Diretas Já

O movimento das Diretas Já ocorreu no final do período da Ditadura Militar e lutava pela realização de eleições diretas com voto popular.

Na imagem, uma das manifestações do movimento Diretas Já, em Brasília, dentro do plenário da Câmara dos Deputados, em 1984.
Na imagem, uma das manifestações do movimento Diretas Já, em Brasília, dentro do plenário da Câmara dos Deputados, em 1984.

Diretas Já foi um movimento político e popular ocorrido entre 1983 e 1984 que lutou pela realização de eleições presidenciais diretas com voto popular. Através da realização de comícios e manifestações, multidões  lideradas por políticos, artistas e intelectuais  exigiram eleições diretas para presidente da República, a abertura política, o fim do regime militar e a redemocratização do Brasil.

Leia também: Golpe Civil-Militar de 1964 e o início da Ditadura no Brasil

Tópicos deste artigo

Resumo sobre as Diretas Já

  • Contexto histórico: fim do governo Figueiredo (1979–1985) e início da abertura política.

  • Proposta: eleições diretas para presidente da República, com voto popular.

  • Era necessário mudar a constituição de 1967, vigente à época, através de uma emenda constitucional.

  • A Emenda Dante de Oliveira propunha a alteração das eleições de indiretas para diretas, mas foi derrotada na Câmara dos Deputados por apenas 22 votos.

  • Apesar disso, o movimento, em pouco mais de um ano, mobilizou multidões e discutiu a redemocratização do Brasil.

Videoaula sobre as Diretas Já

Contexto histórico das Diretas Já

Desde 1964, o governo brasileiro era exercido por presidentes militares, que chegaram ao poder após um golpe de Estado: a Ditadura Civil-Militar durou de 1964 a 1985. O último governo militar, de João Batista Figueiredo (1979–1985), foi caracterizado por promover uma abertura política, isto é, o retorno do país à democracia, o que, nas palavras do presidente, aconteceria através de uma abertura “lenta, gradual e segura”.

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A época de maior repressão da Ditadura, entre os anos de 1968 e 1978, durante os quais vigorou o AI-5, era seu final, e conquistas como a Lei da Anistia (1979) estavam acontecendo. Nesse contexto de abertura política e crise econômica, a população brasileira, liderada por políticos de oposição, artistas e intelectuais, lutava por uma importante pauta: o direito de eleger, através de eleições diretas com voto popular, o próximo presidente da República.

Comício do movimento Diretas Já em São Paulo, na Praça da Sé, 1984. (Créditos: FGV CPDOC / reprodução)
Comício do movimento Diretas Já em São Paulo, na Praça da Sé, 1984. (Créditos: FGV CPDOC / reprodução)

Emenda Dante de Oliveira e as Diretas Já

Naquela época, a Constituição que organizava o Estado brasileiro era a de 1967, produzida em plena Ditadura. Nela, especificamente em seu artigo 76, estava disposto que o presidente da República seria eleito por um Colégio Eleitoral, composto por membros do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal). Isso significava que quem elegia o presidente não era a população. Então, entre os meses de março de 1983 e abril de 1984, diversas lideranças políticas e sociais mobilizaram setores da população para pedir a alteração desse artigo da Constituição, de modo que todo o povo pudesse votar e escolher o próximo presidente.

Para que um artigo da Constituição seja alterado, é necessário que um parlamentar (deputado federal ou senador) apresente uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Foi o deputado de oposição Dante de Oliveira, do PMDB do estado do Mato Grosso, quem propôs a PEC nº05/1983, que, por essa razão, ficou conhecida como Emenda Dante de Oliveira.

Assim, o movimento popular que apoiava o conteúdo dessa emenda propunha a alteração da Constituição para que o presidente da República fosse eleito por eleições direitas e pelo voto da população, de onde vem o termo “Diretas Já”.

Leia também: Luta armada contra a Ditadura Militar no Brasil

Principais líderes das Diretas Já

O movimento das Diretas Já veio ao encontro da vontade popular por eleições diretas. Em um contexto de maior liberdade política e aparente desmonte das instituições da Ditadura, puderam participar como líderes diversas personalidades, inclusive políticos como:

  • Tancredo Neves (de longa trajetória política, desde a Era Vargas);

  • Leonel Brizola (líder histórico da esquerda brasileira);

  • Ulysses Guimarães (político que em 1988 presidiu a Assembleia Constituinte que aprovou a atual Constituição do Brasil);

  • Luís Carlos Prestes (importante liderança comunista brasileira);

  • Fernando Henrique Cardoso (posteriormente prefeito, ministro e presidente da República);

  • Luís Inácio Lula da Silva (líder sindical e, posteriormente, presidente da República).

Acompanhando o movimento político, diversos artistas também figuraram como lideranças, como é o caso de Chico Buarque, Fafá de Belém, Martinho da Vila e Beth Carvalho.

Os comícios das Diretas Já

Ao longo de mais de um ano, o movimento organizou 32 comícios em todo o Brasil, congregando milhares de pessoas e lideranças políticas. Atos simbólicos eram comuns, como a cantora Fafá de Belém cantar o Hino Nacional ao início e, ao final, soltar uma pomba branca, simbolizando a esperança de um novo regime democrático.

Franco Montoro e Orestes Quércia discursam em comício no contexto do movimento das Diretas Já.
Franco Montoro (ao microfone) e Orestes Quércia (ao lado) discursam em comício na cidade de São Paulo em 1984. (Créditos: FGV CPDOC / reprodução)

Conclusão das Diretas Já

Para aprovar a emenda à Constituição, além de um deputado apresentar a proposta, eram necessários dois terços de votos favoráveis na Câmara dos Deputados para que então a proposta seguisse para o Senado, onde poderia ser definitivamente aprovada. No entanto, ainda na Câmara, a PEC 05/1983 (Emenda Dante de Oliveira) não foi aprovada por apenas 22 votos.

Apesar do massivo apoio popular  estima-se que 84% da população brasileira era favorável à alteração , o Congresso ainda era formado por políticos vinculados à Ditadura. A campanha das Diretas Já teve como resultado imediato, então, seu fracasso. Porém, as lideranças políticas e a população mobilizada continuaram a luta pela redemocratização do país.

Leia também: Constituição de 1988 — o grande símbolo da redemocratização do Brasil

Principais mudanças após as Diretas Já

Em abril de 1984, dias após a votação da Emenda Dante de Oliveira, o presidente Figueiredo tomou medidas violentas contra as manifestações contrárias à Ditadura, como o aumento da censura à imprensa e prisões de manifestantes. Apesar da derrota na aprovação da Emenda Dante de Oliveira, a pressão política pelo fim da Ditadura foi sentida, e as eleições seguintes tiveram apenas candidatos civis. Com isso, a época ditatorial dos governos militares chegava ao fim e pavimentava o caminho para que em 1988 uma nova Constituição restabelecesse as eleições diretas e o voto popular.

Em comício em São Paulo, Franco Motoro (ao microfone) discursa para multidões (1984). (Créditos: FGV CPDOC / reprodução)
Em comício em São Paulo, Franco Motoro (ao microfone) discursa para multidões (1984). (Créditos: FGV CPDOC / reprodução)

Exercícios resolvidos sobre as Diretas Já

Questão 1

(Unesp) A campanha pelo restabelecimento das eleições diretas para presidente da República do Brasil, em 1984, intitulada “Diretas Já!”,

A) tentava garantir que o primeiro presidente pós-regime militar fosse escolhido, em 1985, pelo Colégio Eleitoral.

B) defendia a continuidade dos militares no poder, desde que fossem escolhidos pelo voto direto dos brasileiros.

C) foi a primeira mobilização pública de membros da sociedade civil brasileira desde o Golpe Militar de 1964.

D) reuniu diferentes partidos políticos em torno da aprovação de emenda constitucional que reintroduzia o voto direto para presidente.

E) teve sucesso, pois contou com apoio oficial da Igreja Católica, dos sindicatos, das Forças Armadas e do partido situacionista.

Resposta:

Alternativa D. O movimento Diretas Já reuniu diversos líderes e partidos, em torno da aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que reintroduzia as eleições diretas e o voto direto para presidente da República.

Questão 2

(Uece) Durante o movimento denominado “Diretas Já”, ocorrido em todo o Brasil entre os anos de 1983 e 1984, um enorme contingente de cidadãos envolveu-se nas manifestações. Nas dezenas de comícios realizados nas principais cidades do país, aqueles eventos contaram com a participação de políticos, artistas renomados, jogadores de futebol famosos, líderes sindicais, representantes estudantis e jornalistas. Sobre esse momento da história política brasileira, é correto afirmar que

A) teve como objetivo tentar impedir a implantação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que estabelecia o fechamento do Congresso Nacional e o fim das garantias e dos direitos civis.

B) objetivava retomar o sistema de voto direto para o cargo de presidente da República a partir da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 5, do deputado Dante de Oliveira.

C) ocorreu como uma tentativa de barrar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 16, que alteraria a Constituição, abrindo a possibilidade de reeleição para quem ocupava cargos em qualquer nível do Poder Executivo.

D) teve como foco apoiar o processo de impeachment, por crime de responsabilidade, contra o então presidente Fernando Collor de Mello, último presidente brasileiro eleito por meio de eleição indireta.

Resposta:

Alternativa B. O movimento lutava pelo estabelecimento do voto direto para presidente da República, cuja alteração constitucional era proposta pela Emenda Dante de Oliveira (PEC nº5/1983).

Fontes

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm.

BRASIL. Proposta de Emenda à Constituição nº 05, de 1983. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/18035.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. EDUSP, 2008.

NERY, Vanderlei Elias. Diretas Já: a busca pela democracia e seus limites. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/ls/article/view/18836.

OLIVEIRA, Sonale Diane Pastro; MARINHO, Maria Gabriela da Sila Martins da Cunha. Diretas Já, um movimento social híbrido. Disponível em: https://seer.ufrgs.br//debates/article/view/31344.

Por: Tiago Soares Campos

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