Cruzada albigense

A Cruzada albigense foram expedições militares convocadas pela Igreja Católica para destruir a heresia do catarismo no sul da França.

A cidade de Albi, no sul da França, foi um dos principais focos do catarismo durante os séculos XII e XIII
A cidade de Albi, no sul da França, foi um dos principais focos do catarismo durante os séculos XII e XIII

As Cruzadas foram expedições militares convocadas pelo papa Urbano II para auxiliar o Império Bizantino na luta contra os muçulmanos em 1095. O conceito de Cruzadas acabou sendo expandido e utilizado com objetivos diferentes. A Cruzada albigense é um desses casos. A Igreja Católica promoveu a Cruzada albigense com o intuito de subjugar a heresia do catarismo, que possuía muitos fiéis no sul da França.

Catarismo

O catarismo foi uma heresia que se popularizou no sul da França ao longo do século XII e XIII. A doutrina dos cátaros teve origem em uma seita gnóstica que era muito forte na região da Bulgária, o Bogomilismo. Os cátaros defendiam uma visão dualista do mundo, ou seja, consideravam as coisas do mundo espiritual sagradas e as coisas do mundo material profanas e más.

Os cátaros também eram conhecidos como albigenses, pois a cidade francesa de Albi era um centro cátaro importante. O catarismo teve grande aceitação entre as camadas populares do sul da França, mas também chegou a converter inúmeros membros da pequena e alta nobreza languedociana e occitana (das regiões francesas de Languedoc e Occitânia).

Alguns importantes elementos do catarismo eram:

  • a negação da Trindade, pois afirmavam que Cristo não provinha da mesma matéria do pai, ou seja, não era o Deus;

  • Cristo era apenas um anjo que recebeu a missão de salvar a humanidade;

  • Condenavam o casamento e a procriação;

  • Afirmavam que a criação do mundo foi obra de um deus mau (Satã).

Cruzada albigense

A Cruzada albigense foi resultado do fracasso da Igreja Católica em combater o crescimento do catarismo no sul da França de maneira pacífica. Durante décadas a postura da Igreja Católica na região resumiu-se a exortações. A Igreja enviava padres para pregar a doutrina católica na região e para exortar as pessoas. Outra estratégia utilizada pela Igreja foi a excomunhão. Uma pessoa excomungada era punida com a expulsão da comunhão e, dentro da perspectiva católica, isso causaria a condenação da pessoa.

A Cruzada albigense só foi convocada após um Legado Papal (um emissário do Papa) ter sido assassinado, em 14 de janeiro de 1208, por Raimundo VI (conde de Toulouse, um dos maiores defensores do catarismo no sul da França). O Legado Papal chamava-se Pedro de Castelnau. Apesar disso, já havia indícios de que a Igreja cogitava lançar uma Cruzada contra os cátaros, sendo a morte do Legado Papal apenas o estopim.

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A Cruzada convocada pelo Papa Inocêncio III reuniu-se em Lyon, em junho de 1209. Vários membros da nobreza francesa juntaram-se para lutar contra o catarismo. A mobilização para a Cruzada foi grande, e muitos foram motivados pelas promessas de salvação dadas pelo papa. O início da Cruzada, segundo o historiador Nachman Falbel, foi marcado pela violência no ataque a duas cidades: Béziers e Carcassonne |1|.

Outros eventos de destaque foram a conquista da cidade de Toulouse (cidade dos cátaros) pelo francês católico Simão de Montfort, a ida de Raimundo VI à região de Aragão para pedir a ajuda de Pedro II de Aragão, e a vitória de Simão de Montfort sobre Raimundo VI e Pedro II de Aragão (morreu em batalha em 1213). Esses eventos aconteceram entre 1212 e 1215.

A partir de 1216, os senhores cátaros que haviam jurado fidelidade à Igreja Católica rebelaram-se e deram início a uma nova fase de combates. Os destaques desse levante foram as vitórias de Raimundo VII sobre Simão de Montfort (morreu em batalha entre 1217-1218). A morte de Simão de Montfort causou o enfraquecimento dos católicos.

Os católicos só atacaram os cátaros novamente quando o rei Luís VIII convocou novas incursões contra os cátaros em 1226. Essas novas incursões trouxeram resultados positivos para a Igreja Católica, e o resultado foi a subjugação dos senhores cátaros à autoridade da Igreja Católica em 1229. Em 1229, na Conferência de Maux, foi selada a paz com Raimundo VII, que aceitou as imposições da Igreja Católica.

Apesar disso, o catarismo permaneceu forte na região, e novas rebeliões aconteceram. No entanto, a Igreja realizou a perseguição a partir da ação da Inquisição. Isso fez com que, durante a década de 1270, não houvesse mais bispos cátaros na França. A perseguição sistemática da Inquisição e a atuação do rei Filipe IV, o Belo, erradicaram o catarismo da França no século XIV.

|1| FALBEL, Nachman. As heresias medievais. São Paulo: Perspectiva, 1977, p. 50.

Por: Daniel Neves Silva

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