Pedro Valdo e a heresia valdense

A heresia valdense, surgida a partir das pregações de Pedro Valdo no século XII, sofreu perseguição durante a Idade Média por questionar a autoridade da Igreja Católica.

Os valdenses resistiram à perseguição da Igreja Católica e, atualmente, possuem igrejas espalhadas pelo mundo
Os valdenses resistiram à perseguição da Igreja Católica e, atualmente, possuem igrejas espalhadas pelo mundo

Os valdenses foram uma das muitas heresias surgidas na Europa medieval no século XII. Tendo como raiz a insatisfação popular com a Igreja Católica, os valdenses tiveram início a partir das pregações de Pedro Valdo, mercador da região de Lyon, na França. Eles formaram uma igreja que foi intensamente perseguida pela inquisição instituída pela Igreja Católica.

Trajetória dos valdenses

Os valdenses surgiram a partir das pregações realizadas por Pedro Valdo na segunda metade do século XII. Pedro Valdo era um rico comerciante da região de Lyon, França, que, segundo os relatos, comoveu-se profundamente ao realizar a leitura do texto bíblico e optou por seguir a vida religiosa.

A partir disso, Pedro Valdo deixou parte de seus bens com a esposa e filhas e doou o restante das suas posses para os pobres por volta de 1176. Com isso, ele abandonou a vida de comerciante, adotou o voto de pobreza e passou a realizar pregações em Lyon. Essas pregações converteram inúmeras pessoas, que passaram a segui-lo e a praticar o voto de pobreza.

Os valdenses ganharam a atenção da Igreja Católica desde o momento que começaram a realizar suas pregações em língua vernácula (língua comum) utilizando-se da Bíblia que Valdo havia mandado traduzir para o provençal (idioma local). Além disso, as críticas que eles faziam à autoridade da Igreja também chamavam a atenção das autoridades eclesiásticas. Por causa disso, os valdenses foram proibidos de realizar suas pregações pelo Arcebispo de Lyon, Guichard de Pontigny.

Com essa proibição emitida por Guichard, Pedro Valdo partiu para o Terceiro Concílio de Latrão, realizado em Roma em 1179, com o objetivo de reaver a autorização do papa Alexandre III para continuar com suas pregações. A ida de Pedro Valdo para obter a autorização papal demonstra claramente que, nesse momento, os valdenses não tinham como intenção o rompimento com a Igreja Católica.

No Concílio de Latrão, os valdenses foram submetidos a um conselho de cardeais que examinaram a doutrina valdense diante dos questionamentos do cardeal Walter Map. Esse conselho de cardeais reprovou-a e considerou seus seguidores não preparados para realizar as pregações bíblicas. O papa Alexandre III, no entanto, deu a aprovação aos valdenses e permitiu-lhes continuar a pregar, desde que obtivessem a autorização do clero local, ou seja, de Lyon.

A decisão dada por Alexandre III pode ser entendida como uma ação que visava utilizar a vocação dos valdenses para a pregação para combater o catarismo em crescimento no sul da França. De qualquer maneira, a decisão desse papa não foi tão benéfica para eles, pois o clero em Lyon possuía a mesma opinião dos cardeais em Roma, considerando os valdenses inaptos para pregar as Escrituras.

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Sem a autorização do clero local, os valdenses seguiram com suas pregações, agora baseando-se em um versículo bíblico para justificar sua ação: Atos 5:29 – “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”|1|. Com isso, os valdenses foram acusados de desobediência à Igreja Católica e, por isso, foram considerados hereges e excomungados pela Igreja em 1184 no Sínodo de Verona.

Com a excomunhão, os valdenses passaram a sofrer intensa oposição da Igreja e, em razão disso, foram obrigados a manter sua fé na clandestinidade. Tempos depois, com a instituição da Inquisição, os valdenses sofreram intensa perseguição, inclusive com muitos deles condenados à morte na fogueira. A perseguição contra os valdenses permaneceu até o período renascentista, aproximadamente|2|.

Apesar dessa perseguição, a Igreja Valdense resistiu e permaneceu até os dias de hoje, com igrejas espalhadas por diversas partes do mundo, como Itália, Estados Unidos e Brasil.

Doutrina valdense

Os valdenses tinham como elemento principal a crítica contra o acúmulo de poder e riqueza da Igreja Católica no século XII. Inicialmente, eles não possuíam intenção de romper com a Igreja Católica, mas apenas de apontar os erros segundo a interpretação que faziam da leitura das Escrituras. A perseguição promovida pela Igreja de Roma fez o movimento romper com a Igreja Católica e, tempos depois, aliar-se com os movimentos da Reforma Protestante, a partir do século XVI.

Durante os séculos XII e XIII, os valdenses questionavam determinados elementos típicos do Catolicismo, como a crença no purgatório ou no culto aos santos. Seus seguidores mantinham o voto de pobreza como ideal de vida, além de praticarem a castidade e de serem obedientes à sua autoridade, Pedro Valdo, nesse caso. Apesar do voto de pobreza, os valdenses não acreditavam no ascetismo.

Essa doutrina também não acreditava em juramentos, por isso foi totalmente proibida a realização de juramentos pelos fiéis, e também não se permitia a prática da pena de morte. Por fim, a Igreja Valdense formou dois grandes núcleos, instalados na França e na Itália, que, em geral, possuíam diáconos, presbíteros e bispos realizando diferentes funções nas Igrejas.

|1| Bíblia Online, Atos 5:29. Para acessar, clique aqui.
|2| FALBEL, Nachman. Heresias Medievais. São Paulo: Perspectiva, 1977, p. 63.

Por: Daniel Neves Silva

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