João Calvino (1509-1564) foi um teólogo francês responsável por uma das doutrinas cristãs protestantes de maior influência na Europa ocidental. Adepto do luteranismo a partir de 1530, João Calvino desenvolveu posteriormente sua doutrina de outra forma, que acabou ficando conhecida como calvinismo, afastando-se, assim, do luteranismo.
Segundo Calvino, “Deus chama cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também o chamado de Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço, e sua ação é santa”. [1]
O princípio religioso da vocação era importante no calvinismo, pois seriam dádivas divinas e não poderiam ser desprezadas. O trabalho, dessa forma, tornava-se um princípio fundamental para o calvinismo, e a riqueza alcançada com ele era resultado da ação divina.
Por outro lado, havia na vida humana uma predestinação absoluta, sendo que Deus já havia escolhido as pessoas que seriam salvas. Mas era impossível saber quem eram essas pessoas. Por isso, uma conduta rigorosa, de acordo com os preceitos morais religiosos, era a mostra de que a pessoa era a escolhida.
Nesse ponto há uma grande diferença com o catolicismo. Seriam os clérigos católicos que avaliariam – no mundo material, pois no espiritual seria Deus – se a pessoa seria salva ou não, utilizando a prática da confissão. No calvinismo era a própria pessoa a regular sua conduta, interiorizando esses preceitos morais. Em virtude dessa posição, o ascetismo (a preocupação com os aspectos espirituais em detrimento dos corporais) calvinista guiava a vida dos adeptos da religião.
O calvinismo era uma forma religiosa que se adaptava a uma nova forma de vida surgida com o capitalismo, já que a riqueza era vista como fruto do trabalho. Sendo o trabalho decorrente do talento dado por Deus, a riqueza era uma prova de que Deus havia abençoado a pessoa. A miséria era a prova do pecado. O calvinismo era assim uma forma de ver o mundo terreno e espiritual de acordo com as práticas capitalistas.
João Calvino foi perseguido na França, sendo obrigado a refugiar-se em Genebra, na Suíça. Genebra era uma cidade-república e havia por lá liberdade religiosa. Rapidamente Calvino conseguiu influenciar moral, religiosa e politicamente toda a cidade.
Ele formou o Consistório, um órgão composto por três sacerdotes e doze burgueses eleitos por um conselho municipal, que era responsável pela regulação do comportamento dos cidadãos, incluindo casamentos, enterros e festividades, inclusive o modo das pessoas se vestirem. Tabernas e teatros foram fechados.
Essa conduta moral serviu para o crescimento do capitalismo, já que garantia uma acumulação de riqueza, pois o luxo e o gasto desnecessário fora da produção eram condenados. O calvinismo disseminou-se por várias partes da Europa ocidental, onde seus adeptos ficaram conhecidos por diversos nomes: na França, como huguenotes; na Inglaterra, como puritanos; na Escócia, como presbiterianos. Em outros países como Holanda e Dinamarca, o calvinismo tornou-se a religião predominante.
O calvinismo serviu como um código de conduta espiritual e moral que fortaleceu as práticas capitalistas nos países em que ele mais se desenvolveu.
Nota
[1] Apud VICENTINO, C. História Geral. Ensino médio. São Paulo: Scipione, 2000. p. 201.
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