Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar foi uma escritora brasileira do século XX. Faz parte da “geração mimeógrafo” e é um dos principais nomes da poesia marginal dos anos 70.

Capa do livro “Ana C.” (na foto), de Ítalo Moriconi, publicado pela editora e-galáxia. [1]
Capa do livro “Ana C.” (na foto), de Ítalo Moriconi, publicado pela editora e-galáxia. [1]

 Ana Cristina Cesar foi uma escritora brasileira que nasceu em 2 de junho de 1952, no Rio de Janeiro. Fez faculdade de Letras na PUC-RJ e mestrado em Tradução Literária pela Universidade de Essex, na Inglaterra. Além disso, trabalhou como professora e escreveu para periódicos como o jornal Folha de S.Paulo.

A poetisa faz parte da “geração mimeógrafo”, responsável pela poesia marginal dos anos 1970. Assim, as obras da escritora, como seu livro A teus pés, são caracterizadas pela fragmentação e pela presença de temática social.

Veja também: Dez haicais de Paulo Leminski — outro nome da poesia marginal

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Biografia de Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar nasceu em 2 de junho de 1952, no Rio de Janeiro. Desde muito cedo, a menina se interessou por poesia. Assim, já criava poemas com quatro anos e publicou alguns deles quando tinha sete no jornal Tribuna da Imprensa. Um caminho natural para a filha de dois intelectuais de classe média.

O pai da escritora — Waldo Cesar (1923–2007) — era sociólogo e um dos fundadores da editora Paz e Terra. Já sua mãe — Maria Luiza Cruz — era professora de Literatura. A escritora ingressou no Colégio Bennett, onde sua mãe trabalhava, em 1954. Mais tarde, fundou, nesse colégio, o jornal Juventude Infantil.

Assim, a adolescente, filha de protestantes e em pleno regime militar, encontrou na poesia marginal o seu lugar de contestação. Mais tarde, em 1969, a poetisa se mudou para a Inglaterra, onde fez intercâmbio durante um ano. Na década de 1970, escreveu para periódicos como Jornal Opinião e Folha de S.Paulo.

Formada em Letras, em 1975, pela PUC do Rio de Janeiro, iniciou mestrado em Comunicação na UFRJ em 1978. Também atuou como professora. Voltou à Inglaterra, em 1979, para fazer mestrado em Tradução Literária, na Universidade de Essex. Porém, com 31 anos de idade, em 29 de outubro de 1983, a autora se suicidou no Rio de Janeiro.

Características da obra de Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar faz parte da chamada “geração mimeógrafo”, dos anos 1970. Poetas dessa geração faziam uma poesia que era divulgada pelos próprios autores. Portanto, eles não dependiam de editoras. Essa independência propiciava uma maior liberdade no ato criativo, e, por isso, a autora não seguia estruturas literárias tradicionais.

Sua poesia apresenta caráter prosaico e intimista. Sobressaem a ironia e fragmentação. Também é possível perceber a crítica social e o questionamento acerca do papel da mulher na sociedade. No mais, a escritora recorre a versos longos ou à prosa poética para fazer expressão de suas inquietações contemporâneas.

Saiba mais: Caio Fernando Abreu — o autor nacional que usava uma linguagem atípica em suas obras

Obras de Ana Cristina Cesar

  • Cenas de abril (1979)

  • Correspondência completa (1979)

  • Luvas de pelica (1980)

  • Literatura não é documento (1980)

  • A teus pés (1982)

  • Inéditos e dispersos (1985)

  • Crítica e tradução (1999)

Poemas de Ana Cristina Cesar

Os poemas de Ana Cristina Cesar são marcados pela fragmentação. É o que percebemos no poema “Conversa de senhoras”, do livro A teus pés. Assim, de forma irônica, o eu lírico reproduz falas femininas, em versos livres e com um conteúdo que se assemelha a um diálogo caótico:

Conversa de senhoras

Não preciso nem casar
Tiro dele tudo que preciso
Não saio mais daqui
Duvido muito
Esse assunto de mulher já terminou
O gato comeu e regalou-se
Ele dança que nem um realejo
Escritor não existe mais
Mas também não precisa virar deus
Tem alguém na casa
Você acha que ele aguenta?
Sr. ternura está batendo
Eu não estava nem aí
Conchavando: eu faço a tréplica
Armadilha: louca pra saber
Ela é esquisita
Também você mente demais
Ele está me patrulhando
Para quem você vendeu seu tempo?
Não sei dizer: fiquei com o gauche
Não tem a menor lógica
Mas e o trampo?
Ele está bonzinho
Acho que é mentira
Não começa

Já no poema “Sumário”, também do livro A teus pés, cada verso parece ser o título de um texto. Desse modo, cada um desses textos não escritos fica na imaginação de leitores e leitoras, que devem preencher essa grande lacuna:

Sumário

Polly Kellog e o motorista Osmar.
Dramas rápidos mas intensos.
Fotogramas do meu coração conceitual.
De tomara-que-caia azul-marinho.
Engulo desaforos mas com sinceridade.
Sonsa com bom-senso.
Antena da praça.
Artista da poupança.
Absolutely blind.
Tesão do talvez.
Salta-pocinhas.
Água na boca.
Anjo que registra.

Crédito de imagem

[1] Editora e-galaxia (reprodução) 

Por: Warley Souza

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