Textualidade

A textualidade está relacionada aos fatores semânticos e pragmáticos necessários para que possamos definir uma determinada produção escrita como um texto.

Escrever envolve noções sobre a estrutura interna da língua e os elementos extralinguísticos que contribuem para esse processo.

A textualidade é a união de uma série de elementos capazes de garantir que uma determinada produção escrita seja reconhecida como um texto. Quando elaboramos um texto, levamos em consideração dois aspectos fundamentais: a sua construção interna e as significações dela extraídas e os critérios extralinguísticos que envolvem, por exemplo, a receptividade de uma produção pela sua audiência.

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Resumo sobre textualidade

  • A textualidade é um conjunto de elementos que caracterizam um texto enquanto unidade.

  • Os fatores de textualidade são dois: semânticos (linguísticos) e pragmáticos (extralinguísticos).

  • Os fatores semânticos possuem dois elementos: a coesão e a coerência. Ambos são responsáveis por estabelecer os aspectos estruturais e lógico-semânticos no processo de textualidade.

  • Os fatores pragmáticos correspondem aos elementos externos à estrutura da língua, sendo eles a intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade.

  • O texto é o produto do processo de textualidade.

  • A discursividade difere da textualidade por se tratar do processo de construção de um discurso que envolve um contexto sócio-histórico e um sistema de crenças e valores que influenciam na produção textual.

O que é textualidade?

A textualidade é entendida como um conjunto de características que definem o que é de fato um texto, diferindo-o de um conjunto desconexo de palavras e frases. Ela tem como objetivo garantir a compreensão do texto. Nesse sentido, fatores básicos ajudam a definir um texto.

Há os fatores semânticos, isto é, aqueles voltados para própria organização estrutural (coesão e coerência). Além disso, há os fatores extratextuais, que envolvem as condições de produção de um texto (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade). A ausência deles pode acarretar em uma produção escrita que não forma um todo coeso. Vejamos o exemplo a seguir.

  • Exemplo:

Desilusão. Telefone toca diz alô. Depois um minuto volto a trabalhar. Duas vezes me disseram não.

A sentença acima é de difícil compreensão justamente por apresentar palavras e frases soltas, de modo que não ocorre qualquer amarração formando um todo coeso. Além disso, a ausência de informações extratextuais reforçam a nossa incapacidade de entendimento acerca do que se passa. O problema pode ser corrigido se fizermos as seguintes alterações:

Eu estava desiludido. De repente, o telefone toca e me volta a esperança. Eu digo “alô”. Ninguém me responde. Minutos depois, volto a trabalhar. Foi a segunda vez que me disseram não no mesmo dia. Desilusão.

Com as devidas alterações, é possível compreendermos que a breve narrativa acima trata de uma personagem desiludida por esperar um contato que nunca vem. Ao ser enganada pela segunda vez, retoma a sua vida de desilusão.

Repare que o termo desilusão ao final da sentença faz sentido após toda a contextualização explicitada anteriormente. Desse modo, diferentemente do exemplo anterior, o segundo trecho pode ser caracterizado como um texto, pois se faz entender apresentando os principais elementos que evidenciam a textualidade.

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Fatores de textualidade

Os fatores de textualidade são essencialmente dois.

→ Fatores semânticos

Os fatores semânticos estão ligados à construção da estrutura interna do texto. Em outras palavras, estamos falando dos elementos de coesão e coerência.

→ Fatores pragmáticos ou extratextuais

Os fatores pragmáticos ou extratextuais se referem, como o próprio nome indica, a elementos que estão localizados fora da língua, mas que influenciam a sua produção.

Elementos da textualidade

A textualidade apresenta dois grupos distintos de fatores (semântico e pragmático), e cada um deles possui um conjunto de elementos.

→ Fatores semânticos

Coesão

A coesão é a materialização da coerência por meio de marcadores linguísticos chamados conectivos (pronomes, elipses, artigos, tempos verbais, conjunções etc).

  • Exemplo sem coesão: Come. Bebe. Dorme.

  • Exemplo com coesão: Ele come logo pela manhã e, ao entardecer, bebe até o fim do expediente. Logo, dorme cedo.

Os termos marcados identificam um sujeito ao interlocutor (ele) e, além disso, oferecem uma série de elementos (ao entardecer, logo) capazes de darem fluidez e amarração ao texto. Podemos dizer que os elementos utilizados são marcas de coesão.

Coerência

A coerência trata das construções lógicas e cognitivas em um texto. Uma construção coerente possui uma série de ideias conexas e bem fundamentas. Para que isso ocorra, a coerência deve atuar em consonância com a coesão.

  • Exemplo sem coerência: Chega ao trabalho. Sai de casa.

  • Exemplo com coerência: Sai de casa e, rapidamente, chega ao trabalho.

A relação lógica estabelecida é, evidentemente, quanto à ordem: 1) sair de casa e 2) chegar ao trabalho. Uma inversão, conforme o primeiro exemplo, resulta em um problema de coerência.

→ Fatores pragmáticos

Intencionalidade

A intencionalidade refere-se à capacidade, por meio dos conhecimentos prévios que o autor possui, de satisfazer a uma determinada audiência. A intencionalidade diz respeito ao protagonista do ato comunicativo (aquele que escreve/enuncia).

Aceitabilidade

A aceitabilidade está direcionada à outra ponta do processo comunicativo, isto é, ao leitor/receptor e como ele reage ao texto que recebe. Ela interfere na compreensão do texto, haja vista que o sentido não se constrói somente pela intenção do autor.

Situacionalidade

A situacionalidade é o fator relacionado ao contexto em que um determinado texto se insere, tanto por parte da produção (escrita) quanto de seu resultado (leitura). Ela compreende, principalmente, as escolhas lexicais e seus significados. Assim, a depender da escolha dos termos, eles podem produzir significados distintos.

Informatividade

A informatividade está relacionada às informações obtidas por meio de um texto. Em outras palavras, um texto precisa partir de um lugar-comum do leitor e, no seu decorrer, ser capaz de oferecer informações novas.

Intertextualidade

A intertextualidade é a consolidação de um intercâmbio entre textos. Dessa forma, um texto parte de outro para construir seus significados. Um texto sempre estabelece, portanto, uma relação de intertextualidade com outro. A diferença está na marcação explícita ou não da intertextualidade em uma produção escrita.

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Diferença entre texto e textualidade

A textualidade é um conjunto de fatores (semânticos e pragmáticos) capazes de caracterizar uma produção como um texto. Assim, um texto se constitui como o resultado de um processo de textualidade.

Em outras palavras, o texto é uma unidade de significação formulada por meio de um conjunto de elementos (coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade) que garantem que não haja apenas um emaranhado de palavras e frases desconexas.

Diferença entre textualidade e discursividade

A textualidade e a discursividade funcionam ambas por meio de fatores extralinguísticos, isto é, pelo que se encontra fora da estrutura da língua. No entanto, a textualidade está atrelada aos processos de produção e recepção dos textos. Por outro lado, a discursividade remete ao processo de produção do discurso, e não do texto.

Um discurso é, dentro do campo dos estudos da linguagem, a junção de elementos linguísticos (textos) com ideologias (crenças e visões de mundo) perpassados pelas condições históricas de uma determinada época.

Por: Rafael Camargo de Oliveira

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