Pré-Socráticos

O período pré-socrático ou cosmológico é marcado pela preocupação com a origem das coisas. Compreende a escola jônica, pitagórica, eleática e pluralista.

Os pré-socráticos procuravam por uma explicação racional da origem do universo
Os pré-socráticos procuravam por uma explicação racional da origem do universo

O período pré-socrático é um marco temporal na história da filosofia para demarcar aqueles filósofos que ou nasceram antes de Sócrates ou que eram contemporâneos a ele, mas mantinham seus pensamentos baseados nos mestres antigos e seguindo suas preocupações filosóficas. Em sua maioria, não viviam no continente grego e sim em centros afastados. Compreende a escola jônica, pitagórica, eleática e pluralista.

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As escolas e principais pensadores

A escola jônica recebe esse nome por se referir a filósofos nascidos na Jônia, colônia grega da Ásia Menor. Caracteriza-se pela pergunta a respeito da origem da natureza, para determinar o elemento que deu origem a todos os seres. Os principais filósofos jônicos são Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Heráclito. Para Tales, o elemento primordial era a água; para Anaximandro, o universo teria resultado de modificações ocorridas num princípio originário que ele chamou de ápeiron, que tem o sentido de infinito, indeterminado ou ilimitado; para Anaxímenes, a origem de todas as coisas seria modificações num princípio originário que, para ele, seria um ar infinito (pneuma ápeiron), Para Heráclito, o elemento do qual deriva todas as coisas é o fogo.

A escola pitagórica tem seu nome derivado do nome de seu fundador e principal representante: Pitágoras de Samos. Ele defendia que todas as coisas são números e o princípio fundamental de tudo seria a estrutura numérica. Ou seja, o mundo surgiu quando precisou haver uma limitação para o ápeiron e essa limitação eram formas numéricas sobre o espaço. Os pitagóricos faziam um amálgama de concepções, como era comum na época. Desse modo, embora racionais e matemáticos, os pitagóricos também baseavam suas doutrinas em concepções místicas.

Acreditavam que o corpo aprisionava a alma, imortal, e o objetivo da existência seria o de tornar a alma mais pura. A reencarnação era uma consequência desse pensamento, pois a cada vida era possível elevar mais as virtudes da alma e reencarnar-se em uma forma mais elevada. Tinham, portanto, uma visão espiritual da existência. Outros pensadores importantes dessa escola: Filolau, Arquitas e Alcmeón.

A escola eleática tem o nome derivado da cidade de Eleia, ao sul da Itália, lugar onde se situaram seus principais pensadores: Xenófanes, Parmênides, Zenão e Melisso. Caracteriza-se por não procurarem uma explicação da realidade baseada na natureza. Suas preocupações eram mais abstratas e podemos ver nelas o primeiro sopro de uma lógica e de uma metafísica. Defendiam a existência de uma realidade única, por isso são conhecidos também como monistas em oposição ao mobilismo (de Heráclito, principalmente, que acreditava na existência da pluralidade do real). A realidade para eles é única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio ou fim, contínua e indivisível.

A escola pluralista, que inclui a escola atomista e os pensadores Anaxágoras e Empédocles, tem esse nome porque seus pensadores não acreditam na existência de um princípio único que seja a origem do universo e sim de vários princípios que se misturam e formam tudo o que conhecemos. Para os atomistas, tudo o que existe é composto de “átomo” e “vazio” que em um processo contínuo de atração e repulsão constituem a realidade existente.

Contexto histórico

No século VI a.C. não havia uma clara distinção entre as áreas do saber como temos hoje – ciência, religião, filosofia e matemática, por exemplo. Por esse motivo, muitos dos filósofos pré-socráticos podiam ser também líderes religiosos, cientistas, médicos ou matemáticos.

Para entender esse florescimento cultural do século VI a.C., precisamos voltar ao século XII a.C: os reinos micênicos haviam sido destruídos depois das Invasões Dóricas; muitos aqueus se instalaram em ilhas e em costas da Ásia Menor; os jônicos fundaram cidades como Mileto e Éfeso. Por conta das condições geográficas, eles desenvolveram atividades econômicas voltadas para a navegação, comércio e artesanato. A adoção do regime monetário fortaleceu aqueles que viviam dessas atividades e se afastaram da organização social micênica que tinha seu fundamento na aristocracia de sangue.

A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfaziam mais com uma explicação mítica da realidade. O processo de transformação e de criação envolvido no desenvolvimento de técnicas levava ao questionamento a respeito do universo, se ele também não respondia a um processo semelhante.

Escola jônica

É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), litoral ocidental da Ásia Menor que as perguntas a respeito da natureza exterior do mundo se desvincularam da mitologia. Os dados da experiência sensível (frio, quente, pesado, leve, por exemplo) passaram a ser explicados de uma forma racional. Eram entendidos também como realidades em si – por isso se falava em “O quente”, “o frio”, “o pesado”, “o leve”.

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Por meio desse exercício do pensamento, os filósofos pretendiam analisá-los em relação ao todo, pois a razão parecia exigir uma unidade no lugar da multiplicidade que até então não havia sido problematizada. Os principais pensadores da escola de Mileto (ou também “escola jônica” ou “milesiana”) são Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Os pensadores dessa escola se caracterizam pela preocupação com a physis, palavra grega que pode ter o sentido de “natureza ou fonte originária”, mas também de “processo de surgimento e de desenvolvimento”.

Tales: a água como origem

Para Tales, a água era a origem de todas as coisas, mas de seus pensamentos, pouco chegou aos nossos dias, não se sabe se ele escreveu um livro e não se conhece nem um de seus fragmentos. O que se sabe sobre ele é por meio de doxografia, ou seja, o relato da sua teoria a partir da visão de quem escreveu o relato.

Sobre Tales, escreve o filósofo grego Aristóteles (Metafísica, I, 3. 983b 6):

“Quanto ao número e à natureza destes princípios, nem todos dizem o mesmo. Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser água [o princípio], levado sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive (ora, aquilo de que as coisas vêm é, para todos, o seu princípio). Por tal observar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas”.

Vemos, no fragmento acima que, para Aristóteles:

1) Tales entendia que a água era o princípio por ver que nada existe sem água;

2) O quente deriva do úmido;

3) As sementes de todas as coisas são úmidas.

Anaximandro:

Para Anaximandro, discípulo de Tales, o princípio originário seria o ápeiron, palavra que pode ser traduzida por infinito, indeterminado ou ilimitado. O ápeiron caracteriza-se por um movimento eterno. Ao se mover, os opostos se separariam e pagariam entre si as injustiças cometidas e compensando os excessos. Havia, portanto, um equilíbrio entre tudo no universo. Restou apenas um fragmento da sua obra, Da Natureza. Aqui, transcrevemos a citação que dele faz seu doxógrafo Simplício (Física, 24,13):

“Princípio dos seres... ele disse (que era) o ilimitado... Pois donde a geração é para os seres, é para onde também a corrupção se gera segundo o necessário; pois concedem eles mesmos justiça e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do tempo.

Anaxímenes:

Para Anaxímenes, último representante da escola milesiana, o universo teria se originado a partir do processo de rarefação e condensação de um ar infinito (pneuma ápeiron). Ele sintetizava as preocupações de seus dois mestres anteriores, ao mesmo tempo em que discordava de aspectos do pensamento de ambos. Ele diz:

“Como nossa alma, que é ar, soberanamente, nos mantém unidos, assim também todo o cosmo, o sopro e o ar o mantêm.”

Sobre ele, diz o doxógrafo Simplício (Física, 24, 26 (DK 13 A 5):

“Diferencia-se nas substâncias, por rarefação e condensação. Rarefazendo-se, torna-se fogo; condensando-se, vento, depois nuvem, e ainda mais, água, depois terra, depois pedras, e as demais coisas (provêm) destas.”

Anaxímenes observou que ar é um elemento sutil, invisível, mas presente em todos os lugares. Porque respiramos, ele entendeu que o ar é a causa da nossa vida. Até mesmo os outros elementos derivam dele: a terra seria o ar em estado mais condensado e o fogo o ar em estado menos condensado.

*As citações de Aristóteles e Simplício foram citadas como aparecem na obra Os Pensadores, Os Pré-socráticos. (Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.I, agosto 1973.)


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Por: Wigvan Junior Pereira dos Santos

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