Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir foi uma das escritoras mais conhecidas do século XX e seus textos mudaram o movimento feminista.

Simone de Beauvoir, escritora e filósofa, estampada em selo.
Simone de Beauvoir, escritora e filósofa, estampada em selo.[1]

Simone de Beauvoir foi uma escritora francesa que, ao longo do século XX, ficou marcada por seus romances e ensaios. Possuía uma escrita intimista e com muita influência filosófica, pois escrevia romances metafísicos. Ela se formou em Filosofia e estudou Matemática, Literatura e línguas, além de ter contato com muitos filósofos do período.

Seu livro mais conhecido é O segundo sexo (1949), que se tornou um manual do movimento feminista por questionar a forma de criação das mulheres e as expectativas sociais colocadas sobre elas. Com a frase “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, mostrou que considerava o gênero uma construção social. Teve como companheiro Jean-Paul Sartre, conhecido escritor, e foi sepultada ao lado dele, em 1986, após publicar quase 20 obras.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre Simone de Beauvoir

  • Simone de Beauvoir nasceu em Paris, na França, em 1908.

  • Ela se formou em Filosofia pela Universidade de Paris, mas também estudou Matemática, Literatura e línguas.

  • Na faculdade, conheceu Jean-Paul Sartre, seu companheiro até o fim da vida. Ele também se tornou um intelectual conhecidíssimo e representante do existencialismo.

  • Foi professora e fundou, ao lado de Sartre, a revista literária Os Tempos Modernos.

  • Publicou ensaios, peças de teatro, romances e autobiografias.

  • Escreveu os chamados romances metafísicos e transformava suas reflexões filosóficas em narrativas.

  • A convidada (1943) foi seu primeiro romance e teve grande sucesso.

  • Sua obra prima é o livro O segundo sexo, um ensaio que influenciou muito o movimento feminista.

  • Questionou a desigualdade de gênero e os valores do casamento tradicional.

  • A autora faleceu em 1986, seis anos depois de Sartre, e é conhecida até hoje como símbolo do existencialismo e do feminismo.

Biografia de Simone de Beauvoir

Simone Lucie Ernestine Marie Bertrand de Beauvoir nasceu em 9 de janeiro de 1908, na cidade de Paris, capital da França. Seus pais foram Georges Bertrand de Beauvoir e Françoise Brasseur. Sua família era da alta burguesia desde o século XVIII, mas estava perdendo a fortuna na época de seu nascimento.

Sua irmã, Henriette-Hélène Marie, nasceu apenas dois anos depois, e foi a primeira “aluna” daquela que já era uma professora em formação e leitora precoce. Em 1913, ingressou em uma escola particular católica, o Instituto Adeline Désir, mas também era educada em casa.

Com apenas sete anos, ela escreveu sua primeira história, “As desgraças de Marguerite”, que tinha mais de 100 páginas. Tendo a mãe extremamente católica e o pai profundamente ateu, Beauvoir vivia se questionando sobre o tema da religião e tornou-se ateia aos 14 anos. Com o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e uma inflação significativa em Paris, a situação econômica da família piorou ainda mais.

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Em seus estudos, interessou-se logo pelos livros e estudou Matemática, Literatura e línguas, mas sua grande paixão era a Filosofia, que estudou na Universidade de Paris (Sorbonne), onde teve contato com diversos intelectuais que acompanharam sua carreira, inclusive Jean-Paul Sartre, seu futuro companheiro.

Em 1929, com 24 anos, conseguiu seu diploma e passou a lecionar como professora de Filosofia. Sartre também se formou e havia começado a dar aulas quando pediu Beauvoir em matrimônio, mas ela recusou, pois não concordava com os valores de um casamento burguês e no envolvimento do Estado. Da mesma forma, ela não via a maternidade de forma positiva, pois considerava-a uma espécie de escravidão feminina que obrigava a mulher a abdicar de uma parte de sua própria vida. O casal teve o que seria considerado como um relacionamento aberto até a morte do escritor, em 1980.

Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre sendo recebidos por Dr. John Tankman para uma reunião sobre a Guerra do Vietnã, em 1967.
Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre sendo recebidos por Dr. John Tankman para uma reunião sobre a Guerra do Vietnã, em 1967.

Quase 15 anos depois de sua formatura, lançou seu primeiro romance, A convidada (1943), que já trazia muitas temáticas do existencialismo, sua principal corrente filosófica, como a liberdade e a responsabilidade individuais. Dois anos depois, fundou, juntamente ao companheiro, a revista Os Tempos Modernos, que se tornou a revista literária mais conhecida do período.

Em 1949, veio um de seus livros mais famosos, O segundo sexo, que analisa a forma de criação das mulheres e as expectativas de seu papel social. A obra tornou-se uma base do movimento feminista e fez a fama mundial da autora. Muito polêmico para a época, o livro teve respostas de todos os tipos, inclusive entrando para a lista de obras proibidas do Vaticano, o Index. Em sequência, Os mandarins, de 1954, recebeu o Prêmio Goncourt, que seleciona o melhor livro de prosa do ano na França.

A autora seguiu publicando ensaios, romances, autobiografias e diversos outros textos, sendo, até a atualidade, uma das escritoras mais famosas do século XX e da história. Ela faleceu em 1986, seis anos depois de Sartre, e o casal foi sepultado lado a lado.

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Obras de Simone de Beauvoir

  • Romances

    • A convidada (1943)

    • O sangue dos outros (1945)

    • Todos os homens são mortais (1946)

    • Os mandarins (1954)

    • As belas imagens (1966)

    • A mulher desiludida (1967)

    • Quando o espiritual domina (1979)

  • Ensaios

    • Por uma moral da ambiguidade (1947)

    • O segundo sexo (1949)

    • Privilégios (1955)

    • A velhice (1970)

  • Autobiografia

    • Memórias de uma moça bem-comportada (1958)

    • A força da idade (1960)

    • A força das coisas (1963)

    • Uma morte muito suave (1964)

    • Tudo dito e feito (1972)

  • Biografia

    • A cerimônia do adeus (1981), que conta os 10 últimos anos da vida de Sartre.

  • Teatro

    • As bocas inúteis (1945)

Breve análise de A convidada, de Simone de Beauvoir

A convidada, primeiro livro da autora, de 1943, tem grandes traços autobiográficos e históricos, pois retrata a Paris dos anos 1930 nos meses que antecederam a Segunda Guerra Mundial. A história teria sido inspirada na relação entre Sartre, Beauvoir e Olga Kosakiewicz, uma atriz ucraniano-francesa. Kosakiewicz era aluna de Beauvoir quando esta se apaixonou por ela. Sartre tentou ter um relacionamento com ela também, sem sucesso, e começou a se relacionar com a irmã de Kosakiewicz. A aluna de Beauvoir acabou casando-se com um amante da professora, Jacques-Laurent Bost.

A narrativa traz o questionamento do modelo tradicional de casamento burguês e monogâmico com base nos ideais existencialistas. A história trata do casal de intelectuais composto por Françoise, uma famosa escritora, e Pierre, ator prestigiado, cujo relacionamento aberto era muito invejado pela força e estabilidade. Xavière Pagès, “a convidada”, é uma estudante recém-chegada e que, sendo ajudada por Pierre, acaba seduzida por ele.

No início, Françoise aceita tal sentimento e vive, com o casal, uma relação a três. Contudo, Pierre fica com ciúmes quando Xavière dorme com Gerbert, amigo do casal que trabalha no teatro. As relações se complicam mais ainda quando a convidada descobre que Françoise também já teve um relacionamento com Gerbert. Após uma calorosa discussão, Françoise mata Xavière ao deixar o gás de cozinha aberto.

Nessa obra, a autora vai além do simples amor, e o ciúmes rege a trama. Ela é filosófica, pois trata da natureza humana e do que consideramos como ética e moral, além da apresentação de novos tipos de relações, não tradicionais. O existencialismo aparece no questionamento da relação eu-outro e na responsabilidade individual pelas ações, principalmente por meio de Françoise.

Breve análise de O segundo sexo, de Simone de Beauvoir

Capa do livro “O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir.
Capa do livro “O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir.

O segundo sexo, publicado em 1949, é um ensaio feminista considerado a principal obra de Beauvoir. A obra coloca “mulher” não como sexo biológico, mas como gênero, ou seja, uma noção social que envolve crenças, características e expectativas diferentes das colocadas sobre o gênero masculino.

Assim, cada sociedade e cada época teriam criado suas próprias construções do que seria aceitável e esperado de “ser homem” e “ser mulher”. Nesse sentido, ela analisa diversas alienações sofridas pelas mulheres, como a obrigação do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos.

Dessa forma, Simone de Beauvoir escreveu um dos trechos mais famosos do feminismo, pelo qual é conhecida até os dias atuais:

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualifica o feminino.

Estilo literário de Simone de Beauvoir

Por meio de toda espécie de texto, incluindo autobiografias, ensaios, romances e peças de teatro, Beauvoir desenvolveu uma escrita intimista e que transforma emoções e experiências em literatura. Seus textos teóricos, principalmente, tratam de questões mais abstratas, como moral, ética, política, alteridade, ação versus responsabilidade, liberdade etc. Além deles, ela escreveu os chamados romances metafísicos, ou seja, aqueles que apresentam tais reflexões filosóficas por meio da literatura.

Assim, sempre buscou construir narrativas para representar suas reflexões contidas em personagens. O foco individualista é essencial porque Beauvoir acreditava que a “essência” humana está no indivíduo, não em algo externo, como a religião e a moral, e é desenvolvida por meio do contato com o outro e com o mundo. Dessa forma, ela focou na experiência cotidiana e individual de seus personagens e salientou a natureza humana, suas características e concepções.

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Pensamentos de Simone de Beauvoir

Os textos da escritora e seus pensamentos foram influenciados por duas frentes principais: o existencialismo e o feminismo, além da filosofia geral. A alteridade é seu grande foco filosófico, ou seja, o que é relativo ao “outro”, podendo referir-se a outras pessoas, à conexão entre o ser e o mundo e à conexão do eu com ele mesmo.

Pela natureza dos romances metafísicos, a autora entendia o mundo e a humanidade como objetos de estudo e experimentou sobre a natureza humana. Isso segue o foco do existencialismo, uma doutrina filosófica que busca analisar a existência humana no mundo. Assim, a francesa acreditava que o peso da moral não é justificativa para as ações, pois a responsabilidade reside em cada indivíduo. Tal crença resulta em maior liberdade mas também em menor apoio ético: se não existe um “livro de regras” morais, um código religioso ou uma tradição cultural a seguir, as ações e suas consequências são de responsabilidade apenas de quem as executa. Dessa forma, essa liberdade de não aceitar valores prontos também pode trazer angústia.

Além disso, seus textos trazem pensamentos feministas que se tornaram base do movimento mundial. Ao longo de seus textos teóricos e literários, a escritora questionou as diferenças na criação e nas expectativas colocadas sobre meninas e mulheres e a desvalorização que sofrem.

Nesse sentido, os gêneros seriam construções sociais, não apenas consequências biológicas. Sobre os relacionamentos, Beauvoir acreditava que os valores tradicionais só trazem obrigações e sofrimentos para os indivíduos. A mulher é obrigada a anular-se e escravizar-se pela família, além de tornar-se submissa às vontades masculinas.

Sem liberdade individual, a mulher deve optar entre passar de sujeito a objeto ou ser excluída dos papéis sociais. Assim, a mulher seria o “segundo sexo”, o “produto intermediário entre o macho e o castrado”. Dessa forma, Beauvoir se tornou uma das principais e mais conhecidas representantes do movimento feminista.

Frases de Simone de Beauvoir

“Querer ser livre é também querer livres os outros.”

“Não há divórcio entre filosofia e vida. Cada passo é uma escolha filosófica.”

“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”

“Deus teria me amado igual se eu fosse homem, não havia diferença entre santos homens e mulheres.”

“Viver é envelhecer, nada mais.”

Créditos da imagem

[1] spatuletail / Shutterstock

Por: Luiza Pezzotti Pugles

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