Heterônimos de Fernando Pessoa

Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares são os principais heterônimos de Fernando Pessoa.

Fernando Pessoa. Lisboa, 13/06/1888. Lisboa, 30/11/1935
Fernando Pessoa. Lisboa, 13/06/1888. Lisboa, 30/11/1935

Fernando Pessoa é, inquestionavelmente, um dos maiores poetas do mundo e certamente o maior da língua portuguesa. A epígrafe grandiloquente não é justificável apenas em virtude do reconhecimento da academia à obra do escritor, mas sobretudo pelo reconhecimento do público. Pessoa é uma unanimidade entre crítica literária e leitores, que seguem divulgando a obra daquele que foi conhecido por sua genialidade e, principalmente, por sua habilidade em criar personalidades distintas da sua, os famosos heterônimos.

O fenômeno da heteronímia manifestou-se na obra de Fernando Pessoa como em nenhuma outra. Certamente essa é a principal característica do escritor português que deu vida a nomes como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares, heterônimos que assinaram diversos de seus poemas. Além de dar-lhes estilos literários diferentes, Pessoa deu-lhes também biografias: cada uma de suas personagens possuía a própria história, com direito à data de nascimento, cidade natal, profissão, filiação e data de morte (com exceção de Ricardo Reis, a quem o poeta não definiu a data de falecimento).

Os heterônimos de Pessoa fizeram com que o poeta fosse visto como excêntrico e misterioso, o que é compreensível, já que nunca antes nenhum escritor demonstrou tamanha criatividade e repertório que permitissem a criação de tantas personalidades literárias. Fernando Pessoa foi um poeta cuja genialidade não cabia em si, por isso tantos “transbordamentos”, por isso a necessidade de “dar vida” a outros poetas tão geniais quanto o ortônimo.

Para que você conheça um pouco mais da poesia desse escritor fascinante, o Alunos Online apresenta para você cinco poemas de Fernando Pessoa assinados por seus heterônimos. Ao ler os versos do poeta, certamente você entenderá porque ele foi consagrado como um dos maiores do mundo. Boa leitura!

Estátua de Fernando Pessoa no exterior dA Brasileira, café emblemático da cidade de Lisboa
Estátua de Fernando Pessoa no exterior d'A Brasileira, café emblemático da cidade de Lisboa

Colhe o Dia, porque És Ele

Uns, com os olhos postos no passado, 
Veem o que não veem: outros, fitos 
Os mesmos olhos no futuro, veem 
O que não pode ver-se. 

Por que tão longe ir pôr o que está perto — 
A segurança nossa? Este é o dia, 
Esta é a hora, este o momento, isto 
É quem somos, e é tudo. 

Perene flui a interminável hora 
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto 
Em que vivemos, morreremos. Colhe 
O dia, porque és ele. 

Ricardo Reis

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É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caeiro

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho. 
Cada momento mudei. 
Continuamente me estranho. 
Nunca me vi nem acabei. 
De tanto ser, só tenho alma. 
Quem tem  alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo 
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que segue não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti. 
Releio e digo:  "Fui  eu ?" 
Deus sabe, porque o escreveu. 

Fernando Pessoa

 

Não estou pensando em nada

Não estou pensando em nada 
E essa coisa central, que é coisa nenhuma, 
É-me agradável como o ar da noite, 
Fresco em contraste com o verão quente do dia, 

Não estou pensando em nada, e que bom! 

Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e o refluxo da vida...
Não estou pensando em nada.
E como se me tivesse encostado mal.
Uma dor nas costas, ou num lado das costas,
Há um amargo de boca na minha alma:
É que, no fim de contas,
Não estou pensando em nada,
Mas realmente em nada,
Em nada...

Álvaro de Campos

 

Loura a face que espia

Loura a face que espia
Cose, debruçada à janela,

Se eu fosse outro pararia
E falaria com ela.

Mas seja o tempo ou o acaso
Seja a sorte interior,

Olho mas não faço caso
Ou não faz caso o amor.

Mas não me sai da memória
A janela e ela, e eu

Que se fosse outro era história [?]
Mas o outro nunca nasceu...

Bernardo Soares

Por: Luana Castro Alves Perez

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