A felicidade para Sócrates

A felicidade para Sócrates está relacionada com a virtude. Esta pode ser interpretada como um meio para alcançar a felicidade ou como a própria felicidade.

A felicidade para Sócrates estava associada à virtude
A felicidade para Sócrates estava associada à virtude

 A felicidade é um tema que está na ordem do dia. Livros, cursos e até programas de TV apresentam reflexões sobre a felicidade, e alguns propõem mesmo pequenas fórmulas de como alcançar uma vida feliz. Esse tema, no entanto, não é uma novidade. Muitos filósofos, no decorrer da história, trataram dele. Vejamos como a felicidade era entendida por Sócrates.

Sócrates: felicidade e virtude

A partir da leitura do diálogo “Protágoras”, que narra o encontro de Protágoras com Sócrates quando este devia ter aproximadamente 35 anos, Terence Irwin (1995)* defende que a virtude (em grego, areté, palavra entendida como “excelência moral e política”) é um caminho para a felicidade, independentemente da noção que se tenha do que é a felicidade. Assim, todos agem de acordo com aquilo que julgam ser “bom”, independentemente da noção que se tenha do que é bom, pois desejar aquilo que é bom é o único meio de alcançar a felicidade.

A felicidade para Sócrates é a obtenção do maior prazer possível e disponível ao ser humano; este agiria de forma a obter o máximo prazer. Irwin entende que, segundo o diálogo “Protágoras”, nós tendemos a considerar aquilo que nos dá prazer como algo “bom”, mas o inverso não ocorre: não consideramos uma coisa prazerosa porque ela é boa.

Gregory Vlastos* (1994, p. 298) parte de outros diálogos de Platão, “Apologia de Sócrates” e “Críton”, e defende que a virtude é suficiente para alcançar a felicidade, mas isso não significa a inexistência de outros componentes da felicidade. Para isso, ele cita os seguintes trechos de “Apologia*”:

Sócrates: [...] Se eu descobrir que ele não possui a virtude, mas a diz possuir, eu o repreenderei por atribuir o menor valor ao que tem o mais alto valor e dar o maior valor àquilo que é inferior” (Platão, 1995, 29 e 5- 30 a 2).

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Sócrates: [Eu os exorto] a não se importar por suas pessoas ou suas propriedades mais que pela perfeição de suas almas [...] pois a virtude não vem da riqueza, mas da virtude vem a riqueza e todas as outras coisas boas para o homem, tanto para o indivíduo quanto para o Estado” (Platão, 1995, 30 a 8- b 4).

Como podemos ver, nessas passagens não está expresso que outros bens, que não a virtude, não podem fazer com que nos sintamos felizes. O que Sócrates defende é que esses bens, como a riqueza e as propriedades, não devem ser mais importantes do que a busca pelo aperfeiçoamento moral. Este sim é a única fonte de real felicidade.

Para Aldo Dinucci* (2009, p. 261), Irwin e Vlastos desconsideram a relação que existe entre o bem moral socrático, a virtude, e os bens não morais: a virtude é o único e verdadeiro bem; assim, os bens não morais são como consequências do bem moral. Assim, Dinucci defende que os bens não morais não podem ser relacionados com a felicidade de alguém, ou seja, não são meios para alcançá-la nem “componentes” da felicidade.

Ao agir de forma virtuosa, a pessoa relaciona-se com o mundo de uma forma que usará todas as coisas disponíveis de forma justa e boa, independentemente de quais sejam – assim, seria feliz. Ou, em outras palavras, algo é bom para o ser humano quando ele o usa moralmente.

Resumindo:

Vimos que é possível fazer três leituras da relação entre felicidade e virtude para Sócrates. Irwin defende que a virtude é um meio para alcançar a felicidade; Vlastos defende que a virtude é um dos componentes da virtude; e Dinucci defende que há uma identidade entre a felicidade e o agir virtuoso.

Referências:

DINUCCI, A. L. A relação entre virtude e felicidade em Sócrates. Filosofia Unisinos, São Leopoldo, v. 10, n. 3, p. 254-264, set./dez. 2009.

IRWIN, T. 1995. Plato’s Ethics. New York, Garland, 536 p.

PLATÃO, Apologia de Sócrates. In: ___. Diálogos. São Paulo, Nova Cultural, 2004.

VLASTOS, G. 1994. Socrate: Ironie et Philosophie Morale. Paris, Aubier, 357 p.

  

Por: Wigvan Junior Pereira dos Santos

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