Tropicalismo

O tropicalismo foi um movimento cultural que surgiu no Brasil na década de 1960. Teve uma estética radical e misturava elementos tradicionais com elementos de vanguarda.

Caetano Veloso e Gilberto Gil, dois grandes representantes do tropicalismo, em uma entrevista.
Caetano Veloso e Gilberto Gil foram dois grandes representantes do tropicalismo.[1]

O tropicalismo (ou tropicália) foi um movimento cultural brasileiro que surgiu entre 1967 e 1968. Enquadrado como um movimento de contracultura, o tropicalismo buscava apresentar uma nova alternativa ao cenário cultural do Brasil, concorrendo com a bossa-nova e a MPB. Usava da estética radical e de letras irônicas para questionar os valores da sociedade.

Grandes representantes desse movimento foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gláuber Rocha, Hélio Oiticica, Rita Lee, Gal Costa, entre outros. Foram criticados por não apresentarem uma arte engajada e foram considerados alienados dos problemas que afetavam o país. O tropicalismo se encerrou pelo acirramento da censura durante a Ditadura Militar.

Leia também: Ruptura no cenário artístico brasileiro realizada na Semana de Arte Moderna de 1922

Tópicos deste artigo

Resumo sobre tropicalismo

  • O tropicalismo (ou tropicália) foi um movimento de contracultura que surgiu no Brasil, no final da década de 1960.

  • Seus representantes tinham uma estética radical, letras irônicas e misturavam o tradicional brasileiro com o que era vanguarda no estrangeiro.

  • Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gláuber Rocha, Hélio Oiticica, Rita Lee, Gal Costa foram grandes representantes desse movimento.

  • Foram criticados pelos artistas engajados de serem alienados dos problemas do Brasil.

  • O tropicalismo acabou, em 1969, com o fechamento da Ditadura Militar após o AI-5.

O que foi o tropicalismo?

O tropicalismo (ou tropicália) foi um movimento cultural brasileiro que surgiu no final da década de 1960 e foi entendido como um movimento de contracultura. O tropicalismo se manifestou, principalmente, na música, mas também esteve presente em outras artes, como o teatro, as artes plásticas, o cinema etc.

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O tropicalismo teve enorme influência no cenário cultural brasileiro e surgiu em um momento de grande efervescência cultural de nosso país. O movimento surgiu enquanto uma busca por uma nova alternativa cultural ao Brasil em contraposição à MPB e à bossa-nova.

Seus integrantes adotavam uma estética radical que incorporava elementos do movimento hippie, por exemplo, e acreditavam que essa estética poderia ser um catalisador de transformações na sociedade. Os tropicalistas, na música, adotavam elementos tradicionais, como o samba e o baião, e os misturavam com elementos entendidos de vanguarda, como o pop e o rock, em alta no exterior. Além disso, outra influência estrangeira do tropicalismo foi o concretismo.

A liberdade que os tropicalistas tinham em suas criações tornou difícil definir características básicas do movimento, mas, de toda forma, essa manifestação cultural é entendida pelos historiadores como uma arte não engajada porque utilizava-se da ironia, das alegorias e de letras poéticas para realizar as suas críticas.

O uso da guitarra elétrica também foi outra inovação do tropicalismo no Brasil, uma vez que esse instrumento não era comum no cenário musical brasileiro, pois era entendido como um elemento estrangeiro. Além disso, os tropicalistas eram críticos da ideia do progressismo histórico e da ideia de que os problemas do Brasil seriam superados pela via revolucionária. Os grandes centros das manifestações tropicalistas foram as duas maiores cidades do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro.

Veja também: Movimento hippie — movimento de contracultura que surgiu nos EUA na década de 60 e influenciou o tropicalismo

Grandes nomes do tropicalismo

O tropicalismo manifestou-se em diversas áreas do cenário cultural do Brasil, tendo representantes nas mais diversas áreas. Os nomes na música eram diversos, e entre eles estavam Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rita Lee, Arnaldo Baptista, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão, entre outros.

No cinema, destacaram-se Rogério Sganzerla e Gláuber Rocha. Dois filmes do cinema nacional que são considerados grandes representantes do tropicalismo são Terra em transe, de Gláuber Rocha, e O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla. Nas artes plásticas, o destaque foi para Hélio Oiticica, e no teatro, para José Celso Martinez.

Surgimento do tropicalismo

O tropicalismo surgiu no final da década de 1960, em um momento de grande efervescência cultural, tanto no Brasil quanto no exterior. Aqui vivia-se a Ditadura Militar, com o regime ainda estabelecendo os aparatos da repressão que marcariam o seu momento mais duro — os Anos de Chumbo. A repressão de opositores e a censura foram grandes problemas enfrentados pelo Brasil no período.

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No cenário internacional, a década de 1960 foi o período do auge do movimento hippie, além de ser um cenário também de agitação social, com o Maio de 1968 e a Primavera de Praga. Havia todo um questionamento aos valores conservadores da sociedade, ao modo de vida estabelecido pela burguesia.

Um dos momentos mais marcantes do tropicalismo se deu em 1967, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso se apresentaram no III Festival de Música Popular Brasileira, um festival de calouros que era organizado e transmitido pela TV Record em São Paulo. Na ocasião, Caetano Veloso cantou “Alegria, alegria”, uma canção marcada pelo uso de instrumentos eletrificados, como a guitarra e teclados. Já Gilberto Gil cantou “Domingo no parque”, acompanhado por Os Mutantes, banda composta por Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista.

Caetano Veloso, um dos grandes nomes do tropicalismo, na terceira edição do Festival de Música Popular Brasileira, em 1967.
Apresentação de Caetano Veloso na terceira edição do Festival de Música Popular Brasileira, organizado e transmitido pela TV Record em 1967.[2]

O sucesso dessas duas apresentações fez com que o festival de calouros do ano seguinte fosse dominado pelos tropicalistas. O ano de 1968 também contou com o lançamento de Tropicália ou Panis et Circensis, álbum-manifesto que teve a participação de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé. Esse álbum foi considerado um clássico tropicalista porque envolvia elementos da música brasileira com elementos do pop-rock e da música erudita.

Críticas ao tropicalismo

O cenário de autoritarismo e falta de liberdade característico da Ditadura Militar brasileira fez com que as artes se tornassem um campo muito rico para críticas e questionamentos sobre o cenário que o país enfrentava. De um lado, existia a arte engajada, e de outro, o tropicalismo, um movimento que não fazia críticas diretas, mas se utilizava da estética e das ironias para apontar os problemas do país.

O engajamento velado do tropicalismo gerou profundas críticas, em especial daqueles que faziam parte da arte engajada e que entendiam que as críticas tropicalistas eram muito tímidas para a situação do país. Além disso, o tropicalismo foi acusado de ser um som comercial e uma tentativa de popularizar ritmos de sucesso do exterior no Brasil.

As críticas levaram até a manifestações contra as apresentações dos cantores tropicalistas no Festival Internacional da Canção, realizado no Rio de Janeiro, em 1968. Caetano Veloso e Os Mutantes foram vaiados em suas apresentações, e a banda Os Mutantes, inclusive, se apresentou de costas para a plateia.

Fim do tropicalismo

O tropicalismo foi vítima da Ditadura Militar, tendo duração muito curta, pois tornou-se alvo da censura imposta pelos militares. Em 13 de dezembro de 1968, foi emitido o Ato Institucional número 5, ampliando a repressão, a violência e a censura dos militares no poder. As artes sofreram bastante com a intensificação do autoritarismo.

Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos por agentes da ditadura, em 1969, por três meses. Eles saíram da prisão e foram diretamente para o exílio, e esse acontecimento marcou o fim do tropicalismo no Brasil. A repressão da ditadura finalizou o tropicalismo em seu auge.

Créditos de imagem

[1]A.PAES / Shutterstock

[2]Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

AGÊNCIA BRASIL. Tropicália 50 anos: A história do movimento que marcou a cultura nacional. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2017-10/tropicalia-50-anos-historia-do-movimento-que-marcou-cultura-nacional.

NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2016.

SANTANA, Crisley. Movimento Tropicalista ressignificou características brasileiras. Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/movimento-tropicalista-ressignificou-caracteristicas-brasileiras/.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

VARELLA, Paulo. A Tropicália e 12 curiosidades que você precisa conhecer. Disponível em: https://arteref.com/movimentos/a-tropicalia-e-12-curiosidades-que-voce-precisa-conhecer/.

Por: Daniel Neves Silva

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