Festival de Parintins

O Festival de Parintins é uma festa folclórica que ocorre todos os anos no estado do Amazonas e tem os bois-bumbás, Garantido e Caprichoso, como seus personagens principais.

Boi Caprichoso durante apresentação no Festival de Parintins. [1]
Boi Caprichoso durante apresentação no Festival de Parintins. [1]

O Festival de Parintins é uma festa de boi-bumbá que ocorre todos os anos no Bumbódromo da cidade de Parintins, no estado do Amazonas. O auto do boi é a principal referência do festival, que conta com influência indígena, africana e europeia.

No Festival de Parintins, que dura três dias, se enfrentam dois bois, o Garantido e o Caprichoso. As duas agremiações, uma de cada boi, realizam apresentações em uma arena. Jurados, que são especialistas em diversas áreas, avaliam as apresentações em um total de 21 quesitos. O boi que atinge mais pontos é o vencedor daquele ano.

A torcida do boi Garantido usa o vermelho como cor, o boi é de cor branca e possui um coração vermelho em sua testa. Já a cor da torcida do boi Caprichoso é o azul, ele é preto e possui uma estrela em sua cabeça.

Leia também: Carnaval — detalhes sobre a principal festa da cultura brasileira

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o Festival de Parintins

  • O Festival de Parintins é uma festa folclórica que ocorre oficialmente na cidade de Parintins, no estado do Amazonas, desde 1965, embora a tradição tenha se iniciado décadas antes.

  • Esse festival tem os bois-bumbás Garantido e Caprichoso como seus personagens principais.

  • O Festival de Parintins é de suma importância para a economia de Parintins.

  • Os principais componentes do Festival de Parintins são: música, galera, pajé, ritual, auto do boi, apresentador, cunhã-poranga, sinhazinha da fazenda, porta-estandarte, levantador de toadas e amo do boi.

  • O boi Garantido, com torcida representada pela cor vermelha, possui uma quantidade maior de vitórias em comparação ao boi Caprichoso, com torcida representada pela cor azul.

  • Nas últimas décadas o festival ganhou popularidade nacional e mundial.

  • A tradição do bumba meu boi e do boi-bumbá se iniciou no Brasil no Período Colonial e mescla elementos da cultura indígena, africana e europeia.

  • O Bumbódromo foi construído no final da década de 1980 para abrigar o Festival de Parintins.

  • Atualmente o Festival de Parintins, assim como outras tradições relacionadas ao boi bumbá no Médio Amazonas, são registradas pelo Iphan como patrimônio cultural brasileiro.

O que é o Festival de Parintins?

Oficialmente chamado Festival Folclórico de Parintins, o Festival de Parintins é uma festa folclórica que ocorre todos os anos no estado do Amazonas e tem os bois-bumbás Garantido e Caprichoso como seus personagens principais. A festa é realizada na cidade de Parintins, localizada em uma ilha do Rio Amazonas, no estado do Amazonas, já próximo do estado do Pará.

Atualmente o festival ocorre sempre no último final de semana de junho. As apresentações ocorrem nas noites da sexta-feira, sábado e domingo, dentro do Bumbódromo, arena construída especificamente para o festival e com capacidade de público de 17 mil pessoas durante o festival, aumentada para 25 mil pessoas quando a pista é usada, como, por exemplo, em shows.

O festival tem grande importância econômica para o munícipio, trazendo recursos para a região e gerando emprego. Segundo dados da Secretaria de Turismo do Amazonas, em 2023 os turistas geraram mais de 146 milhões de receita em Parintins, um aumento de mais de 30% em relação ao ano anterior. |1|

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Componentes do Festival de Parintins

A seguir, os principais componentes do Festival de Parintins:

  • Música: no Carnaval cada escola de samba canta um samba-enredo, já no Festival de Parintins cada levantador de toada canta entre 15 e 22 músicas nos três dias de apresentações. As músicas são mais curtas que os sambas-enredos e versam sobre tradições relacionadas ao bumba meu boi e ao folclore amazônico. Cada boi conta com uma bateria que possui entre 400 e 600 membros que acompanham os cantores.

  • Galera: a galera é um dos quesitos avaliados pelos jurados do festival. Ela é composta pelas pessoas que participam dos ensaios durante todo o ano anterior ao festival. Nos dias de Festival de Parintins, as galeras de cada boi se posicionam na parte do Bumbódromo que representam os chifres do boi. Durante a apresentação de um boi, a galera adversária deve permanecer em silêncio para não ser penalizada pelos jurados.

  • Pajé: é outro personagem que é avaliado pelos jurados, ele é responsável por ressuscitar o boi. Em alguns momentos das apresentações os pajés dos dois bois fazem apresentações individuais. A presença do pajé é mais um elemento que mostra a influência indígena no festival e nas festas de boi.

  • Ritual: é um dos principais momentos da apresentação, ocorrendo geralmente no final da noite. No ritual são apresentados costumes, lendas, tradições e outros aspectos culturais da tradição indígena. Geralmente o pajé é o personagem central do ritual.

  • Auto do boi: durante o festival é representado o auto do boi, conto popular em que Pai Francisco mata e corta a língua do boi preferido do patrão para acabar com o desejo de sua esposa, Mãe Catira, que está grávida. Catira e Francisco são escravos. Após contar com a ajuda de um pajé, o boi é ressuscitado e uma grande festa ocorre em comemoração.

  • Apresentador: ele é um híbrido de mestre de cerimônia e narrador dos eventos que ocorrem na arena, contando a história do que é apresentado na pista. Ele precisa ter uma bela voz, boa dicção e apresentar informações interessantes e relevantes para tirar nota máxima na avaliação dos jurados.

  • Cunhã-poranga: representa a indígena mais bela da tribo. No regulamento do Festival Folclórico de Parintins, a cunhã-poranga deve ser uma “moça bonita, guerreira e guardiã que expressa força através da beleza”. Se pudéssemos comparar com o Carnaval, a cunhã-poranga é semelhante à figura da rainha da bateria. A cunhã-poranga faz apresentações individuais em alguns momentos do festival.

  • Sinhazinha da fazenda: ela é a filha do dono do boi, a sinhazinha mimada da casa grande. Assim como a cunhã-poranga a sinhazinha realiza uma ou mais apresentações individuais no festival. Além da apresentação, os jurados avaliam sua indumentária.

  • Porta-estandarte: é a porta-bandeira do Festival Folclórico de Parintins, uma indígena que carrega o estandarte do boi Garantido ou do Caprichoso.

  • Levantador de toadas: o levantador de toadas faz o mesmo que um intérprete de samba-enredo faz no Carnaval. Ele canta as toadas, maneira pela qual são chamadas as músicas do Festival de Parintins.

  • Amo do boi: é o dono do boi, o fazendeiro, dono de escravos. Em determinados momentos do festival ele recita poemas e entoa canções.

Quais foram os vencedores do Festival de Parintins?

Vencedores do Festival de Parintins

1965

Não houve disputa entre os bois

1966

Garantido

1967

Garantido

1968

Garantido

1969

Caprichoso

1970

Garantido

1971

Garantido

1972

Caprichoso

1973

Garantido

1974

Caprichoso

1975

Garantido

1976

Caprichoso

1977

Caprichoso

1978

Garantido

1979

Caprichoso

1980

Garantido

1981

Garantido

1982

Garantido

1983

Garantido

1984

Garantido

1985

Caprichoso

1986

Garantido

1987

Caprichoso

1988

Garantido

1989

Garantido

1990

Caprichoso

1991

Garantido

1992

Caprichoso

1993

Garantido

1994

Caprichoso

1995

Caprichoso

1996

Caprichoso

1997

Garantido

1998

Caprichoso

1999

Garantido

2000

Garantido e Caprichoso – empate

2001

Garantido

2002

Garantido

2003

Caprichoso

2004

Garantido

2005

Garantido

2006

Garantido

2007

Caprichoso

2008

Caprichoso

2009

Garantido

2010

Caprichoso

2011

Garantido

2012

Caprichoso

2013

Garantido

2014

Garantido

2015

Caprichoso

2016

Garantido

2017

Caprichoso

2018

Caprichoso

2019

Garantido

2020

Não houve – pandemia de covid-19

2021

Não houve – pandemia de covid-19

2022

Caprichoso

2023

Caprichoso

Rivalidade entre boi Garantido e boi Caprichoso

Segundo a tradição oral, o primeiro boi criado foi o Garantido, no ano de 1913, e em 1922 foi criado o boi Galante, que, em 1925, passou a se chamar Caprichoso. Oficialmente os dois bois se enfrentaram pela primeira vez em 1966, no segundo Festival de Parintins. De lá para cá, os bois se enfrentaram todos os anos, com exceção de 2020 e 2021, por causa da pandemia de covid.

Boi Garantido se apresentando no Festival de Parintins. [2]
Boi Garantido se apresentando no Festival de Parintins. [2]

Enquanto o boi Caprichoso é considerado um boi popular, que tem apoio das camadas mais pobres da população de Parintins, o boi Garantido é considerado tradicionalmente um boi da elite. Existe até mesmo uma espécie de divisão geográfica na cidade, com os bairros mais pobres da região sul da ilha, como nos bairros de São Benedito e São José, sendo predominantemente de torcedores do Garantido, os perrechés. Já na região norte, com os bairros da Francesa e dos Palmares, bairros com a maior renda per capita do município, o boi Caprichoso tem a maior torcida.

Além disso, os bois Caprichoso e Garantido também se diferenciam relação à cor de suas torcidas. A torcida do boi garantido usa o vermelho como cor, o boi é de cor branca e possui um coração vermelho em sua testa. Já a cor da torcida do boi Caprichoso é o azul, ele é preto e possui uma estrela em sua cabeça.

Festival de Parintins na cultura popular

Em Parintins referências aos bois Caprichoso e Garantido estão em todos os lugares, no artesanato que é vendido nas ruas, nos monumentos, nos nomes dos lanches vendidos nas lanchonetes e em quase toda a vida do parintinense. O festival tem ainda grande importância identitária para os habitantes da ilha.

Antes conhecido apenas regionalmente, hoje o festival é nacional e internacionalmente conhecido, atraindo turistas de diversas partes do mundo. Muitas toadas do Festival de Parintins ficaram famosas no âmbito nacional e foram cantadas por diversos intérpretes. A música Vermelho, nacionalmente conhecida na voz de Fafá de Belém, é considerada um hino do boi Garantido e é tocada todos os anos no festival. Também a estética do festival tem inspirado designers e estilistas.

Nos últimos o Festival Folclórico de Parintins passou a ser transmitido ao vivo para todo o território nacional pela TV Cultura e TV Bandeirantes. Em 2024 a Rede Globo iniciou negociações com os representantes do festival para transmitir as apresentações em seus canais fechados.

Qual a história do Festival de Parintins?

As festas de boi, como o bumba meu boi e o boi-bumbá, são muito antigas. Originaram-se no Nordeste, onde desde o início do Período Colonial a pecuária teve grande importância econômica, sobretudo no interior.

Assim como a pecuária se espalhou pelo Brasil, as festas de boi também se espalharam, se transformando e mesclando as tradições do boi-bumbá com as tradições locais.

Essas festas são inspiradas no auto do boi, conto do folclore brasileiro que narra a história que se inicia quando Catirina, uma escrava grávida, fica com desejo de comer a língua do boi predileto do patrão. Pai Francisco, escravo esposo de Catirina, mata o boi do patrão e arranca sua língua, levando-a para a mulher. O patrão é avisado por um caçador e fica enfurecido. Os personagens conseguem ressuscitar o boi com a ajuda de um pajé. Feliz, o patrão financia uma grande festa.

O auto do boi e as festas de boi, assim como o Festival Folclórico de Parintins, são fortemente influenciados pela cultura indígena, africana e europeia.

Oficialmente, o primeiro Festival de Parintins ocorreu em 1965, sem contar com a participação dos bois Caprichoso e Garantido. Mas, pelo menos desde o início do século XX, ocorria nas ruas de Parintins a festa do boi, de forma pouco organizada, mas com grande participação popular. O mesmo ocorria em quase todas as cidades da região amazônica.

Em 1965, membros da Juventude Alegre Católica de Parintins organizaram o primeiro Festival de Parintins, com o objetivo de arrecadar fundos para a reforma da Catedral de Nossa Senhora do Carmo. O primeiro festival contou com a participação de diversos grupos folclóricos. A disputa entre os bois Caprichoso e Garantido ocorreu pela primeira vez apenas em 1966

Em 1975, a Prefeitura do Município de Parintins passou a ser a responsável pela organização do festival, o que fez com que a estrutura do evento melhorasse consideravelmente, atraindo mais turistas para a cidade.

Em 1988, foi inaugurado o Centro Cultural de Parintins, conhecido popularmente como Bumbódromo. A arena multiuso possui capacidade para 25 mil espectadores e foi pintada de azul e vermelho, as cores dos bois Caprichoso e Garantido.

Centro Cultural de Parintins (ou Bumbódromo), local onde é realizado o Festival de Parintins.
O Centro Cultural de Parintins (ou Bumbódromo) foi pintado com as cores dos bois Caprichoso e Garantido. [3]

Acesse também: Folia de Reis — tradicional festa brasileira que ocorre anualmente de 24 de dezembro a 6 de janeiro

Festival de Parintins como patrimônio cultural

O Complexo Cultural do Boi-Bumbá do Médio Amazonas e de Parintins foi inscrito pelo Iphan no livro de celebrações como Patrimônio Cultural do Brasil, em 2018. Assim como em Parintins, festas de boi ocorrem em diversas outras cidades do Médio Amazonas; o modo de brincar ocorre de forma diferente em cada cidade, mas em todas elas existe grande presença da cultura amazônica.

Ao registrar o boi-bumbá do Amazonas, o Iphan destacou a importância da transmissão do folguedo de pais para filhos, a participação popular na produção das festividades e o forte apelo identitário da manifestação. O Iphan classificou em três tipos as festas de boi do Médio Amazonas: boi de rua, de terreiro e de arena, como o de Parintins.

Curiosidades sobre o Festival de Parintins

  • Perreché era a forma pela qual as pessoas pobres eram chamadas em Parintins, uma corruptela de “pé-rachado”, maneira como ficavam as solas dos pés daqueles que trabalhavam descalços ou de chinelo. Os torcedores do boi Garantido passaram a ser chamados pelos torcedores do Caprichoso de perrechés. O termo, que inicialmente era uma ofensa, foi adotado pelos torcedores do Garantido, que se consideram hoje, com orgulho, os perrechés.

  • “Tripa do boi” é como é chamada a pessoa que fica dentro do boi Garantido ou do Caprichoso.

  • O Bumbódromo de Parintins tem a planta baixa na forma da cabeça de um boi. A arena é dividida simetricamente em duas partes, a azul e a vermelha.

  • Em 2012 foi realizada uma pesquisa em Manaus com 560 pessoas. Ela apontou que, na capital do Amazonas, 31,5% das pessoas declararam torcer para o boi Garantido e 30,6% se declararam torcedoras do Caprichoso. Por fim, 37,9% das pessoas declararam não torcer para nenhum dos dois. |2|

  • A galera, a torcida oficial de cada boi, também é um dos quesitos avaliados pelos jurados. É uma das poucas competições em que a torcida interfere diretamente no resultado dela.

  • Em 2024, a cunhã-poranga do boi Garantido, Isabelle Nogueira, participou do reality show BBB. A participação da manauara trouxe maior visibilidade ao Festival Folclórico de Parintins.

Notas

|1| G1 AM. Turistas geraram mais de R$ 146 milhões de receita em Parintins. G1 Amazonas, 8 ago. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2023/08/08/turistas-geraram-mais-de-r-146-milhoes-de-receita-em-parintins.ghtml.

|2| IPEN MANAUS. Pesquisa aponta empate técnico entre Garantido e Caprichoso na preferência da cidade de Manaus. Instituto de Pesquisa do Norte, [s.d.]. Disponível em: http://ipenmanaus.com/artigos/Pesquisabois.pdf.

Créditos de imagem

[1] T photography / Shutterstock

[2] casa.da.photo / Shutterstock

[3] Adalmir Chixaro / MTurDestinos / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

CASCUDO, Câmara. Folclore do Brasil. Global Editora, Rio de Janeiro, 2024.

CESARINO, Pedro. Histórias indígenas dos tempos antigos. Editora Claro Enigma, Itapira, 2022.

G1 AM. Turistas geraram mais de R$ 146 milhões de receita em Parintins. G1 Amazonas, 8 ago. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2023/08/08/turistas-geraram-mais-de-r-146-milhoes-de-receita-em-parintins.ghtml.

IPEN MANAUS. Pesquisa aponta empate técnico entre Garantido e Caprichoso na preferência da cidade de Manaus. Instituto de Pesquisa do Norte, [s.d.]. Disponível em: http://ipenmanaus.com/artigos/Pesquisabois.pdf.

Por: Jair Messias Ferreira Junior

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