conquistou milhares de leitores fiéis à sua obra.

Capa do livro Para sempre teu, Caio F. Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando Abreu, da jornalista Paula Dip. Editora Record
Capa do livro Para sempre teu, Caio F. Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando Abreu, da jornalista Paula Dip. Editora Record

Sobre todos aqueles que continuam tentando, Deus, derrama teu Sol mais luminoso. […]

[…] Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio - Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse do zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.”

(Caio Fernando Abreu: Zero grau de Libra, do livro “Pequenas epifanias”)


360 graus: Inventário astrológico de Caio Fernando Abreu
, da escritora e astróloga Amanda Costa. Editora Libretos

Literatura, astrologia e cultura popular. Essas foram três grandes paixões na vida do escritor, jornalista e dramaturgo Caio Fernando Abreu. Nascido no dia 12 de setembro de 1948, às 8h17 min de um domingo, sob o signo de Virgem e ascendente em Libra, o gaúcho da cidade de Santiago declarava abertamente suas paixões, estudando a vida através do trânsito de seu mapa astral que ele mesmo fazia à mão. A vida do escritor foi pintada com cores intensas, próprias de quem não negligencia nenhum de seus dias.

Caio era plural, assim como sua obra. Logo cedo, aos seis anos de idade, escreveu seu primeiro texto. Na adolescência, durante o colegial cursado em Porto Alegre, viu um de seus contos, “O príncipe sapo”, ganhar as páginas da revista Cláudia, publicação de grande notoriedade e alcance. Seguiu a sina vida afora: em suas passagens por cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, escrevia para diversas revistas e jornais ao mesmo tempo em que se dedicava à Literatura – a maior das paixões – e à dramaturgia. Quando o tempo para a maior paixão faltava, ameaçando assim a necessidade quase visceral de escrever, Caio queimava seus navios e deixava tudo por essas coisas de letras, tal qual o genial Lima Barreto, que no início do século XX disse essa célebre frase.


Uma das principais companhias de Caio: A máquina de escrever que apelidou de Virginia Woolf, em homenagem à escritora que tanto o influenciou.*

A vida intensa de quem morou em diversas cidades do Brasil e da Europa fez de Caio um cosmopolita, e o contato com diferentes realidades e culturas reverberou em sua obra, cuja linguagem muito próxima ao coloquialismo arrebatou milhares de leitores. O flerte com os diversos tipos de texto fez com que sua escrita se tornasse híbrida: nela podemos encontrar elementos da poesia, da prosa, do teatro, do conto, da crítica literária, – dentre outros –, entrelaçando-se, compondo um interessante mosaico de influências que culminou em um estilo não literário. Por sua linguagem pouco convencional para os moldes literários vigentes, Caio afastou-se do modelo canônico tão festejado pela Academia ao mesmo tempo em que caiu nas graças de um público que prova a atemporalidade de sua obra com inúmeras referências ao escritor em postagens nas redes sociais.

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Aos 47 anos, no dia 25 de fevereiro de 1996, Caio Fernando Abreu faleceu na capital gaúcha, Porto Alegre, vitimado por complicações decorrentes do vírus HIV. Sua obra, tão influenciada pelos grandes escritores que leu (Clarice Lispector, Hilda Hilst, Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, entre outros), pelos filmes aos quais assistiu e pelas músicas que ouviu (Caio dizia ser mais influenciado pela música de Cazuza e Rita Lee do que por Graciliano Ramos), continua viva, perpetuada nas páginas de seus livros e na memória afetiva de seus leitores. Em 2014, ano em que se completaram dezoito anos de sua passagem, foi organizada a exposição “Caio Fernando Abreu: Doces Memórias”, realizada em Porto Alegre, no Centro Cultural Érico Veríssimo, nos dias 02 de julho a 13 de setembro, com curadoria de Márcia de Abreu Jacintho, irmã do escritor, pesquisa de Lara Souto Santana e fotografias de Luciane Pires Ferreira.


Imagens da exposição “Caio Fernando Abreu: Doces Memórias”, com curadoria de Márcia de Abreu Jacintho e pesquisa de Lara Souto Santana.**

 

Para conhecer a obra de Caio Fernando Abreu:

 

Inventário do irremediável

Limite Branco

O ovo apunhalado

Pedras de Calcutá

Morangos mofados

Triângulo das Águas

Os dragões não conhecem o paraíso

Mel & Girassóis

A maldição do Vale Negro

As frangas

Onde andará Dulce Veiga?

Ovelhas Negras

Estranhos estrangeiros

Pequenas epifanias

A Vida Gritando nos Cantos

A comunidade do arco-íris

Teatro completo

Girassóis

Fragmentos: 8 histórias e um conto inédito

Cartas

Caio 3 D: O Essencial da Década de 70

Caio 3 D: O Essencial da Década de 80

Caio 3 D: O Essencial da Década de 90

Melhores contos

Além do ponto e outros contos

#Caio Fernando Abreu de A a Z

 

Caio Fernando Abreu na internet:

 

Páginas do Facebook:

Caio Fernando Abreu.

Associação Amigos do Caio Fernando Abreu.

Blog:

Blog “Letras Partilhadas”.

*/**Imagens gentilmente cedidas por Márcia de Abreu Jacintho, irmã do escritor.

*** O artigo contou com a colaboração de Márcia de Abreu Jacintho e Lara Souto Santana, dona do blog Letras Partilhadas, Mestre em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo e autora de dissertação sobre o escritor.

Por: Luana Castro Alves Perez

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