Caso perguntássemos quem foi Margareth Geertruida Zelle McLeod, pouquíssimas pessoas poderiam saber de quem se trata. Margareth teve uma vida aventurosa que lhe concedeu a oportunidade de ser bailarina e uma espiã de pouco sucesso. Sua falta de sorte acabou lhe rendendo uma condenação ao fuzilamento como uma agente dupla das forças francesas. A sua fama e audácia nunca foram atribuídas ao seu nome real, pois seus feitos estariam encobertos sobre o nome de Mata Hari.
Nascida na região norte da Holanda, Margaretha nasceu do enlace matrimonial entre o chapeleiro Adam Zelle e de Antje van der Meulen. A beleza da mãe, que possuía origem asiática, veio ao encontro do espírito audacioso do pai na formação dos trejeitos e do caráter desta jovem holandesa. Sua infância foi palco da falência da família que logo ruiu com as dificuldades financeiras. No ano de 1891, ao completar 15 anos, Margaretha sofreu com a perda da mãe.
O pai mudou-se para Amsterdã onde resolveu constituir uma outra família. Sem ter maiores opções, a jovem resolveu completar seus estudos na cidade de Leyden, onde morava com um casal de tios. As formas que faltavam ao seu corpo eram compensadas com um rosto enigmático encoberto por cabelos negros e lábios de sinuoso desenho. A sua feição exótica lhe rendeu, aos 19 anos de idade, um casamento com o militar Rudolph McLeod.
O marido era funcionário da Companhia das Índias Orientais, o que a obrigou a viver com a família na Indonésia. O tempo passado no Oriente lhe rendeu um curioso contato com os costumes e tradições do povo malaio. O casamento não foi bem sucedido graças ao alcoolismo e à violência do marido. No início do novo século, Margaretha perdeu um dos filhos devido à ação criminosa de uma babá que vivia um caso amoroso com Rudolph. O episódio foi a gota d’água para que os dois se separassem.
Durante o processo de separação, ocorrido na Europa, Margaretha conseguiu a guarda do seu filho remanescente. Inconformado, seu ex-marido seqüestrou o único filho trazendo enorme desgosto para Margaretha. Desolada, foi tentar a vida em Paris como modelo de artistas, posando nua para diversos pintores. Cansada dos baixos ordenados e da vida à mingua, decidiu voltar para a Holanda. Em sua terra natal conheceu o barão Henri de Marguerie, de quem se tornou amante.
Em 1904, resolveu retornar à capital francesa à custa de seu amante. Percebendo como o exotismo das culturas orientais fazia enorme fama em solo parisiense, Margaretha decidiu tornar-se dançarina. A sua primeira performance, cercada de intensa sensualidade, abriu portas para que pudesse continuar suas apresentações. Seguindo uma tendência da época, resolveu adotar um nome artístico. Inspirada pelos anos vividos na Indonésia, Margaretha decidiu se transformar em Mata Hari.
Suas primeiras apresentações foram realizadas no Museu Guimet, onde junto de outras dançarinas, utilizava trajes indianos que eram retirados ao longo de sua curiosa performance. A sensualidade de sua dança a transformou em uma celebridade prestigiada pelas mais influentes autoridades européias. Entre 1910 e 1911, deixou o glamour para viver um romance com o banqueiro Félix Rousseau. A interrupção na carreira lhe trouxe um enorme prejuízo.
O retorno ao anonimato lhe motivou a mudar-se para Berlim à procura de uma nova oportunidade como dançarina. No entanto, o ano era 1914 e a deflagração da Primeira Guerra Mundial fizeram seus planos caírem por terra. Sem maiores chances, procurou retornar a Paris tomando um trem. Durante o trajeto, foi obrigada a voltar para a Holanda devido à falta de documentos que comprovassem sua verdadeira nacionalidade.
No ano de 1916, ela tentou retornar para Paris tomando um trem em Londres. A sua ida foi mais uma vez impedida graça à denúncia do serviço de espionagem italiano, que levantou suspeita sobre sua relação com as tropas alemãs. A partir disso, Mata Hari seria sistematicamente perseguida pelo serviço de espionagem britânico. Pouco tempo depois, ela realmente teve condições de retornar à capital francesa.
Naquele tempo sua vida foi marcada por dois episódios. O primeiro foi seu envolvimento amoroso com o oficial russo Vladimir de Masloff, um dos seus mais duradouros “affairs”. O segundo foram as investigações das autoridades francesas e britânicas que continuavam a suspeitar das atividades da jovem de vida aventureira. Nesse mesmo período, seu amante russo foi alvejado com um tiro no olho, que o obrigou a buscar tratamento em um Hospital Militar a 300 quilômetros de Paris.
Para visitar o amante, Mata Hari tinha que obter uma autorização especial das autoridades francesas, que já a tinham como espiã. Por causa disso, o capitão Georges Ladoux disse à dançarina que poderia ver o amante caso prestasse serviços de espionagem para a França. Enviada à Espanha para obter informações, Mata Hari hospedou-se no Hotel Ritz, onde se envolveu com o capitão alemão Hauptmann Kalle.
Nesse meio tempo, tiveram um caso misturando com informações falsas sobre as pretensões dos exércitos franceses e alemães. A falta de habilidade como espiã acabou sendo descoberta quando o capitão Kalle enviou mensagens com as informações de Mata Hari. A França, que já entrava em desespero com as derrotas militares, não suportou ter perdido tempo e dinheiro com uma espiã incompetente. Por isso, no seu retorno à França, Mata Hari foi presa em Saint-Lazare.
O clima derrotista francês a transformou em verdadeiro bode expiatório. Os interrogatórios nunca chegaram a demonstrar se Mata Hari realmente teve a capacidade de fornecer valiosas informações para franceses ou alemães. Durante seu julgamento, não foi provado nenhum ato criminoso e seus autos registravam que a ingênua holandesa seria uma das maiores espiãs do século. Por fim, sua condenação por espionagem acabou sustentada pelo espírito de uma mulher livre e suas paixões.